Helder 07/07/2013Uma mulher detestávelHá tempos não lia um livro com um vilão tão potente. Willy Novinsky é simplesmente a personagem mais detestável que já passou na minha vida e se ela foi criada, a responsável por isso NÃO pode ser uma boa pessoa.
O que li aqui, não pode ser só criatividade. Tem que haver um pouco de auto biografia. Após sobreviver duramente a mais um livro de Lionel Shriver, eu concluo: Esta mulher é o demônio. E um dia, ainda vai ganhar o Nobel de Literatura, pois é incrível a sua capacidade de mexer com os sentimentos humanos mais mesquinhos.
Lionel é relevante para estudo de Tese de Faculdade: A mesquinharia no sexo feminino no século XXI. Após ler 3 livros da autora, fico tranquilo em dizer que é impossível comentar sua obra de maneira individual. Lionel Shriver tem uma obra, e por mais que esta obra discuta as mazelas atuais de nossa sociedade moderna, eu afirmo que o tema principal de tudo é o Rancor.
E haja mulher desprezível. A primeira foi Eva, a mãe de Kevin com seus pensamentos egoístas sobre ter um filho e que pagou um preço muito caro por isso. Depois veio Glynis, em Tempo é Dinheiro, que era tão egoísta que não conseguia confessar sua própria culpa, transformando a vida de seu servil marido numa provação maior ainda. Ali, diferente de Kevin, pelo menos houve uma ressurreição. Já aqui, o egoísmo e fracasso é tão grande que o final é uma das coisas mais amargas que já li.
Dupla Falta conta a estória de Willy Novinsky, que desde sua infância sempre foi apaixonada pelo tênis, se dedicando integralmente e simplesmente em ser "a melhor". Aos 23 anos ela conhece Eric, que está começando a jogar tênis profissionalmente. Eric consegue cativa-la, e eles acabam se casando. Eric é um perfeccionista, que sempre fez muito bem tudo aquilo que se dispôs a fazer. E isso num livro de Shriver não por ser algo bom. Com o tempo, Willy passa a vê-lo como uma ameaça, e não mais como seu marido. O que devia ser um simples casamento, com ambos se orgulhando dos progressos e vitórias dos outros, passa a ser uma competição.
E Willy é mesquinha e cruel e burra. Muito burra. Em certas partes da leitura eu me vi gritando com o livro, com vontade de espanca-la.
E é isso que a Lionel consegue fazer com seus leitores. Entramos tanto na estória que nossos sentimentos primários ficam aflorados. Foi assim com Eva e principalmente com Kevin. Foi assim com a estupida e egoísta Beryl, a irmã sanguessuga de Shep e agora com Willy.
Acho que senti mais pena de Eric, do que de Frank que foi traído pelo sonho da America perfeita e de Shep, que quase viu seu sonho de Outra Vida ir por agua abaixo. Mas no fundo Eric também era ruim. Ele tinha o mesmo grande defeito de Willy: Não sabia perder. Porém, ambos buscavam vitórias em jogos diferentes. Willy apostou sua vida no Tenis. Eric apostou no casamento. No tênis ele venceu Willy, a fracassada. Mas no casamento, ela conseguiu lhe dar uma surra de 5 sets a 0.
E o pior de tudo ao ler estes livros da Sra Shriver, é você parar para pensar e concluir que conhece pessoas parecidas ao seu redor. Lionel Shriver tem o dom de retratar a realidade.
No fim, fica até difícil saber se recomenda o livro ou não. É uma ótima leitura, mas deveras indigesta. Se para você leitura é algo somente para relaxar, passe longe. Se quer algo que mexa com suas entranhas, que lhe de raiva, que lhe faça pensar e perceber que o mundo nunca será cor de rosa, mergulhe de cabeça no universo cruel da Sra Shiver.