Luhbeka 05/08/2020
O primeiro do Balzac que li na vida e que me fez perceber como perdi tempo lendo coisas inferiores
A primeira vez que ouvi falar de Balzac foi por meio de uma conversa num restaurante com amigos mestres em literatura. Eles falaram com tanta admiração da obra de Balzac que pensei "Uau! Quero ler isso um dia".
Pois bem, chegou meu próprio aniversário de 30 anos e me propus a ler uma de suas obras mais famosas e que apelidou as mulheres dessa década como "Balzaquianas". Vi que era relativamente curto, então achei que em menos de uma semana leria.
Ingenuidade. Quão surpreendente é a riqueza e a densidade analítica dessa obra e que ainda foi escrita de forma tão acessível! Me senti com 15 anos de novo, quando li Machado de Assis pela primeira vez.
Não à toa Balzac ser considerado um dos grandes pioneiros do Realismo Literário, quem já leu e se apaixonou por Machado de Assis e Dostoiévski precisa se dar a chance de conhecer o homem que fundamentou o caminho deles.
Quanto ao livro em si: não vou nem tentar resumir tudo que se pode aprender em tão poucas páginas. Por mais que desaprove vários dos comportamentos das mulheres retratadas nessa obra, como mulher, senti minha alma sendo tão cruamente exposta nas angústias e pensamentos secretos das personagens que quase duvidei se o autor dessa obra de fato era um homem. A trajetória da vida de Júlia para se tornar a marquesa D'Aiglemont expõe a fragilidade quase universal de tantas mulheres de depositarem a redenção de suas vidas aos ombros do amor romântico obtido por meio de homens falhos. Arrisco dizer que qualquer mulher, em qualquer período histórico, vai se identificar com o luto do príncipe encantado que Júlia passa.
Tantas problemáticas da alma feminina são tão honestamente reveladas nessa obra: a relação mãe-filha, que infelizmente em algumas de nós nos gera tão profundas marcas; o constante jugamento social contra as "mulheres com impetuosidade masculina" me fez perceber que a mulher de força sempre foi mal quista, em detrimento da moça adolescente e ainda iludida, "que tem uma docilidade absolumaente desejável", como é visto muitas vezes de várias formas diferentes na obra. Talvez a face da alma feminina que mais me apaixonou ter sido retratada por Balzac foi o sofrimento existencial solitário da mulher que percebe logo na juventude que o mundo ao seu redor não lhe cabe.
Balzac com esse livro conseguiu tirar o título de autor favorito do meu coração, até então ocupado por Machado de Assis e, logo em seguida, Dostoiévski.