z..... 25/06/2018
Eita! Esse livro me trouxe a lembrança de A Bela e a Fera... Pudera! Berta é uma bela jovem, em todos os sentidos, com heroísmo romântico que evoca santidade, se destacando em um cenário onde a natureza parece muito selvagem, com histórias impactantes e grotescas, em fatos e em personagens. É como uma bela flor em local inusitado. Estou exagerando? Além de extremamente sensibilizada com o próximo, tem amor incondicional aos animais (onde se descrevem dois grotescos: a galinha sura e o burro cotó), até com "poderes hipnóticos" (descrição surreal do encontro com a cascavel, que não se sabe quem hipnotiza quem). Sobre esta última referência, uma curiosidade banal: o romance é de 1872, mesmo ano de lançamento de O Seminarista, em que Bernardo Guimarães descreve também um surreal encontro de sua personagem Margarida com uma jararaca. Qual a importância disso? Nenhuma, mas dá para perceber que a visão idealizada no romantismo era capaz de transcender o racional, exaltando o fantástico.
Voltando a nossa Bela, digo Berta, em seu meio interage de alguma forma com personagens que são esquisitas, como Zana (a velha louca), Brás (o menino esquizofrênico) e Barroso (um psicopata vingativo).
Ilustrando algo do meio selvagem, há o relato de uma vara de porcos selvagens em episódio dramaticamente bizarro e incêndio 'assassino' na Casa das Palmas, que Alencar descreve como 'a jiboia que lambe a presa para traga-la', onde se desenrolam histórias viscerais. Sei que o contexto do romance é na região interiorana de São Paulo, citando-se Campinas e Piracicaba, mas a impressão que tive foi de local super isolado, ao estilo da casa de D. Antônio de Mariz, no romance O Guarani. Impressão pessoal...
Essa é Berta, em um mundo em que tudo se esvanece ante sua presença. Sem dúvidas, verdadeira Bela da história que lembrei.
Se tem a Bela, tem também a Fera. Jão Fera é um sujeito temido e lendário como assassino de aluguel, com desejo de vingança e disposições impactantes. Surra cambada de homens contratados para liquidá-lo, enfrenta a vara de porcos selvagens e estraçalha o homem que o motiva ao ódio a la Wolverine. Só algumas de suas características...
Como na narrativa lendária, a Bela doma a Fera, digo, Berta tem total influência sobre Jão Fera, revelando-se como elo um segredo do passado que dá ao romance reviravolta surpreendente, em que a história sai de uma narrativa arrastada e chata para sucessão de eventos extraordinários.
Outra curiosidade banal. Se Machado de Assis tem o capítulo O Penteado, em Dom Casmurro, como belo texto de descrição na inocência pueril, Alencar pode ser lembrado também pelo capítulo O Abecê, neste romance, muito bonito e sensível entre Berta e Brás que, imagino, naqueles tempos, poderia ser colocado como crítica em paralelo com os métodos educativos em vigência. No contexto se revela também porque Berta é chamada de Til.
Escrevi muito ou um nada, de valor ou pura bobagem, para não escrever spoilers mais evidentes. O desenrolar e consumação são emocionantes, com o lance de heroísmo quase canônico, vá lá que seja melodramático, mas que é bonito é. Fiquei tocado e considero agora este o romance regional de Alencar que mais me impressionou.
Falando de algo que não curti, a edição que tenho da Egéria guardo desde a infância, mas me deixou na mão quando percebi que tem certo erro: não colocaram o glossário e notas do autor que o sumário mostra. Fez falta, pois Alencar é floreado nas palavras e muitas não conhecia. Ao que parece, essa falha foi para todas as edições, pois os registros que encontrei do livro tem o mesmo número de páginas da minha edição, sem os extras em páginas apontadas no sumário.