Tuca 02/07/2021“- Tríade feminina (...)
- Há, em muitas culturas, referências a três faces femininas, assim como o cristianismo apresenta a Santíssima Trindade... podemos encontrar na cultura grega, a figura das fiandeiras, as moiras, que, segundo acreditavam, teciam o destino dos mortais. Os nórdicos têm as Nornas, que representam o passado, o presente e o futuro, elas também seguram o fio das vidas dos mortais. Os africanos têm as Iá-Mi-Oxorongá, que são chamadas de Feiticeiras Ancestrais e que guardam, em recipientes de barro, o destino dos mortais. Para os celtas têm vários significados, neste caso, o mais forte, eu acho, é aquele que representa as três faces ou fases da vida da mulher, associando-as a fases da lua, assim, mulher e lua são parte uma da outra e que também são associadas às deusas: virgem, mãe e anciã.”
A criação cristã de Sara a conduziu muito cedo a um casamento com César, um médico, que sua mãe considerava como um bom partido, mas os olhos e coração atentos de seu pai Heitor sabiam que não era amor aquilo que sua filha sentia pelo marido, e que um homem ciumento como aquele não traria felicidade para sua menina. A intuição de Heitor parecia mais uma profecia, e alguns anos depois, Sara era uma moça encarcerada em um casamento abusivo, oprimida não apenas pelo marido, mas também pelo sentimento de culpa religiosa que lhe assombrava cada vez que tentava se rebelar.
A busca pelo passado de sua família a levou a um convento onde uma de suas antepassadas havia sido aprisionada a mando do próprio pai por ter comportamentos considerados desviantes e imorais. Nessa visita, uma marca desconhecida surge no ombro de Sara – um triskle – e junto a ela, um jovem doutorando de cabelos negros vai despertar algo adormecido em Sara... e no mundo.
“Triskle” é uma jornada de libertação feminina. Quantas vezes fiquei com raiva de Sara ao longo da história por abaixar a cabeça perante a mãe e o marido, e quantas vezes mesclei essa raiva com a felicidade de vê-la ganhar asas com a ajuda de Lucas e de sua tia Celina e do sagrado feminino que se desenterrava de dentro dela, aflorando sua força e gradativamente lhe indicando sua missão. Esses avanços e retrocessos de Sara são compreensíveis pelas crenças que foram impostas a ela, sem espaço para questionamento, do lugar que deveria ocupar e do comportamento que deveria ter. Quebrar crenças é uma luta muito difícil, mexe com a identidade de cada um, e o abalo de uma crença que na verdade nem dela era, mas que partia de sua família, cutuca ainda mais uma noção de pertencimento. Sara realmente não pertencia ao ninho onde fora colocada. Ela pertencia onde afinal? Ou seria a quem? Seu destino estaria completamente escrito, ou ainda havia livre-arbítrio que permitiria a ela conduzir sua vida?
Esse é um romance envolto na cultura e religião de tradição celta, que questiona as opressões da Igreja e o papel da mulher historicamente imposto, sopesando a trama com uma linda história de amor, amadurecimento, mistério e descobertas do passado de uma família escolhida há gerações para uma missão ainda desconhecida. Quando eu escrevi sobre “As filhas de Dana”, comentei que ela era uma narrativa que representava aquela frase “Somos as netas das bruxas que eles não conseguiram queimar”. Em Triskle, as netas das bruxas continuam a deixar sua marca.
Triskle é o primeiro livro da trilogia “Símbolos Celtas” e continua em “Nós Celtas”. A história da ancestralidade feminina de Sara é contada em “As filhas de Dana”, trama que começa em Portugal, na época da Inquisição, e se conclui no Brasil. Não é necessário ler “As filhas de Dana” antes de Triskle (tanto que Triskle foi escrito antes de As filhas de Dana), a não ser que você goste de fazer leituras em ordem cronológica, e queira pegar todas as referências do passado dessas mulheres que são incluídas em “Símbolos Celtas”. A história da descendência de Sara é contada na série “Tesouros da tribo de Dana”, que conclui a saga dessa família.
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