Sô 10/01/2020Você sabe que um livro é bom quando nem o barulho de conversas alheias no metrô te tiram da leitura. E mesmo sabendo do spoiler envolvendo o suicídio de um dos personagens, não estragou em nada a minha experiência.
Diferente dos outros livros que eu li do autor – trilogia 1Q84 e Minha Querida Sputnik –, Norwegian Wood não tem aquela característica Murakamiesca. A princípio senti falta, mas logo fui me acostumando – e me apaixonando – por essa história “normal”.
Algo que cativa logo de cara são os personagens. A história gira em torno de Toru Watanabe, um estudante universitário comum, sem grandes aspirações na vida. Num certo dia, enquanto ia de trem para algum lugar, acaba encontrando Naoko, a namorada de um amigo – seu único amigo – que se suicidara no ano anterior. Passam a se encontrar sempre para longas caminhadas, muitas vezes em silêncio, só apreciando a presença física um do outro. Só que Naoko lida com seus demônios internos e se sente desconectada da realidade.
Através da Naoko, surgirá outra personagem essencial, a mais interessante, pelo menos para mim: Reiko. Para lidar com seus problemas, Naoko resolve se “internar” em uma instituição para pacientes com problemas mentais. Digo internar usando aspas porque é um lugar diferentão, que não conta com um tratamento convencional como seria num hospital, por exemplo, e a pessoa é livre para ir embora quando quiser. Lá ela conhece Reiko, que é inclusive sua roommate. Reiko é uma paciente no local também e em um determinado momento irá contar a sua história. Devo dizer que é no mínimo cabeluda e faz você questionar se ela é uma narradora confiável. Minhas suspeitas só foram ficando mais e mais fortes conforme o livro avançava, principalmente no final quando ela visita o Watanabe em Tokyo. Aquela cena dela dizendo que conseguiria pegar a panela de Sukiyaki me fez ter ainda mais certeza de que talvez a manipuladora na história dela tenha sido ela o tempo todo e não a menina de 13 anos. Sem contar a situação envolvendo o suicídio da Naoko. Me deu até um arrepio na espinha.
Não sei porque vendem o livro como uma história de amor. É acima de tudo sobre a morte. Achei ele pesadíssimo e até fiquei meio depressiva durante a leitura. Apesar disso, é uma leitura que flui. Recomendo muito!