pitypooralfie 18/12/2023"Esta faca não dói menos ao recortar meu corpo. E como escrevo no computador, não há sangue nem matéria. A insanidade deste corpo que não pode ser tocado me confunde. Descubro que escrevi sobre a impossibilidade da literatura. O fracasso previamente assumido ao tentar transformar vida em palavra. O que mais importa é o que não pode ser escrito, o que grita sem voz e sem corpo entre as linhas. O para sempre indizível. É melhor assim, que seja assim.
O homem do Harry Potter me pergunta:
? Este livro, que você escreveu, é como um filho?
? Sim e não. Um romance é sempre um filho. Mas é um filho do inferno. E é legião."
Eu não sei muito bem o que pensar. Mudei de opinião a respeito dos personagens a cada capítulo lido. É de fato uma obra bem visceral e complexa, com um tema que pode ser perturbador e que não costuma ser abordado com frequência.
Gostei muito da escrita da Eliane, de como ela conseguiu estabelecer uma voz distinta para cada narradora. Alguns capítulos foram bem cansativos, mas reconheço que tudo que estava ali foi necessário para a construção dos personagens e da trama.
E que trama! No final, fiquei com o coração na boca, aflita para descobrir o que iria acontecer, o que a Laura iria fazer. Gostei do final, achei tudo muito simbólico e significativo. A Laura matou a mãe não apenas fisicamente, mas também em si. Me pergunto, no entanto, se os fantasmas não permanecem conosco mesmo com todos os exorcismos, simbólicos ou não, que tentamos realizar.
Uma duas é um livro que vou carregar comigo durante muito tempo.