Priscilla 23/04/2012Ganhei o livro de presente, o que foi uma coisa muito boa, pois certamente demoraria a comprá-lo porque nunca tinha lido nada do tipo Steampunk e preferia me manter no caminho das coisas que conheço e sei que são boas. Bom, isso é uma grande besteira de se fazer e grande prova disso é o fato do livro ter me agradado.
Vamos aos contos dessa coletânea escrita somente por mãos femininas:
Escrito no tempo – Lyra Collodel
Mary é uma mulher um tanto rebelde para sua época. Ela odeia usar espartilho e sonha com o tempo onde as mulheres poderão usar as roupas confortáveis dos homens. Karl, seu amigo de infância, por quem é secretamente apaixonada, lhe apresenta uma máquina que é capaz de voltar e avançar no tempo, porém ele nada pode alterar. Ele precisa da ajuda de Mary para consegui-lo. Apaixonada, ela concorda em ajudá-lo, não sabendo que conseqüências isso acarretaria.
O conto é bem interessante, eu gostei de Mary e de seu espírito “rebelde” – o que Karl também gosta. Um bom conto para o início do livro.
Sem mais finais felizes – Tatiana Ruiz
O conto que mais gostei no livro.
Uma garota que utiliza uma capa vermelha caça os lobos de metal utilizados pelo governo e com a ajuda de um caçador procura a vingança pela morte de sua avó.
Isso te lembra alguma coisa, não? Pois é, o conto todo em si é uma ótima adaptação de Chapeuzinho Vermelho para a era do vapor. Gostei bastante.
O poeta, a donzela insolente e o livro do tempo – This Gomez
Gianine vive em uma casa com o garoto Chopim, sobrinho do professor Monteiro, um físico experimental. Esses três carregam um segredo, um livro escondido dentro de um rio, que não é um livro qualquer, atraindo a curiosidade de Manuel, um poeta que se mostra apaixonado por Teresa Gianine.
O conto parece bem simples até que chegamos ao final. Gostei, fiquei desejando que o conto continuasse.
Ha-mazan – Lidia Zuin
Izobelle é capitã do Grande Ignatius, um navio que vaga por Hali, o grande oceano, tendo como tripulantes somente mulheres que procuram a liberdade, fugindo da prisão imposta a elas pelos maridos e pela sociedade.
Conto muito bom. É cheio de detalhes, com nomes diferentes de um novo mundo. Bem rica a imaginação da autora.
O terceiro reinado – Georgette Silen
O Imperatriz Isabel é o mais novo trem relâmpago instalado na capital do orgulhoso Brasil de Santa Cruz, país que possui grandes recursos tecnológicos. Em sua viagem de inauguração, do Rio de Janeiro a Itabuna na Bahia, prometendo cumprir o trajeto até três vezes mais rápido do que o habitual, teria como tripulantes a própria regente do reino, Isabel, juntamente com o consorte real. Moncorvo Filho, reitor da FAMET – Faculdade de Medicina e Tecnologia do Rio de Janeiro, convence o maquinista-chefe, Francisco Ignácio Zander, a utilizar, em vez dos dois motores, todos os quatro, fazendo com que a inauguração seja um grande sucesso, chegando ao destino antes do estipulado, deixando todos ainda mais maravilhados com aquela nova tecnologia. Porém, ao atingir uma velocidade incrível, acontece algo nunca previsto.
Conto muito bom, um mistério bem interessante. Fiquei imaginando o que realmente aconteceu... leia e depois me fale o que você acha.
A dama dos corvos – Amanda Reznor
Anatole Zola é um francês vivendo na Belle Époque, período de expansão cultural francesa. Ele faz parte de uma sociedade conhecida como Le Grand Vampires, formada por homens distintos que buscavam grandes inovações. Anatole tenta criar a máquina do tempo, mas todas as suas tentativas falharam, até que ele conhece uma dama inglesa em um dos coquetéis da sociedade, e em meio à conversa, descobre que a moça é praticante de ornitomancia, predição do futuro por meio do canto e do vôo das aves. Ele é convidado para a casa da dama, onde ela prevê com corvos seu futuro. A predição muda completamente sua vida, assim como a sociedade dos Grand Vampires.
O conto é bem sinistro, do jeito que me agrada. A forma como a trama evolui de acordo com a predição horrenda dos corvos é bem interessante.
Sonha o corvo um sonho negro – Leona Volpe
A protagonista deste conto é casada com um homem respeitoso, íntimo de Don Matrice, homem que possui um famoso teatro excêntrico. O marido tanto quanto Don Matrice são amantes da nova tecnologia, com máquinas que incrivelmente conseguem gravar as vozes das pessoas! Ela é levada a acreditar que está sendo traída, que seu marido não é muito fiel e o mesmo tenta mostrá-la que está errada.
