Miss Star Butterfly 26/03/2024
Clássico contemporâneo
Que experiência de leitura inimaginável. Me faltam palavras para descrever a qualidade e a complexidade dessa história. Estou apaixonada por cada aspecto desse livro, é impressionante encontrar uma história com um público alvo tão jovem que faça uma crítica tão certeira e direta ao capitalismo, como Jogos Vorazes faz, e pra mim, esse terceiro livro comprovou isso ainda mais, já que no fim de tudo, o verdadeiro inimigo não é um indivíduo ou governo específico, e sim, um sistema de corrupção e opressão que sempre estará fadado a se repetir. Ou seja, acontece uma crítica explícita a estrutura de tudo, uma linha que muitas distopias tentam seguir e acabam falhando. Tudo nesse livro é desesperador, os crimes cometidos pela Capital e até mesmo pelo Distrito 13 são abomináveis, e infelizmente, realistas, envolvendo tráfico, sequestro, terrorismo, tortura e todo o tipo e violência mesmo que fora de uma arena. A Katniss é uma protagonista genial, ela é poderosa e icônica, mas principalmente uma criança que foi destruída, usada e enfrenta sérios transtornos psicológicos, dependendo de remédios para se manter inteira assim como Peeta, Finnick e tantos outros personagens. A saúde mental é um tópico que permeia esse livro do começo ao fim, (como também acontece em outros livros da trilogia) abordando depressão, ansiedade, ataque de pânico, estresse pós-traumático, dependência e suicídio. O livro não tem medo de ser visceral, de ser chocante mas tudo isso com um propósito bem definido e toca nesses assuntos sensíveis sem rodeios. Talvez em 2011 esse fosse um livro sobre um possível futuro, mas em 2024, é um livro sobre o presente e esse é o tipo de leitura que te dá um choque de realidade a respeito do mundo em que vivemos e de como as pessoas ao nosso redor estão vivendo. As relações românticas, fraternas, familiares são todas apaixonantes e é impossível não se apegar e sofrer com vários desses personagens principalmente na reta final. Os diálogos são fenomenais, principalmente os monólogos da Katniss que me deixaram refletindo até agora e a resolução dessa história toda, apesar de agridoce, é satisfatória, porque nossa garota em chamas consegue escapar de todo esse teatro sanguinário para fazer algo maior. As reviravoltas e subtramas são de cair o queixo, quando você pensa que nada mais tenso pode acontecer, acontece de um jeito pior ainda. Eu decidi esperar para ler esse livro na vida adulta e foi uma decisão acertadíssima, porque eu consegui aprender e absorver muitas camadas e é o tipo de saga que não vai sair da minha cabeça nunca. É uma leitura válida, uma trilogia que daqui a anos vai ser considerado clássica pela forma didática e metafórica que ela dialoga com adolescentes e acho mais do que merecido. A Esperança, por mais que seja um livro que eu sei que muitos não gostam, para mim traz discussões fundamentais a respeito da desigualdade social, da sociedade midiática e consumista, dos sistemas de opressão, da saúde mental e que apresenta uma construção de universo, narrativa e personagem simplesmente impecável.. Eu, que me encontro em um estado de luto atualmente, me senti imensamente tocada pelos capítulos que trabalham, e muito bem, o tópico da perda. Faça um favor a si mesmo e leia Jogos Vorazes.