A página assombrada por fantasmas

A página assombrada por fantasmas Antônio Xerxenesky




Resenhas - A Página Assombrada por Fantasmas


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Anica 30/07/2011

A página assombrada por fantasmas (Antônio Xerxenesky)
As pessoas tem a falsa ilusão de que por serem mais curtos que romances, contos são fáceis de escrever. Pode até ser, mas bons contos não. É difícil dizer muito, causar sensações no leitor, criar personagens cativantes ou mesmo trazer uma boa história com tão poucos caracteres. Some a isso o fato de que qualquer excesso no texto fica ainda mais óbvio, e já dá para perceber a série de dificuldades que um escritor enfrenta ao seguir por esse caminho. E é por conta disso que sempre fico muito feliz ao ter em mãos uma coletânea tão boa como A página assombrada por fantasmas, de Antônio Xerxenesky.

Os contos são enxutos, fluem de um jeito gostoso e pegam o leitor de jeito – especialmente se esse leitor for também um apaixonado por literatura. Correndo o risco de causar um efeito semelhante ao que acontece com a personagem Charles Mankuviac (do conto A breve história de Charles Mankuviac), a verdade é que A página assombrada por fantasmas é livro que fala de literatura. Mas de um modo delicioso (porque o leitor se reconhece em determinadas situações) e mesmo crítico (não dá para não transferir certas passagens para a realidade).

Livros estão por toda parte, são eles que assombram essa coletânea. Seja o primeiro que aparece, acalmando um narrador enquanto ele está indo encontrar um escritor que admira, sejam nos livros da Geração Z descrita pelo narrador do último conto, No segundo andar. O livro, a relação com o objeto, ler, escrever. Isso vai se repetindo de modo a alinhavar de forma coesa as narrativas dentro da coletânea (e dá para esquecer de quando uma personagem diz que se incomoda com “os jovens que reuniam meia dúzia de contos sem muita relação entre si” no conto que dá título ao livro?).

Há ainda a questão de Xerxenesky ser um escritor jovem. Minha bagagem literária é lotada de velhinhos bacanas, mas confesso ter lido pouca gente da minha idade (ou mais nova do que eu). E quando você tem em mãos histórias como Algum lugar no tempo, a verdade é que dá vontade de conversar com o escritor e perguntar como é que ele sabe tanto sobre você. É um passado fictício, mas não tem como não se ver ali, jogar no texto milhões de memórias pessoais de verões em família. Talvez até pelo fator nostálgico seja um dos meus favoritos neste livro, embora seja realmente difícil fazer esse tipo de seleção, todos são muito bons.

Ainda entre os favoritos, Esse maldito sotaque russo é uma história que mostra bem como o autor consegue se sair escrevendo conto, aproveitando tudo o que o texto pode oferecer mesmo que sejam poucos caracteres para desenvolver o enredo. Ele usa recursos como notas de rodapé ou mesmo parte do texto coberta para auxiliar no efeito a causar no leitor. Além disso, o mote também é muito bem sacado, um detetive que procura escritores reclusos – tem como não gostar logo de cara de uma personagem assim?

No final das contas A página assombrada por fantasmas é um passeio tão gostoso pela literatura que deixa nítido que o autor não é só um contador de histórias. É também alguém apaixonado por esse universo dos livros. Paixão tão grande que acaba inclusive influenciando a lista de leituras futuras de quem tem a obra em mãos: te desafio a terminar a coletânea e não correr atrás de Borges e Cortázar se ainda não conhecer esses escritores. Imperdível mesmo, especialmente para quem compartilha dessa paixão.
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Tito 01/08/2011

Nove histórias sobre livros e sobre a gente dos livros.
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Letícia 20/06/2020

Um livro sobre livros, sobre história, sobre a escrita!
Nove contos, nove histórias divertidas e que se entrelaçam entre si.
O livro, o autor e a escrita permeiam todas as histórias nos revelando o papel importante e sempre presente desse objeto tão amado pelos leitores.
Como ele está conectado conosco e como muda nossa relação com o outro e com o mundo.
Recomendo a leitura!
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Aguinaldo 19/07/2011