A história tem grandes referências ao conto de Edgar Allan Poe, O Corvo. Ainda não li esse conto, mas fiquei curiosa.
O conto é interessante, apesar de parecer simples, gostei do final. Acho que se tivesse lido O Corvo gostaria ainda mais.
Homérica Pirataria – Dana Guedes
Roger, o ganancioso capitão do Dama de Ferro sai, com sua tripulação, à procura do maior tesouro já existente nos mares: O Mapa de Hermes. O Dama de Ferro – que tem esse nome por ser composto de grandes placas metálicas – encontra em seu caminho as temidas Nereidas, metade humanas, metade máquinas que revelam a provável localização do tesouro.
O conto parece ser o meio de uma história. Começamos no meio da viagem, onde toda a tripulação já passou por alguns perigos e o Capitão guarda alguns segredos e no final ficamos envolvidos, como se a continuação pudesse vir em um próximo conto. Gosto de contos assim, mas fico triste em pensar em que não teve ou terá propriamente um final.
O pena e o imperador – Nikelen Witter
Pena é um homem da ciência, conhecido e comentado por todos os moradores do Rio de Janeiro. Ele tem dois hábitos misteriosos: um deles é subir todos os dias até a igreja, onde sempre entra, tendo missa ou não. O outro era se encontrar com o Imperador, o qual descobrimos que deve a vida ao doutor Pena.
Gostei muito da narração da autora. A história já é interessante, mas a narração nos faz prender ao conto, lendo sem parar e assustando quando acaba.
As irmãs Taylor – Verônica Freitas
Joan e Juliet Taylor herdaram o grande império de máquinas do pai. Joan é quem nos narra a história, ela faz os desenhos das novas invenções enquanto Juliet é a irmã mais agressiva, ambiciosa, sempre a procura do dinheiro e do poder. Essa última acaba descobrindo algo de estranho com um dirigível de monitoramento, onde a tripulação não dava sinais de vida e o mesmo exibia uma forma estranha, tomada pelo que parece ser uma nova matéria, um novo elemento. Joan pede a Juliet que não vá, mas esta não escuta e parte com alguns homens para ver o que aconteceu. Ela não volta e Joan se vê obrigada a ir atrás da irmã. A encontra, mas percebe que ela está mudada, que tem um novo gosto por... sangue.
Sim, vampiros na era do vapor! O conto é bem interessante. Me deixou meio confusa, meio perdida em algumas partes, mas acho que isso não se deve a trama, ou deve. Realmente não sei. Depois tenho que lê-lo novamente para tirar a dúvida.
Diário de bordo de Lidia Saint Clair – Bia Machado
Lidia casou-se com Teodore por causa de dívidas do pai, tornando-se a Sra. Saint Clair. Logo após o casamento, parte com o marido de barco, viajando pelo mundo, sem data para retorno. Ela odeia o casamento, odeia Teodore, odeia o barco, odeia tudo. Porém, a visão de seu marido voando em uma máquina nunca vista é o começo da transformação do ódio em admiração e amor.
O menor conto do livro. Esse é outro no qual a narrativa me agradou bastante. É muito gostoso de ler o conto e a história é bem envolvente.
Encantamento Engenhoso – Renata Galindo Neves
Jennifer é uma bela mulher com a aparência pura e inofensiva, mas só a aparência. Ela está envolvida com Michel, um rapaz sedutor, bonitão, mas muito ambicioso, beirando ao sádico. Ela tem o único objetivo de descobrir até que ponto sua ambição com as máquinas pode chegar e o delatar a Mr. Reblon, um cientista que conhece desde criança, para que possa prender Michel, o que se mostra uma tarefa árdua.
O conto é bom. As máquinas e os acessórios usados são criativos e bem interessantes. O papel de Jennifer como mulher é bem elevado na história.
A arma – Lívia Pereira
Louis é uma arma. Ela tem os braços e pernas feitos de metal com armas acopladas que ajudam durante a guerra. Seu único trabalho é obedecer e matar, mas ao encontrar uma criança vagando pelos corpos, lembra que apesar de tudo, ela é um ser humano.
O conto é bonito. Foi uma ótima história para o fechamento da antologia. Gostei da forma como a autora salienta o uso do ser humano como um mero objeto.
E chegamos ao fim de Steampink. Espero que tenham ficado curiosos com o livro. Vale ressaltar o ótimo trabalho da Estronho com a diagramação. É muito mais gostoso ler um livro com as páginas diferenciadas, como a Estronho faz. Há alguns erros de edição, mas muito poucos, nada que nos faça brecar na leitura e perguntar: mas o que é isso?
Meus parabéns às autoras e a Estronho, o projeto ficou maravilhoso. Leiam e se deliciem também.
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Policial da Biblioteca
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