Tha 07/11/2020
Cansada
Talvez eu esteja exigindo demais ao esperar que um homem não tivesse escrito uma história em que o personagem masculino que comete um crime hediondo é tratado com tanta deferência.
Alguém poderia argumentar que essa visão sobre esse personagem se dá por meio de uma síndrome de estocolmo. Contudo, o modo como o autor escolhe narrar os fatos, a escolha de final para a história, até mesmo o fato de o livro ser narrado em primeira pessoa, me dão poucas dúvidas de que ele próprio acreditava ser o crime cometido justificável.
O modo como a trama se desenvolve faz parecer que o autor realmente acredita que Marnie mereceu. Que ela foi culpada de as coisas acontecerem como aconteceram, pois, afinal de contas, em todos os outros aspectos, o tal personagem masculino é praticamente perfeito. Enquanto Marnie... Bem, Marnie é uma ladra.
Ainda que perto do final exista uma revelação e uma conversa que tentem dirimir ou amenizar a culpa de Marnie pelos seus atos, trazendo algo como uma justificativa para seu comportamento, continua evidente que o autor quer e deseja que ela seja penalizada por eles. É como se quisesse que ela sirva de exemplo para todas as mulheres: que fiquem na linha.
Pois a verdade é que eu estou cansada. Cansada de ver essas situações se repetindo nas histórias, e nesse caso nem mesmo como denúncia de um problema social, mas como uma lição de moral. Seja uma mulher boa e comportada e coisas ruins não acontecerão com você. Homens? Não precisamos dar lição de moral neles. O que é um crime hediondo diante de furtos e mentiras? É Eva levando Adão a pecar novamente, só que dessa vez, Eva, se você ouvir o Adão e se arrepender do fundo do seu coração, talvez as coisas mudem pra você e você seja perdoada!
Me poupe.