a página assombrada por fantasmas
Javier Marías em seu "Vida de fantasma" diz que todo escritor se assemelha a um fantasma, pois fala e influencia, mas nem sempre se deixa ver, ao desaparecer ou se calar por longos períodos; é fantasma quando luta contra seus medos, sua dificuldade de reencontrar a voz após cada texto finalizado; é fantasma ao viver, quando vê e opina, vai ao cinema, lê e fuma, se enoja e se disfarça, viaja e faz resenhas, vai ao futebol e rememora. Antônio Xerxenesky apresenta em seu "A página assombrada por fantasmas" um estranhamento deste tipo. Os nove contos de seu livro são bem curtos, mas devem ter tomado um bom tempo dele para alcançarem sua concisão e potência. São histórias que denunciam um bom leitor, um bom observador, que espalha referências literárias por seu texto como um semeador que imagina antecipar o efeito que elas irão provocar em um eventual leitor. Há muita ironia e jogos mentais nas histórias, todas elas gravitando em torno do mundo cruel dos livros e da literatura. Xerxenesky fala de um detetive literário; de um efebo que encontra seu precursor (ou tenta encontrar); de um escritor que se descobre exaurido; de paróquias literárias (como não rir da Porto Alegre descrita por ele?); de um leitor que imagina encontrar personagens dos livros que leu. Duas histórias são piegas, engessadas por nostalgia (que não necessariamente é dele mesmo), mas talvez ele quisesse ou precisasse que elas produzissem este efeito. Gostei muito do conto que dá nome ao livro, onde ele emula uma voz feminina para descrever uma Buenos Aires assombrada por Jorge Luis Borges. Um outro que gostei muito é "Sequestrando Cervantes", que parece uma versão sarcástica, atualizada, do 'Fahrenheit 451" (de Ray Bradbury). No conto de Xerxenesky ao invés dos livros serem proibidos e queimados eles são reescritos e modificados. A idéia de um programa de computador que interpreta os livros de acordo com a ideologia do leitor é muito boa. Coincidência ou ironia mesmo foi ter lido hoje que Umberto Eco reescreverá seu "O nome da rosa" para torná-lo legível para as novas gerações. Os bons escritores parecem mesmo captar coisas no ar. Enfim, são contos realmente bons, de um sujeito que não alcançou esfumar-se como um bom fantasma, mas parece experimentar com destreza vários truques que aprendeu com seus precursores. Bom livro. Vamos a ver o que ele nos apresentará no futuro. [início - fim 18/07/2011]
"A página assombrada por fantasmas", Antônio Xerxenesky, , Rio de Janeiro: editora Rocco, 1a. edição (2011), brochura 13,5x20,5 cm, 127 págs. ISBN: 978-85-325-2658-8
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SubaLivros 23/04/2021

?O cheiro de papel invadia meu sistema e me recordava de todas as horas prazerosas que passei jogado na poltrona lendo, de como o tempo se alongava dentro do mundo do livro.?
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Uma coletânea de contos que se passam em lugares, tempos e pessoas diferentes, com algo em comum: livros e literatura. O comum e o bizarro entram em cena e fazem uma ótima dupla.
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Carol 23/11/2011

A metaliteratura de Antônio Xerxenesky
Escritores, leitores, livros e gente que gosta de livros. Na coletânea de contos A Página Assombrada por Fantasmas, Xerxenesky arranca um suspiro de deleite nos leitores ávidos, aqueles que não gostam só de ler, que gostam de falar sobre a literatura, como se ela transcendesse as páginas.

Seja para acalmar seu leitor com seu cheiro bom de papel ou para encher a cabeça de paranoias, em teorias não comprovadas de uma ligação da ficção com o real, os livros estão lá, sempre presentes durante os nove contos. Mas, uma vez que esse tema comum amarra o livro, o autor está livre para variar em tudo o mais. Dos enredos mais criativos e mirabolantes ao jeito de narrar, Xerxenesky vai brincando de experimentar e é aí que A Página ganha seu brilho.

No conto que dá nome ao livro, a narradora descreve uma Buenos Aires assombrada por Jorge Luis Borges. Nesse conto mais especificamente, mas em todos os outros também, vem a tese de que o que se sabe de um texto antes de ler, a situação e ambiente que envolve o leitor e tudo que já foi lido antes por ele é tão, se não mais, importante do que o texto que se tem em mãos no momento. O leitor é o coautor do livro.

(Mais em http:/apesardalinguagem.wordpress.com/)
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Paula 18/02/2014

Para quem gosta de ler
Que todo leitor gosta de livros todo mundo já sabe. Mas o que nem sempre fica evidente é que nós, leitores, também gostamos de livros que de algum modo falem sobre a leitura, e nos levem a outros livros. Bom, pelo menos eu gosto. E adoro quando um livro desperta em mim aquele desejo de ler um outro livro. Ou vários. E isso aconteceu muito durante a leitura de "A página assombrada por fantasmas", de Antônio Xerxenesky, um jovem escritor brasileiro de quem eu ainda não havia lido nada.

