maria eduarda 14/05/2024
Por que ninguém, além de mim, sente ser olhado com aversão?
Quando comprei memórias do subsolo ano passado e li a primeira parte do livro, acreditei que esse se tornaria facilmente um dos meus favoritos, gostei da escrita do autor e das reflexões acerca da vida, dos nossos comportamentos e desejos e como já comentei antes, sentia que doistoiévski seria minha clarice lispector, só que homem e russo.
logo após, abandonei a leitura.
recentemente, decidi lê-lo novamente com a pretensão de finalizar e a experiência nas primeiras 50 páginas foram de pura diversão e êxtase - com concordâncias e discordâncias nesse meio. rabisquei praticamente todas as páginas e o personagem acima de tudo me arrancava gargalhadas com o quanto ele é dramático, rabugento e hipócrita, como que até então de forma despretenciosa ele demonstrava ser melhor e mais inteligente que qualquer outra pessoa. me identifiquei com o homem do subsolo e acredito, como disse o wercton, que somos todos um pouco ele.
?embora tenha afirmado, no início, que a consciência, a meu ver, é a maior infelicidade para o homem, sei que ele a ama e não trocará por nenhuma outra satisfação?. se eu tivesse acabado o livro ali na primeira parte, teria ficado satisfeita com o que eu esperava e queria do livro. com o que eu esperava e queria, importante repetir.
e então me veio a propósito da neve molhada e há muito não me sentia tão desconfortável, agoniada e incomodada ao ler um livro. o personagem que eu havia criado apego e até me enxergado ali, se tornou extremamente babaca e repugnante e extremamente coitado, eu só queria a todo instante que acabasse logo. ver ele tão desesperado por atenção e ser rejeitado a todo instante estava me dando no nervos, ele sabia que era apartado e sabia que não gostavam dele e sua forma de reagir a isso era com seu ar de superioridade e a ânsia por pontuar o que ele via como defeito nos outros, como a pele com acne ou a falta de inteligência. me vi tentando e colocando o personagem em outra perspectiva, até numa de coitado pra poder manter o sentimento que eu construí na primeira parte, tentando anular a sua canalhice e toda sua forma de lidar e viver sua vida para querer gostar dele, por mais que eu entendesse o quão mesquinho se poderia ser e a busca constante por ser enxergado, talvez até mesmo por tédio e respeitar tudo isso, eu queria gostar dele e não tentar analisar tanto tudo o que viveu não faria com que eu alcançasse esse sentimento. o encontro com os amigos foi de um desconforto pra mim, meu deus! estava até cogitando dar menos estrelas porque não seria suficiente qualquer opinião ou reflexão que eu tivesse a respeito, a agonia que estava sentindo ao ler se sobressaía. e então me apareceu liza e o monólogo final de quando ela vai a casa dele trouxe de volta o que eu estava precisando pra me satisfazer com as expectativas, ainda que eu finalizei querendo mais e algo diferente. acho sempre interessantíssimo poder julgar e analisar outro ser humano e temos sempre esse ?dom? tão internalizado em nós - pois é sempre mais fácil dá o veredito e denominar qualquer outra pessoa que não nós mesmos - que confesso que a experiência com memórias do subsolo foi inconstante e desafiadora, o que me deixa zangada também.
?(?) e ela mesma sabe que é ruim, e o seu coração se congela e se atormenta, mas ela ama; é tudo por amor. e como é bom, depois de uma briga, fazer as pazes, ela mesma se culpar perante ele, ou perdoar! e ambos se sentirão tão bem, tão bem!
(?)
e se já houve amor, se se casaram por amor, por que há de este amor acabar?! não se pode mantê-lo? (?)
(?) é só amor e ser corajoso.?