SamuellVilarr 07/12/2021
A Consciência das Palavras, Elias Canetti.
Este verdadeiro memorial de repertório, que apreende e transmite um conteúdo que perpassa desde os minuciosos e específicos caminhos do escritor e sua jornada, utilizando no início um exemplo que traduz para o autor uma personalidade dissonantemente magnânima e cuja obra e, justamente a própria pessoa do escritor, o influenciou de maneira devastadora, de modo que o capítulo que ele desenvolve a respeito deste autor, ou destes autores, demonstra com exatidão a tamanha admiração e aprendizado retido por ele, também a transmitindo para o seu público leitor de modo tão tangível que ele possa evidenciar, da mesma forma, a grandeza daquele determinado autor, sendo este tanto Karl Kraus, quanto Tolstói ou Buchner. Além disso, a profundidade dos temas tratados, a argúcia argumentativa do autor para com os textos e autores referidos, tudo isso soma-se na amplitude voraz e na capacidade de perspectiva de um livro quanto este, cuja riqueza de material demonstra-nos não somente uma exposição biográfica, literária e analitica de certos autores como Kafka ou Tolstói, também revelando os aspectos que concernem a sua própria experiência com o autor e enquanto a sua influência enquanto escritor propriamente exercida pelos mesmos, mas também nos traz uma lição ou melhor, uma formulação que prediz uma maneira de lidar com certos assuntos e questões a partir daquilo que foi apreendido em certos autores, como por exemplo, a capacidade singular de Kafka de diminuir-se, o seu processo constante de metaformoses, a caracterização da sua pessoa, a necessidade que nutria pela criação literária e entre outras coisas como as tentativas de expor o seu mundo e sobretudo, os seus tormentos de toda a vida diretamente e indiretamente em sua literatura, de forma em que a mesma se tornava si próprio, inclusive de tal modo que esta até o ultrapasse em forma de eternidade; assim como a passagem pelos diários de um médico que vivenciou a conturbação desastrosa provocada pela bomba atômica de Hiroshima e todas as mazelas provenientes disso em forma de diário, as minúcias sendo registradas como forma de apreender o sofrimento daquele desastre irreversível, uma exposição que se tornava uma morte, uma situação pedante cujo fim não seria outro senão a sepultura, mostra-nos disso e entre outras coisas como o próprio Hitler e as experiências registradas pelos os que estavam ao seu lado e sobretudo, os seus planos e motivações, Confúcio e a questão da eloquência em seus diálogos e sua personalidade sólida que tanto admirava o autor, ou então, os próprios discursos proferidos em Berlim e outros em Munique que tratam das mais diversas características do pensamento do autor, que só reforça a estrutura e a implementação do conteúdo do livro, enfim, muitas coisas poderiam ser extraídas, comentadas e principalmente, elogiadas a respeito deste livro, digo-lhe que vale de maneira desmedida e indispensável, a sua leitura atenciosa e considerável, pois depois perceberá que este merece.