Francini Aguiar EeP 24/09/2013
Não sei se é por já ter lido algumas histórias de Sherlock Holmes, mas este mistério me pareceu bem morno. Esperei por um grande final que redimisse o restante do livro, mas ele não veio.
É bem verdade que o legal de Cayetano Brulé é justamente não ter nada de Sherlock. A ideia central, na verdade, é bem bacana: um poeta brilhante (Pablo Neruda) se torna autor de um personagem vivo, transforma um homem comum em um grande detetive. Como? Fazendo-o ler livros de outro detetive, não Sherlock ou algo do gênero, mas os do inspetor Maigret (de Georges Simenos), conforme explica:
"(...) Eu lhe empresto estes volumes para que aprenda alguma coisa do inspetor Maigret. Não aconselho ler Poe, que inventou o relato policial e foi um grande poeta; nem Conan Doyle, o pai de Sherlock Holmes. Sabe por quê? Porque seus detetives são muito extravagantes e cerebrais. Não poderiam resolver nem o mais simples caso na nossa caótica América Latina. Em Valparaíso, os batedores de carteiras os roubariam nos trólebus, os meninos dos morros os espancariam e os cães os perseguiriam a mordidas pelos becos."
O livro não é ruim. É bom, mas falta algo. Talvez porque a minha única experiência com livros do gênero tenha sido com Sir Arthur Conan Doyle e o seu maravilhoso Sherlock Holmes (pausa para suspirar). Enfim, foi bom, mas meu coração não disparou, não pensei na história o dia todo e sequer senti vontade de voltar ao terrível hábito de roer as unhas com a qual tinha que lutar ao ler os livros de Conan Doyle.
Mas alguns pontos interessantes devem ser destacados:
- Eu achei uma jogada de mestre a personagem principal ser um homem comum que se transforma em detetive através da leitura de livros. Quando Cayetano aprende o ofício de detetive por meio de romances policiais, dá ao leitor a ilusão, ainda que superficial e momentânea, de que o mesmo pode ocorrer com ele. Está ilusão dá um gostinho muito bom e seduz o leitor a medida que aumenta sua identificação com a personagem;
- Na maioria dos capítulos, Cayetano é o narrador, porém, há capítulos onde Pablo Neruda faz este papel (capítulos em itálico);
- O livro traz algumas partes mais quentes e também um pouco de romance, mas o mistério predomina;
- Ao colocar na trama uma personagem real (Pablo Neruda) o autor me deixou em dúvida sobre o que é real e o que é ficção, conheço pouco sobre a vida do poeta e fiquei com vontade de conhecer mais para entender onde é esta linha;
- Apesar de, em sua maior parte, os capítulos serem mais mornos, eles terminam de modo a despertar a curiosidade para continuação, ficando quase impossível não ler o próximo.
Por fim, o fechamento do livro foi bem curioso, mas o final não foi dos mais felizes e eu só aceito finais sem plena felicidade se houver uma boa explicação para isto. Me decepcionei com isto também. Enfim, nota de 0 a 5: 3. É bom, mas é só isso.
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