Yasmayfair 02/11/2010
Li o livro tentando deletar aquele ridículo Stuart Townsend tentando ser Lestat em A Rainha dos Condenados. E o li com alguma curiosidade pelo fato de ter aquele chamariz de Lestat, depois de sua, como ele mesmo diz, "Ressurreição", ser o líder de uma banda de rock. Em A Rainha dos Condenados, o filme, fica claro a falta de cuidado que tiveram ao mesclar grande parte de O Vampiro Lestat com A Rainha dos Condenados livro. Portanto, pra quem já assistiu esse horrível filme, aconselho que suma com ele do seu hd mental pra poder ler o livro.
Bem, pra mim não foi difícil, de forma alguma, já que nunca gostei do filme e pra mim, Lestat mesmo, só o Tom Cruise. Logo, lendo o livro, foi ele quem imaginei sendo o vampiro-título, ou imaginava um rapaz bonito com os mesmos traços físicos descritos no livro, só pra variar um pouco.
O início do livro retrata a vida de Lestat como filho de nobres donos de terras no interior da Fraça pré-revolucionária do século XVIII, numa família pobre apesar dos títulos, preconceituosa e sem afeto. O jovem Lestat, com 21 anos, era encantado com artes, música, teatro e tudo o que fosse belo, tanto é que mais de uma vez tentou fugir de casa para seguir com o sonho de ser ator, mas sem sucesso. Seu único apoio era sua mãe, e tudo parecia perdido até aparecer Nicolas. Exímio violinista, morador do vilarejo próximo à sua casa, se tornam amigos e compartilham seus sonhos de sair de Auvergne e ir para Paris. Então combinam uma fuga que é bem sucedida. Chegando a Paris com uma mão na frente e a outra atrás, aliás, Lestat e Nicolas começam a tentar a vida com as artes, se tornando, respectivamente, ator e violinista de um pequeno teatro popular. Porém Lestat não sabia que era observado, e em uma noite, por um velho estranho que o espreitava continuamente, acaba sendo transformado em vampiro. Herda então a fortuna do velho e fica incumbido de procurar suas origens vampíricas. A partir daí o livro vai ficando, logicamente, mais movimentado, dada a adaptação de Lestat à nova "vida" e a convivência complicada com seus amigos que ainda são humanos.
Então a história começa a ficar mais interessante, Lestat vai contando sobre sua trajetória até a data onde está já com a banda e você não consegue parar de ler! Queria contar alguns fatos aqui pra aguçar o interesse do possível leitor, mas é melhor não dar spoilers... Só digo que até o final é tanta informação e coisa acontecendo que mesmo em duas páginas você pode perder coisas valiosas.
A relação de Lestat com sua mãe é fofa, e ao mesmo tempo, curiosa. Armand (o Antonio Banderas de Entrevista com O Vampiro, a quem interesse) aparece aqui. Não tenho muita paciência com ele, mas Marius, seu mestre, encontra Lestat mais tarde e aí se segue a parte mais legal de todo o livro: Marius contando a criação de ele próprio como vampiro e a importante missão da qual ele se encarregou, onde se responsabiliza, indiretamente, pela existência de absolutamente todos os vampiros na face da Terra. Anne Rice faz uma ligação interessante entre os povos antigos, como os celtas e os egípcios, para explicar, com clareza, riqueza de detalhes e coerência o mito vampírico: como ele começou, quem foram os primeiros vampiros, como eles se espalharam, e relaciona ainda os antigos deuses que eram venerados como sendo, na verdade, vampiros. E é onde você pensa: "cuma?!", mas depois vê que faz total sentido dada a ligação de crenças com a figura do vampiro, que ela fez.
E à medida que o livro passa, você fica ansiosa para que chegue logo a parte do show de Lestat com sua banda, onde ele, quebrando uma das "leis" vampíricas, desafia publicamente outros vampiros aparecerem, e te espanta o que acontece e quem realmente aparece.
Destaco também determinadas partes onde o livro me deu MEDO, de verdade. Não medinho "oh ele é um vampiro", mas aquele medão que sobe pela espinha, te faz imaginar a cena e te dá um belo nó na garganta, como por exemplo, quase todas as partes relacionadas à Akasha e a Enkil e aos movimentos (físicos, mesmo) deles.
E, pra quem como eu, gostou muito de Louis, em Entrevista com O Vampiro, é agradável a expectativa sobre ele aparecer ou não. E, falando em Entrevista, que é o primeiro da série Crônicas Vampirescas e antecede O Vampiro Lestat, devo dizer que não é tão bom quanto o segundo. Em Entrevista, que é contado pelo ponto de vista de Louis, você apenas enxerga o Lestat cruel, festeiro e sádico, sem saber quase nada dele ou seus motivos. Já em O Vampiro Lestat, os porquês de absolutamente TUDO em Entrevista ficam claros: seu silêncio quando Louis e Claudia o perguntavam de onde vieram os vampiros, seu temperamento, de onde ele conhece Armand e muita coisa mesmo. Lestat vai, visivelmente mudando, mas sem deixar de ser o mesmo, e ao final do livro, o que temos é um Lestat cruel, sádico, mas desafiador, questionador, e pasmem, sensível, como era no começo da história, característica inexistente dele quando é citado em Entrevista.
E isso tudo sem falar em toda a questão filosófica que Anne Rice sempre aborda em seus livros. Sim, porque ser vampiro não é só "tô com fome, vou matar alguém", ou como atualmente Edward Cullen diria: "tô com fome, vou chamar meus irmãozinhos para matarmos ursinhos". Tem a questão dos assassinatos e da profunda crise existencial até você saber de onde veio, o medo de encarar a eternidade e por aí vai. Ser vampiro, ao contrário do que pensam, ainda mais atualmente, não é fácil, colega. Anne Rice está aí pra mostrar isso, e Monsieur Le Rockstar está aí, mais ainda, pra tentar fazer da sua existência cheia de dúvidas, aventuras e glamour, a mais fácil possível - ao menos pra ele.
Notas:
•Anne Rice CAPRICHOU no Lestat. Por culpa desse livro, agora não tenho um, mas três imortais preferidos: Lestat, Louis e Marius.
•QUE FINAL FOI ESSE HEIN TIA RICE? Abalou aqui, deu aquele medão de novo e aquela vontade louca de correr pra estante e começar A Rainha dos Condenados. Mas ele vai ter que aguardar pra ser lido, pus na frente dele dois cuja leitura não posso e nem quero mais adiar.
•Imaginem um filme bem escrito e fiel a esse livro, que maravilha não ia ficar?! Que jogassem A Rainha dos Condenados no lixo e começassem tudo de novo! Mas epa, o Antonio Banderas de Armand eu até posso aceitar que troquem, porque fisicamente ele não ficou parecido com o Armand descrito no livro, mas Brad Pitt TERIA que ser Louis novamente e Tom Cruise TERIA que ser Lestat de novo, também. Se daria certo, agora que estão mais velhos? Talvez sim, nada que uma maquiagem não resolva, mas se não desse, só procurar atores parecidos com Brad e Tom fisicamente e pronto! :)
•Quem é Edward Cullen e cia glitterizada perto de Lestat...? É bom que Stephenie Meyer continue sem ler os livros da Anne Rice, caso contrário vai certamente entrar em depressão e tentar o suicídio (o que seria um benefício pro mundo, aliás), tamanho é o abismo literário que as separa.