A Arte da Ficção

A Arte da Ficção Henry James




Resenhas - A Arte da Ficção


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Raphael 22/08/2012

A Arte da Ficção
*De http://pillsplease.wordpress.com/

Como disse Stephen Koch, a maioria dos escritores adora falar sobre literatura e, principalmente, sobre escrever. Portanto não seria surpreendente grandes escritores fazerem interessantes comentários sobre a musa. Em A Arte da Ficção o americano Henry James (1843-1916) faz anotações a respeito especificamente do romance – a forma literária símbolo do século XIX por excelência -, e apesar de sua fama admite logo no início que “não deveria ter escolhido um título tão abrangente para estas poucas observações, necessariamente incompletas quando se trata de um assunto sobre o qual poderíamos ir tão longe”.

Apesar de ser o nome do livro, A Arte da Ficção é um ensaio de Henry James onde discute um artigo de Walter Besant no qual este busca instrumentalizar a ficção, criar leis claras para definir o que ela é e como deveria ser escrita. Enquanto Besant é da tradição moral do romance inglês, sob o peso inevitável da morality play, o conto moral contra o qual Oscar Wilde lutou com veemência, James procura fugir tanto da crítica que defende a arte pela arte e a que vê um dever moral nesta; ele a vê como um ensaio em si, uma tentativa de criar uma foto da realidade mediada pelo escritor, sua narrativa e personagens. O romance é um quadro do real e, não à toa, James aproxima a literatura da pintura e valoriza o ponto de vista como um dos centros da ficção, à maneira como um pintor valoriza aquilo que vê, a luz durante uma determinada hora do dia, James atesta o poder do romance exatamente na sua capacidade de ser uma impressão direta da vida, emoldurada na visão do autor. Ao mesmo tempo, admite a pintura ter uma gramática mais definida do que a literatura – nesta um mentor passaria algumas informações e sugeriria posteriormente que o pupilo faça como quiser, ou puder.

O livro é composto ainda por outros quatro ensaios, excluindo o prefácio de Daniel Piza nesta edição; Crítica, O Futuro do Romance, Guy de Maupassant e Émile Zola; e permanecem atuais, seja para valorizar a crítica num país onde ela é confundida com adulação ou press releases – o dever de um crítico continua sendo criticar -, como para incentivar o debate acerca do romance, mesmo não sendo tão combatido atualmente, ou ao menos não tanto quanto no final do século XIX, ainda resta a dúvida se Ulisses esticou esta forma aos seus limites, e se os escritores atuais estão condenados a imitar (mal, salvo raras exceções) James Joyce ou as formas anteriores a estes – seja como for, ainda há riqueza a explorar se considerarmos que a matéria-prima do romance é a inesgotável imaginação humana. Por conta disto, continua (e continuará) sendo o gênero limítrofe; “o romance é de todos os retratos, o mais abrangente e elástico. Pode se estender aonde for – apreenderá quase tudo. Tudo de que precisa é um assunto e um retratista”. Um dia podem faltar retratistas; assuntos, nunca.

Mas é nos ensaios sobre Zola e de Maupassant que a divisão de Henry James a respeito de seu moralismo, no sentido de buscar entender e esmiuçar as motivações e razões do comportamento humano, se evidencia. Enquanto os franceses possuem um estilo mais enérgico que o calculado e preciso James, há também uma tendência, principalmente em de Maupassant, a desconsiderar o aspecto psicológico de seus personagens. Seus contos frequentemente lidam com o fantástico, como em O Horla – o qual James não considera um de seus melhores esforços -, deixando o psicológico em segundo plano, sem entrar demais nas mentes de seus personagens, assim como na realidade a consciência não é aparente. James parece tratar este aspecto como obscurantismo, provindo desta energia do francês de natureza erótica. Com Zola – é bom notar que ambos são objeto de admiração do autor – a crítica é semelhante, James identifica nos tons grosseiros do naturalismo de Zola “falta de gosto”, uma opção por tons grosseiros e pinceladas fora de propósito que não fariam jus ao talento deste, ainda que no ensaio Crítica discuta justamente até que ponto o gosto influi na análise de um crítico, ou se é possível definir um bom e um mau romance.

Mas é este o grande trunfo de Henry James: permitir-se perder em ensaios, na busca por pontos de vista escondidos na linguagem. Ora contraditórias, ora brilhantes, suas variadas observações são bons pontos de partida para escritores e críticos iniciantes, assim como boas reexaminações para os mais experientes. É a exploração incessante que o ensaio e o romance proporcionam que os tornam dois dos pilares da experiência literária, seja esta experiência iniciada por um relance, uma observação que não durou 10 segundos mas que fica impressa na mente, como uma pintura. Ou para citar outro artista-crítico com a sensibilidade de ambos, T.S. Eliot:

We shall not cease from exploration
And the end of all our exploring
Will be to arrive where we started
And know the place for the first time.
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Joachin 05/12/2012

Aqui o crítico e escritor inglês Henry James, que viveu ao longo do século 19, busca aconselhar os aspirantes a escritores e demarcar sua posição na quimera entre os adeptos do conceito utilitarista de arte e os da concepção romântica de literatura. Quer dizer, para James, os principais romancistas do século 19, os franceses Émile Zola e Guy de Maupassant, conseguiram imprimir uma terceira via na qual o realismo e as preferências políticos dos autores conseguem se irmanar com o regime de autonomia do real que toda ficção necessita para ter vida própria. Um belo e bem escrito ensaio que servir para inspirar para historiadores e críticos literários.
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Kari 13/08/2018

Encontrei esse livro numa feira por um precinho camarada e comprei porque me interessei pela sinopse que a contracapa trazia. Um livro barato com uma leitura rica.
Henry James escreve, nos cinco capítulos do livro, o papel do romance, como a crítica deve ser alimentada e ensaios sobre o trabalho de escritores que são por ele admirados: Guy de Maupassant e Émile Zola.
Os três primeiros capítulos são ricos em informações e detalhes ("A única obrigação que devemos imputar previamente a um romance, sem cair na acusação de arbitrariedade, é a de que seja interessante. Essa responsabilidade geral é a única que vejo repousar sobre ele."), enquanto os dois últimos - capítulos em que trata de Maupassant e Zola - são mais centrado nas obras desses escritores, o que para alguém como eu, que não conhece muito a obra de Maupassant, pode parecer que o livro não termina nunca.
Foi m livro que me lembrou muito "Romancista por vocação" de Haruki Murakami em que o japonês explica sua relação com a escrita, com a crítica e com a mídia.
Caso tenha que indicar algum dos dois para qualquer pessoa, indicaria, sem titubear, o do Murakami.
Nota 0-5: 2

site: @leyendo_a_los_que_leen
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