Rodrigo 30/07/2023
Pecados ao Sul do Equador
Eis um livrinho fluido e irônico, com uma proposta interessante, apesar de algumas confusões cronológicas e contradições. Os autores reescrevem a história oficial do continente, da colônia ao século XX, trazendo fatos que foram apagados com o tempo para mostrar o lado cruel da formação dos países latino-americanos, e as reais intenções dos seus ditos heróis socialistas. Dois capítulos foram especialmente bons, por me trazerem temas novos: as origens do Haiti e a história da Argentina.
O Haiti, em 1790, foi a colônia francesa mais bem sucedida do Caribe, um território inteiro de fazendas a base de mão de obra escrava, e responsável por 40% do açúcar da Europa, em plena era dos ideiais da Revolução Francesa. Aí ocorrem levantes de escravos contra os fazendeiros europeus, que são caçados e mortos, e os líderes das revoltas se tornam os novos donos de escravos. A coisa foi só piorando: a França envia navios para tentar recuperar sua colônia e a Espanha aproveita a crise pra também tomar a ilha. E mais guerras, mais revoltas de escravos contra os novos senhores, num ciclo sem fim de genocídios.
Já a Argentina, nas primeiras décadas do sec. xx, foi um dos países mais bem sucedidos economicamente no mundo; Buenos Aires era uma mistura de Paris e Nova York, com arquitetura digna das capitais europeias e uma sociedade alegre e bon vivant, com seus vinhos malbec e bifes de chorizo. Eis que acontece um golpe militar nos anos 40, e surge então a figura do Peron, um militar com ideias populistas, fruto do tempo em que morou na Europa.
Fã do fascismo italiano, uma vez alçado a um cargo relevante, defendeu a criação de leis trabalhistas mais brandas, aos moldes do que Getúlio Vargas fez por aqui, ganhando assim uma popularidade que incomodou o regime militar. Chegou a ser preso, mas acabou solto devido ao apelo popular, e posteriormente, vira presidente eleito pelas urnas.
A partir daí, afunda o país na tentativa de implantar a "ditadura do proletariado" como na Itália de Mussolini, estatizando empresas e bancos, além de impôr gastos militares excessivos e assistencialismo sem freio, criando um clima de falsa felicidade; o povo, viciado em benefícios, apoiava o governo, enquanto os donos das fábricas fechavam as portas.
A produção despencou, o PIB foi pra vala e a inflação disparou, até que a crise bateu forte, e com ela vieram as greves, prisões, controle da mídia de oposição, etc. Em meio a tudo isso, temos a primeira dama Evita, uma espécie de Janja portenha, que vivia fazendo filantropia com o dinheiro alheio e só falava besteiras, mas pelo menos era novinha.
O livro ainda mostra o lado B de vários outros personagens, como o presidente comunista chileno Salvador Allende, que eu conhecia apenas do livro "A Casa dos Espíritos", escrito pela sobrinha. Em resumo, um texto baseado em uma vasta pesquisa, e que, longe de ser espetacular, valeu pelo entretenimento, e por isso eu o recomendo aos que se interessam pela história e política latino-americanas.