Zeka.Sixx 31/07/2020
Um clássico sobre adolescentes trintões
E eis que, exatos 25 anos depois de seu lançamento, eu finalmente leio o livro que consagrou Nick Hornby. Confesso que um pouco dessa demora é justificado pelo fato de que eu já havia assistido ao filme: geralmente não gosto de ver o filme antes de ler o livro, porque é inevitável que o filme dê vários spoilers do livro. Já o contrário (ler o livro e depois ver o filme) nunca me incomodou.
Mas, nesse caso, posso dizer que a experiência de ler o livro já tendo visto o filme não trouxe qualquer prejuízo significativo. A história de Rob Fleming, um cara de 35 anos, viciado em cultura pop, dono de uma loja de discos à beira da falência e abandonado por (mais uma) namorada, é contada de maneira deliciosa e irresistível. Rob é aquele típico "trintão adolescente", que tanto estamos acostumados a ver nos filmes de Judd Apatow: um cara que, aos 35 anos, continua se comportando como se tivesse 18, e para quem aparentemente o mais importante não é quem você é, mas sim as coisas (filmes, músicas, livros, etc.) que você gosta.
O livro narra a trajetória de Rob enquanto ele sofre por ter sido abandonado pela última namorada, tentando decidir se realmente a amava e a quer de volta ou não. Em meio a isso, somos apresentados às suas visões de vida, seus pensamentos em relação ao sexo oposto e aos relacionamentos amorosos em geral, todos eles sempre permeados de paralelos com a cultura pop, em especial ao mundo da música. Mesmo ele sendo cínico até dizer chega, e tomando ao longo da história algumas decisões questionáveis, é impossível não acabar "torcendo" pelo protagonista.
Não sei se o livro resistiu ao tempo, se ele ressoa da mesma forma com os temidos millennials, ou se o livro não teria impacto para uma geração que cresceu desacostumada a colecionar discos de vinil e CDs. Sei que, para mim, foi impossível não me apaixonar pela história e não me identificar, em vários momentos, com Rob Fleming, um cara que, assim como eu, considera um "auge profissional" o singelo fato de ter trabalhado como DJ, como ele diz nessa passagem:
"E eu adorava, adorava fazer aquilo. Olhar para uma sala cheia de cabeças quicando ao ritmo da música que você escolheu é uma coisa empolgante, e o período de seis meses em que o club foi popular me deu a maior felicidade que já tive até hoje. Foi a única época em que tive de verdade a sensação de estar em movimento, embora mais tarde eu pudesse ver que se tratava de um falso movimento, porque não pertencia a mim, e sim à música: qualquer um que tocasse os seus discos dançantes preferidos num volume muito alto e num lugar apinhado de pessoas que haviam pago para ouvi-los teria sentido exatamente a mesma coisa".