@fabio_entre.livros 16/09/2019
Quando a filosofia vai além da Pedra
“A versão definitiva de Harry Potter e a Filosofia” faz parte de uma coleção idealizada e coordenada pelo professor americano William Irwin. A proposta da série é apresentar temas, conceitos e outras ideias filosóficas através de elementos específicos da cultura pop, como filmes, livros, bandas de música, programas de TV e quadrinhos. Dito isso, a presença de Harry Potter na coleção (que já debateu outras obras de fantasia, de Tolkien a Stephenie Meyer) é muito justificável.
Como nos demais volumes que compõem a série, o livro é dividido em partes temáticas – neste caso, cinco – organizadas em capítulos que reúnem artigos e ensaios acerca de determinados aspectos da obra analisada sob a perspectiva da filosofia.
A primeira parte, “A Horcrux da questão: Destino, identidade e alma”, debate o significado de alma no universo de Harry Potter (incluindo as funções das horcruxes e dos dementadores), baseando-se em diferentes concepções filosóficas. Mais adiante, analisa a questão da identidade a partir dos variados meios como ela é abordada em HP, desde o uso da poção Polissuco até a natureza dupla de Sirius Black. O 3º artigo trata do destino questionando as profecias de Sibila Trelawney e aprofunda-se em como o destino é influenciado por decisões e ações.
A segunda parte, “A mais poderosa de todas as magias”, discorre sobre sentimentos, particularmente o amor (e especialmente o platônico) nas obras de Rowling, como meio de justificar a psique de Snape, sua redenção moral e as consequências do uso indiscriminado de poções do amor. A leitura prévia de “O enigma do Príncipe” é fundamental para a compreensão desta parte – na verdade, é importante que se tenha lido toda a saga antes de ler este livro.
A terceira parte, “Observatório Potter: Liberdade e política”, utiliza Hogwarts como palco de uma ampla discussão sobre patriotismo, obrigações cívicas e, ainda, a perspectiva política de Dumbledore, Umbridge e Fudge em paralelo com a obra de Platão (em especial, “A República”).
A quarta parte, “A Sala Precisa: Uma miscelânea de Potter”, é de fato uma miscelânea, apresentando análises de temas variados tratados no universo HP, desde a sexualidade de Dumbledore e sua convicção de que as escolhas valem mais do que as habilidades até os prós e contras da educação em Hogwarts.
Por fim, a quinta parte, “Além do véu: Morte, esperança e sentido”, debate a representação da morte em HP, sobretudo no último volume, “As Relíquias da Morte”. Através de seus efeitos drásticos sobre Harry, Dumbledore e Voldemort no desfecho da série, os artigos que compõem esta parte do livro debatem as possibilidades filosóficas do além-vida usando as ideologias contrastantes de Sócrates e Heidegger sobre o tema.
Para quem é fã dos livros de J.K. Rowling esta é uma obra que vale muito a leitura; além de esclarecer vários pontos nebulosos ou ambíguos do mundo mágico de Harry Potter, é uma oportunidade de conhecer de forma sucinta os pensamentos de alguns dos maiores trouxas da história da filosofia, de Platão a Descartes.