Renata CCS 12/12/2013O poder de persuasão de Jane Austen em nos envolver e emocionar.
PERSUASÃO foi o último livro escrito de Jane Austen, tendo sido publicado postumamente. A obra narra história de Anne Elliot e do Capitão Frederick Wentworth. Anne é filha de um baronete fútil em delicada situação financeira e Frederick um jovem humilde sem muito a oferecer, além de sua paixão por Anne. Aos 19 anos, Anne se apaixona por Frederick e recebe seu pedido de casamento, porém rejeita-o. A jovem é persuadida por sua grande amiga, Lady Russell, e também por seus familiares, que ele não seria uma boa escolha, principalmente por questões financeiras. Oito anos depois, Anne vê Frederick de volta em sua vida - e com ótimas finanças - tendo que suportar as tensões que essa situação provoca. Eles se reaproximam, mas nenhum sabe o quanto o outro está curado ou se já se perdoaram.
Anne possui uma personalidade doce e amável, muito tímida, porém perspicaz em seu silêncio. Com sua alma caridosa, raramente faz prevalecer suas vontades e acaba sempre priorizando as necessidades e desejos daqueles que estão a sua volta. São muitas as qualidades que sua família nunca reconhece e é frequentemente ofuscada pela figura imponente da irmã mais velha, Elizabeth, ou pela hilária irmã caçula Mary. Já Frederick é um perfeito cavalheiro. Embora magoado, ele tenta ser cordial em sua distância e aparente indiferença. Em certo ponto da narrativa, ele usa de sua nova condição para chamar a atenção de Anne, para mostrar o quanto ela perdeu, mas mesmo nesses momentos ele não deixa de demonstrar em seu olhar a confusão de sentimentos que o cerca.
Em um primeiro momento, a história pode soar desinteressante e até beirar o lugar-comum, mas obra é permeada por questões dignas de nota: a elitização e discrepância social, o conflito entre obrigações sociais e desejos internos, as diferenças nas questões do amor entre homens e mulheres, a persuasão em si, a vaidade, a hipocrisia e o jogo de aparências. A narrativa de PERSUASÃO é rica em detalhes e repleta de bom humor, e Jane Austen mais uma vez descreve com uma leve dose de ironia a sociedade inglesa do século XIX.
A carga de emoções presente em PERSUASÃO foi o suficiente para me encantar! A trama é uma avalanche de sentimentos, seja na descrição de uma simples troca de olhares ou de um diálogo breve, cada detalhe é rico em amor, puro, verdadeiro. Novamente fiquei maravilhada com a forma ágil e direta da autora narrar os fatos. A simplicidade e paixão em sua escrita são incríveis, e nos faz perceber o motivo pelo qual a autora é aclamada ainda hoje. Não é a toa que Austen é considerada a versão feminina de Shakespeare! E eu simplesmente adoro o modo como os relacionamentos aconteciam naquela época, o cavalheirismo, a troca de correspondência, o jogo de sedução. E este livro teve tudo isso para me agradar.
Embora ORGULHO E PRECONCEITO ainda permaneça como meu preferido, a carta de amor de Frederick para Anne, encontrada no capítulo 23, é a correspondência mais linda que já tive a oportunidade de ler e, sem dúvida, está entre as mais belas declarações de amor da literatura mundial! Não resisti e a transcrevo aqui, no original, porque ainda não encontrei nenhuma tradução que consiga fazer justiça as palavras de devoção do Capitão na sua redescoberta do amor que ainda sentia por Anne.
Para concluir, só posso dizer que gostei muitíssimo da obra, e está mais que claro o poder de persuasão de Jane Austen em nos envolver e emocionar.
Carta do Capitão Frederick Wentworth para Anne Elliot:
“I can listen no longer in silence. I must speak to you by such means as are within my reach. You pierce my soul. I am half agony, half hope. Tell me not that I am too late, that such precious feelings are gone forever. I offer myself to you again with a heart even more your own than when you almost broke it, eight years and a half ago. Dare not say that man forgets sooner than woman, that his love has an earlier death. I have loved none but you. Unjust I may have been, weak and resentful I have been, but never inconstant. You alone have brought me to Bath. For you alone, I think and plan. Have you not seen this? Can you fail to have understood my wishes? I had not waited even these ten days, could I have read your feelings, as I think you must have penetrated mine. I can hardly write. I am every instant hearing something which overpowers me. You sink your voice, but I can distinguish the tones of that voice when they would be lost on others. Too good, too excellent creature! You do us justice, indeed. You do believe that there is true attachment and constancy among men. Believe it to be most fervent, most undeviating, in F. W. I must go, uncertain of my fate; but I shall return hither, or follow your party, as soon as possible. A word, a look, will be enough to decide whether I enter your father’s house this evening or never.”