Brenda Roberta 26/07/2021
"somos feitos do mesmo material dos filmes." F.D/M.M
Eu comecei a ler este livro sem saber e ter nenhuma noção de como ele era pesado. Então, fica o aviso.
Você não precisa amar cinema para ler/gostar deste livro, e talvez esse seja um otimo ponto pois eu, sem ser uma amante de cinema, senti o amor espelhado no ato e dedicação da oralidade. Assim como não precisa se identificar com a protagonista, ou gostar da forma escolhida que foi traçada a realidade das minas. Você leitor, por conta da cultura sedimentada que andamos consumindo, pode pensar que a história vai para um lado, esperando um tipo de acontecimentos, contudo não é assim. O autor nos lembra que isso aqui é América Latina. Isso aqui é a nossa realidade. As coisas aqui são diferentes, e esta história é um exemplo para você. Um breve retrato de como a pobreza e a falta de oportunidades vai aos poucos matando os sonhos e moldando a vida.
Este livro transborda em melancolia, tristeza, crueza e realidades, mesclado com a sutileza em narração. Eu não sei o que dizer, o sentimento que a Maria Margarida me passou, as histórias da Fada Docine. Como é simples, como é completo. Onde ressalta a vida, dores, e alegrias de uma criança e depois mulher.
Eu me peguei chorando no final sem perceber, e foi quando eu me toquei da magia deste livro, e do poder da (in)mensagem que ele passa ao leitor de maneira tão breve. É um livro que te ganha pelos detalhes de não ser em prol do destino que não se tem.
"Certa vez li por aí, ou vi num filme, que quando os judeus eram levados pelos alemães naqueles vagões fechados, de transportar gado ?com apenas uma ranhura na parte alta para que entrasse um pouco de ar ?, enquanto iam atravessando campos com cheiro de capim úmido, escolhiam o melhor narrador entre eles e, subindo-o em seus ombros, o elevavam até a ranhura para que fosse descrevendo a paisagem e contando o que via conforme o trem avançava. Eu agora estou convencida de que entre eles deve ter havido muitos que preferiam imaginar as maravilhas contadas pelo companheiro a ter o "privilégio" de olhar pela ranhura."