Rafael Reis 01/10/2015
Cultivando o Culto com a minha Cultura
Segundo Justo González, a origem das culturas aconteceu no episódio da torre de Babel. Por causa da diversidade de línguas criada neste ambiente, as pessoas precisaram se separar para sobreviver, já que o intuito divino foi causar confusão. Houve então a destituição do universalismo construído entre eles que resultou na autossuficiência, consequentemente, no esquecimento de Deus. Cabe adicionar por livre interpretação que o mundo caminha para esta integração, novamente, de caráter universal. Uma vez que a humanidade se volta aos mesmos erros, uma nova ordem aponta a solução em uma só língua, seguindo na velha estrada da autossuficiência humana, anulando a dependência de Deus.
O evangelho não pertence a nenhuma cultura terrena, ele provém do Reino dos Céus e o anuncia tanto para os judeus quanto para aqueles que possuem pés dançantes empoeirados nas tribos mais remotas da Amazônia. O evangelho não foi criado para permanecer aprisionado no latim de algumas catedrais, pois o próprio Espírito de Deus o soprou em diversas línguas para que corresse o mundo, assim também o mesmo Espírito continua libertando-o de toda forma que tenta dominá-lo, contanto que o destino das boas novas não é ser manipulado por uma ordem ou cultura, mas atravessar as fronteiras, alcançando toda tribo, povo, língua e nação.
O evangelho de Jesus pode ser vivido em qualquer cultura, uma vez que não existe um parâmetro de santidade das culturas. Todas possuem bons valores que se assemelham a vontade de Deus e todas estão contaminadas com o pecado. É possível encontrar culturas isoladas onde o canibalismo é comum e culturas modernas que permitem seus semelhantes morrerem de fome. Dessa forma o evangelho tem a missão de restaurar a cultura, aproximando o indivíduo de Deus, abraçando suas tangas, argolas e danças. Também tem a missão de identificar e combater o pecado, não aquele que apaga as tintas do corpo ou muda o penteado, mas tudo aquilo que afasta o homem de Deus.
Infelizmente ao longo da História o evangelho chegou de maneira imperialista em muitas culturas. Povos trocaram o café pelo chá por costume dos missionários, deixaram de usufruir seus ritmos e costumes, esqueceram até mesmo da sua ancestralidade. Porém ainda há esperança, é possível ver um movimento onde brasileiros que se converteram ao cristianismo podem ser cristãos brasileiros, distintos dos brasileiros que se converteram ao cristianismo europeu ou americano, pois no Brasil o pé se mexe com samba, baião e forró, e ninguém pode impedir!
Cultura vem da palavra cultivo, sua origem está ligada a agricultura. Esquimós aprenderam a sobreviver no clima frio, assim criaram a sua cultura. Outros povos aprenderam a não morrer de fome no deserto, também criaram a sua cultura. Se trocarmos estes povos de lugar, eles precisarão reaprender a forma de sobreviver, isto é, necessitarão adquirir uma nova cultura para o mesmo fim. O evangelho é o fim para as culturas e existem formas diferentes de vivê-lo, a essência é a mesma, o que muda são os desafios do ambiente. E o culto? Ele também deriva das palavras iniciais do parágrafo e é completamente afetado pelas condições climáticas! A vestimenta do esquimó não serve para cultuar no deserto e por isso ele troca, muda até a sua cor e a forma de andar, o que antes era neve agora é areia!
As únicas coisas que não mudam em nenhum culto cristão em todo o planeta Terra são o batismo e a comunhão. O autor diz que a água é um elemento universal encontrado em todo o mundo, a água nos açudes do nordeste é a mesma água que se encontra nas torneiras do Japão. Dessa forma o batismo independente de aspersão ou imersão é batismo com água! Já a receita do pão da comunhão não apresenta a mesma característica universal da ordenança anterior. O pão de minha mãe tem uma receita diferente do pão da senhora que fugiu da guerra na Síria, porém não importando as diferenças dos elementos do pão, no final tudo é pão e com ele dá pra fazer a comunhão!
Então me deixe cear com meu pão de sal, meu berimbau, meu pão de milho, meu frevo, meu pão integral, meu silêncio, meu pão de leite, minha poesia, meu pão de queijo, meu sotaque, meu pão de batata, minha cor, meu panetone, meu piercing, meu pão farofa, meu batidão, meu pão de alho, meu black power, meu pão de ló, minhas palmas, meu pão de pão, minha cultura!