José Ricardo 04/11/2018
“O real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia".
Rob Fleming ou, simplesmente, Rob é um sujeito com cerca de 35/36 anos de idade e acabou de levar um fora da namorada. Antes disso, Rob chegou a cursar faculdade, mas não se formou. Atualmente, mora num pequeno apartamento e tem uma loja, onde vende discos de vinil e fitas cassetes, o que não deixa de ser Cult, já em meados da década de 1990, época em que enredo se desenrola.
Rob não tem profissão definida, não se casou e sua loja está na iminência de ir à falência. Ainda assim, ele adora curtir músicas, pois, segundo ele, expressam sentimentos. Rob é um conhecedor ímpar de músicas, principalmente aquelas que marcaram sua adolescência.
Rob parece ser um “adultecente” e, como ele mesmo diz: (estou) “aprisionado num corpo de adulto e obrigado a seguir adiante”.
O livro, de certa forma, faz lembrar de Kronos, o Deus na mitologia grega. Como se sabe, Kronos castrou Urano, seu pai, a fim de destroná-lo e, posteriormente, com receio de que seus filhos fizessem o mesmo com ele, engolia-os logo ao nascerem. Kronos, não por acaso, representa a personificação do tempo que, como tal, devora todos os seus filhos; os filhos do tempo.
De volta ao livro, percebe-se que Rob se vê “cobrado” pela vida a assumir posturas e tomar decisões. Afinal, vida é movimento e cada fase é uma fase. Como já se disse, “ninguém passa duas vezes no mesmo rio”.
É assim que, em meio a uma crise existencial e contra sua vontade, Rob se vê compelido a realizar a passagem para a vida adulta, o que ocorre não sem feridas e cicatrizes.
Paralelamente, outro ponto que merece destaque se refere ao título do livro. É que há uma relação direta com o teor da obra, ao menos em dois sentidos. O primeiro quando se refere à loja de Rob, local onde são comercializados discos de vinil, os quais são capazes de capturar, com maior precisão, o áudio em sua totalidade; ou seja, em “Alta Fidelidade”. O segundo, e talvez mais importante, está no fato de Rob viver na era dos CD’s e DVD’s, porém não conseguir se desapegar de seu passado juvenil, época em que imperava vinis e cassetes.
Assim vistas as coisas, parece assistir razão a Guimarães Rosa, que, em “Grande Sertão: Veredas”, disse: “o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia...”.
Ou seja, entre nossas memórias imprecisas e distorcidas do passado e nossos desejos, sonhos e/ou medos do futuro, existimos mesmo é no presente. E é nele que devemos nos construir e nos reconstruir continuamente, tudo conforme as circunstâncias, contingências e necessidades, sempre em busca de nossa homeostase, física e psicológica.