Bruna Fernández 24/02/2012Resenha para o site www.LivrosEmSerie.com.brAo contrário de quem já conhecia o livro Acima de qualquer suspeita, e teve que esperar alguns longos anos pela continuação e saber o que aconteceu com Rusty e Tommy anos depois daquele primeiro julgamento, tive a oportunidade de emendar um livro no outro. Isso é bom pois ainda estava com a história do livro anterior fresca em minha mente e isso ajuda bastante na hora de perceber padrões e fazer ligações mais rapidamente.
O inocente se passa mais ou menos 20 anos depois de Acima de qualquer suspeita, Rusty tem agora 60 anos e seu filho, Nat, já é um jovem que frequenta a faculdade e – para o abismo de todos, inclusive do próprio personagem de Nat – resolveu estudar Direito. Rusty e Barbara continuam casados e voltaram a morar juntos, depois de ela ser diagnosticada como bipolar e começar a tomar um monte de remédios. Um dia, porém, Barbara amanhece morta. Rusty, então, demora 24 horas para notificar família, amigos e até mesmo a polícia sobre a morte de sua esposa. A morte dela é dada como natural, pois ela tomava muitos remédios e sua família tinha histórico de problemas cardíacos.
Eis então que aparece Brand, um subordinado no nosso já conhecido advogado Tommy Molto, insinuando que a morte de Barbara não foi natural e que, na verdade, Rusty a matou. Com os fantasmas do último julgamento contra Rusty, anos atrás, Tommy é precavido e decide então formar um caso sólido antes de indiciar Rusty novamente, pois saber que sua reputação está em jogo. Bem parecido com seu antecessor, não é? O inocente segue uma trama parecida, porém tem alguns elementos diferetes. Igual pois temos novamente a “guerra” travada entre Rusty e Tommy e, novamente, Rusty age como um babaca que, mesmo aos 60 anos, tem um novo caso extraconjugal. É até possível compreender suas motivações e a situação da personagem que é afinal, humano. Entretanto, é impossível não xingar e chamá-lo de burro no início da trama.
Já nas diferenças, O inocente supera o livro anterior. Dessa vez a história não é contada somente por um ponto de vista, temos quatro pontos diferentes: o de Rusty Sabich – o personagem principal; o de Tommy Molto – advogado que abre o caso contra Rusty novamente; o de Nat – filho de Rusty e o de Anna – uma jovem que trabalhou com Rusty durante um tempo enquanto ele era juiz. Isso torna a narrativa ainda mais interessante pois o leitor ganha uma visão mais ampla do que se passa internamente em cada um desses personagens em determinado momento. Outra diferença que agregou bastante foi o fato da narrativa ser em tempo psicológico, ou seja, sem estrutura linear de começo meio e fim. Na primeira metade do livro vamos pulando de data em data antes de chegar ao novo julgamento e então seguir linearmente até o final. Isso pode confundir um pouco mas no começo de cada capítulo temos marcos de algumas datas de eventos principais em uma linha temporal para situar quando aquele dado capítulo se passou. Detalhe muito bem pensado que fez toda a diferença na minha leitura.
Outro fato que eu achei muito interessante no livro é que, além de todo o suspense que envolve a morte de Barbara e o que realmente aconteceu com ela, a história foca bastante nas emoções e no relacionamento humano. Talvez por “enxergarmos” pelos olhos de quatro diferentes personagens, conseguimos ir mais fundo em suas emoções e isso deu um tom realístico ao livro. Fora a impressão de que nós leitores sempre sabemos mais do que os personagens, pois, ao contrário de alguns deles, temos a informação sobre a identidade do verdadeiro assassino de Carolyn no livro anterior, nos dando a possibilidade de entender algumas conversas e pensamentos nas entrelinhas. Por isso, extremamente recomendo a leitura de Acima de qualquer suspeita, antes da leitura de O inocente. Os dois livros estão muito bem amarrados e você vai aproveitar muito mais de ambos!