Guilherme 28/11/2015
Conspiratório, mas com alguns toques de verdade.
A Janela de Overton foi escrito pelo americano Glenn Beck (apresentador de TV e rádio, comentarista político e empresário) e publicado em 2012. Trata-se de um thriller conspiratório onde agentes políticos e econômicos intentam criar uma nova ordem mundial e um grupo nacionalista se insurge contra o controle e manipulação.
Embora as maiores críticas tenham sido sobre seu teor político ou americanizado, acredito que a problemática do livro seja mais seu “mal de Best-seller”. Não que todos deste gênero sejam livros fracos, mas a etiqueta sempre gera desconfiança, posto que em grande parte é composto por obras de linguagem bastante simples, mas com personagens nem sempre fascinantes e cenas e situações um tanto clichezadas, previsíveis... Este livro possui alguns desses elementos, que o tornam uma literatura um tanto aquém de ser considerada uma grande obra.
Apesar de ter uma narrativa agradável, faltou a Glenn certa criatividade na construção de cenas, diálogos e mesmo personagens. Mesmo Noah Gardner, protagonista, é insosso, não cativa, principalmente por ser alguém tão ingênuo e jogral. Talvez seja Noah um ótimo exemplo de como o amor é cego, mas incomoda o personagem ser alguém tão manipulável, o que é uma contradição frente ao meio em que ele trabalha, e irônico, uma vez que a história se debruça bastante sobre como as pessoas são facilmente manejadas.
Mas longe deste livro ser alguma frustração para o leitor, em minha opinião. Glenn Beck não é nenhum mestre literário, porém tem uma narrativa concisa e cria uma ficção que se desenrola de maneira pelo menos convincente. Acima de tudo, toda a noção que ele nos passa sobre manipulação de massas e interesses e ações veladas cometidas pelo governo e grupos ocultos de fato merecem destaque no livro como o ponto de verdade, embora o grau seja discutível.
A manipulação da opinião pública é tema destacado na história, revelando-se o conceito que dá título ao livro. Em síntese, "Janela de Overton" é um sistema que permite o direcionamento da opinião pública cada vez mais no sentido que convém ao Governo ou a certo grupo, aproveitando-se do reflexo de fatos ou momentos. Um exemplo é o Poder Público conseguir apoio popular para adotar medidas extremamente repressivas contra a criminalidade em decorrência de um ato terrorista. Medidas essas que seriam consideradas autoritárias pelo povo em um momento normal, antes que qualquer atentado tivesse maculado a sociedade.
Toda parte conspiratória da história pode soar exagerada aos mais descrentes, mas é meramente o campo ficcional do livro. De qualquer maneira, Glenn traz uma conexão com a realidade bastante interessante em sua obra, que serve, no mínimo, como um importante alerta para que se note e descubra a maneira como em dado governo e país, pode seu povo estar numa situação de ignorância. Na maioria dos governos mundo a fora, inclusive no Brasil, é comum a administração pública se voltar mais a benefício de certos grupos políticos e econômicos do que à democracia em si, embora revestida desta aparência. E talvez o mais incômodo não sejam nem as corrupções e artimanhas políticas que presenciamos e nos indignam, mas aquelas que sequer temos conhecimento para podermos nos proteger.
Trata-se de um bom livro que fica para o leitor mais sua denúncia do que uma grande história. Me pareceu que Glenn fez uso de um roteiro qualquer apenas para expor toda sua concepção política, deixando um desfecho não muito conclusivo para história. Muito longe de ser o George Orwell de sua época, Glenn Beck, pelo menos, nos traz relevante proposta de debate sobre os moldes da opinião pública e controle das massas, embora seja difícil dar valor a toda sua retórica nacionalista. Restou até um pouco constrangedor comprar a ideia de certos personagens serem os mocinhos da história por terem como energia de luta o patriotismo e manutenção do “way of life” norte-americano.
Ademais, interessante notar que, se Glenn Beck questiona a manipulação da opinião pública quando direcionada a certa opinião sem olhar para o mérito, é uma contradição sua obra ser vendida como um Best-seller, a famosa literatura de massa, onde a mera fama, a propaganda sensacionalista de que todos estão lendo aquele livro, busca criar um comportamento desejado pelas editoras, de convencer as pessoas de que se trata de uma obra que deve ser consumida.