A página assombrada por fantasmas é um livro de contos, histórias curtas, nas quais Xerxenesky explora uma temática que amamos: as leituras. Nessas histórias, o real é quase sempre contaminado pela ficção e, por que não dizer, assombrado pelos grandes nomes da literatura contemporânea: Bolaño, Pynchon, Javier Marías, David Foster Wallace, Borges, Cortázar, só para citar alguns.

No primeiro conto, O escritor no castelo alto, somos convidados a passear por muitas situações possíveis em um primeiro encontro entre um jovem escritor e um dos grandes nomes da Literatura Latino-Americana.
Em Esse Maldito Sotaque Russo, um leitor apaixonado por Pynchon, conhecido por ser um escritor recluso, tenta encontrá-lo e um encontro com seu conceituado tradutor traz novas pistas sobre seu paradeiro e seu novo romance. Em Amanhã, quando acordar, um casal de jovens viaja para passar o ano-novo juntos, mas a leitura de um livro parece desencadear uma situação terrível, ou quem sabe, evitá-la.

"Há quem diga que a literatura tem como função fazer com que nós nos sintamos menos solitários, há quem diga que os livros são cartas endereçadas de um solitário a outro. Ele não sabe, ele nunca saberá ao certo. O que ele sabe é que os livros não trazem conforto e nunca trarão, os livros são peças demoníacas (mas ele não acredita em demônios, assim como não acredita em deus algum e não consegue mais acreditar em sinais ou nada), e se há algo que os livros, os romances, as ficções trazem é transtorno e desconforto e incômodo.
Então, ele continua lendo." [página 44]

No conto A morta-viva, um jovem conhece uma mulher em uma fila de cinema em Buenos Aires e aos poucos começa a notar as inúmeras coincidências entre essa mulher e a personagem de um livro do Alan Pauls. O escritor personagem de A breve história de Charles Mankuavic abandona a literatura depois de várias críticas feitas aos seus livros, descobrindo uma nova forma de ler sua própria obra. Quando perguntado se um dia voltaria a escrever, ele responde: "O dia em que eu encontrar um novo conflito que eu só consiga resolver na literatura". [página 53]

Algum lugar no tempo é o conto mais pessoal do livro, dedicado ao irmão do autor, e fala um pouco sobre um dia que marcou a infância dos dois e de como cada um tomou um caminho diferente a partir de então. A literatura aparece aqui como um jogo com infinitas possibilidades (O Jogo da Amarelinha, de Cortázar), assim como o jogo que os dois meninos criaram para jogar juntos no computador.

Em A página assombrada por fantasmas, conto que dá título ao livro, viajamos pelas ruas de Buenos Aires junto com duas amigas que partem para uma aventura e encontram um manuscrito, possivelmente de um grande escritor nacional, que mudará a vida das duas para sempre. Uma bonita homenagem a Borges e Cortázar.

Sequestrando Cervantes fala de um futuro talvez não tão distante, onde as histórias como as conhecemos hoje serão modificadas e contadas de forma diferente, e só quem poderá salvá-las são aqueles que as puderem lembrar. Em No segundo andar, o autor nos convida para um passeio entre um grupo de artistas e escritores que marcaram sua geração, ainda no início de suas carreiras.

"Há quem diga que o ser humano não é só os livros que lê, as músicas e os filmes que prefere. Já eu sou do time que acha que nossa personalidade vai sendo moldada justamente por essa via." [página 71]

Um livro muito gostoso de ler, repleto de referências literárias, compondo uma bonita homenagem à literatura e aos grandes nomes citados no decorrer do texto. Escrito por alguém que claramente gosta muito de ler, para quem gosta de ler. Recomendo.

Antônio Xerxenesky. A página assombrada por fantasmas. Rio de Janeiro: Rocco, 2011. 128 páginas.

site: http://pipanaosabevoar.blogspot.com.br/2014/02/a-pagina-assombrada-por-fantasmas.html
uyara 27/02/2014minha estante
Hummm, lembrei de "Lendo Lolita em Teerã"... rs Livros que falam de livros. Adoorooo. Com certeza, esse vai para a minha estante de futuras leituras. beijos.




LimaJr 28/01/2022

Bons contos com humor
A qualidade dos contos em geral é boa. São criativos e contêm uma boa dose de humor. As temáticas giram em torno da literatura e escritores, muitas vezes em aventuras quase fantásticas.
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Bruno Oliveira 30/10/2019

UM LIVRO SOBRE LIVROS
Um livro sobre livros, mas bem mais que isso, nos nove contos que o formam, Xerxenesky compila boas histórias que tratam da relação emotiva, casual e até paranoica das personagens com os livros/autores que os assombram. É metalinguagem pura! Então, não estranhe se encontrar um conto mais parecido com um início de um romance ou outro com cara de coluna cultural em jornal. É tudo literatura! E da boa.
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