A jangada de pedra

A jangada de pedra José Saramago




Resenhas - A Jangada de Pedra


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Márcia Regina 20/06/2010

"A jangada de pedra"

Saramago me encanta pela forma solidária como descreve as pessoas. Não importa que essa descrição envolva mesquinharia, dor e crueldade, existe sempre um carinho imenso pelo homem, impossível não perceber nas palavras a voz de alguém com o coração encharcado de amor pelo mundo.

E isso não implica uma obra tola ou sentimental. Longe disso. Os livros dele têm uma dose forte de ironia, impedem o autoengano e desnudam nossas razões mais básicas, sabem ser engraçados, inteligentes, a leitura fluindo de forma natural, com construções e elaboração na dose exata para passar a sensação que quer transmitir e para nos envolver.

Lembrei bastante de "Ensaio sobre a cegueira". O acontecimento insólito, encontros, medos, fantástico, jornadas inesperadas que desvendam o mundo e a nós mesmos.

Mas o impacto resultante dos dois livros foi distinto. Saí da leitura de "A Jangada de Pedra" com uma frase na cabeça: "O mundo vale a pena, as pessoas são boas". Durante a leitura de "Ensaio sobre a Cegueira", a frase tinha uma variante: "O mundo vale a pena, existem pessoas boas".

Entre um livro e outro, há um caminho de sofrimento e aprendizado. Um caminho provavelmente de desencanto, sim, mas também de humanização, um amadurecimento na forma de ver o homem, com suas diferenças e sua busca inquietante por completude e felicidade.

Quem nunca leu Saramago, talvez tenha algumas dificuldades, principalmente no início, a falta de parágrafos, a pontuação, o ritmo às vezes lento. Não sugeriria o texto como primeiro contato com o autor. Melhor começar com "Caim" ou "O evangelho segundo Jesus Cristo". Porém, quem leu e gostou de outras obras dele, sabe o que quero dizer quando falo que Saramago é um vício. E dos bons.
wmoreira 07/04/2023minha estante
Que linda resenha! Ia até escrever uma, mas desisti. Você disse tudo! Há, acima de tudo, humanidade nos textos de Saramago.




Aline.Rodrigues 11/05/2023

Um livro mágico, pois não tenho outra palavra
Saramago com seu labirinto de palavras, descrições, crendices e impressões é avassalador! Que poético é tudo isto!
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regifreitas 18/04/2021

A JANGADA DE PEDRA (1986), de José Saramago.

Mais uma obra concluída para o projeto de ler os romances de José Saramago em ordem cronológica. Este, o sétimo romance publicado pelo autor, foi uma releitura para mim; o primeiro contato com a obra havia sido em 2010.

Aqui observamos elementos que já vinham se tornando recorrentes no trabalho do Nobel português desde as obras anteriores. O realismo mágico mesclado com um subgênero que os estudiosos vêm nomeando de metaficção historiográfica. Saramago se vale de acontecimentos históricos, mas reinterpreta-os de forma livre e subjetiva. O humor ácido, as digressões filosóficas, a mistura dos discursos direto e indireto, a sintaxe e a pontuação característica, todos também estão presentes.

Em um dado momento, a Península Ibérica se desgarra da Europa. Uma fenda se abre nos Pirineus, aumentando aos poucos, até o ponto que Espanha e Portugal se afastam cada vez mais do continente europeu, numa espécie de ilha flutuante ou uma jangada de pedra, vagando cada vez mais para o ocidente através do Atlântico. O fato inusitado acaba reunindo seis personagens (três homens, duas mulheres e um cão), que até então não se conheciam. Esses seres também haviam presenciado, cada qual, insólitos acontecimentos que, por algum motivo, uniu-os numa jornada através da Península flutuante. É a trajetória desses personagens que acompanhamos, tendo como pano de fundo as repercussões, em Portugal e Espanha, bem como na Europa e no mundo, do estranho acidente geológico ocorrido.

É um Saramago em toda a sua genialidade, mostrando porque se tornou um dos maiores nomes da literatura do final do século XX. Se é uma obra que se destaca dentro da produção contemporânea, quando penso nos outros livros do autor português existem trabalhos que acabo gostando mais. Mas são por detalhes mínimos que isso ocorre, pois se trata de um romance fenomenal.
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Diego Alves Z 28/01/2023


Como a maiorias das obras de Saramago, acredito que é o modo de contá-la e não no enredo é onde reside a qualidade do artista, já que ele é um autor muito metafórico.

Duas mulheres, dois homens, um velho, um cão e dois cavalos em uma jornada com elementos surrealistas pelas paisagens ibéricas, aprendendo através do contato com o que é inalcançável sobre as diferenças que os comportam no mundo.

Recomendo para quem já teve algum contato com o autor antes.
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Bielzin 09/06/2022

Se soltando e indo embora
Saramago, Saramago.
Quanta metáfora, ler com cuidado senão passa despercebido, porque diferente do normal, aqui os diálogos são dentro dos parágrafos, a sintaxe é complicada. Mas a experiência é transformadora.

A parte da península virar uma jangada, a forma como cada personagem central da história entra na trama, o encontro, o governo, o mundo...

...ainda há esperança.

Dê ao mar o que é do mar, dê a terra o que é da terra.
Agora ler Ensaio sobre a Cegueira...e todos os outros.
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Fabio Shiva 06/08/2010

A JANGADA DE PEDRA – José Saramago
Demorei a iniciar a leitura deste livro, desestimulado talvez pelo título, que pode sugerir um texto denso, pesado. Ademais, a inesquecível experiência com “Ensaio Sobre a Cegueira” me fazia temer que qualquer novo encontro com Saramago seria anticlimático. Ledo engano! Um texto envolvente (depois, é claro, que nos adaptamos ao “Saramaguês”), inusitado e não poucas vezes divertido, engraçado mesmo. Dei muita risada em algumas passagens. Um tema absolutamente fantástico sendo conduzido com muita sensibilidade por um verdadeiro mestre.
(10.07.2007)
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Luíza | ig: @odisseiadelivros 29/03/2020

Leitura de quarentena #1
O meu primeiro livro do Saramago foi lido em uma quarentena. Talvez não o melhor momento para ler um livro em que ocorra um evento tão incomum. Ou talvez seja o momento ideal, a depender da perspectiva. Ainda não me decidi.
O evento incomum, que ocorre nas primeiras páginas do livro após uma série de digressões que farão sentido ao decorrer da história, é a cisão da Península Ibérica do restante da Europa. Simples assim. Em um momento, a Espanha dividia a fronteira com a Espanha; no outro, um espaço começava a se abrir.
Um evento tão incomum deveria ter uma explicação lógica, não? Ora, pelo pouco que ouvi falar de Saramago, isso não é tão necessário. A partir daí, somos formalmente apresentados a quatro personagens, a partir da viagem do primeiro: Joaquim Sassa, que arremessou ao mar uma pedra de massa superior a que conseguiria normalmente carregar; José Anaiço, um homem que subitamente passa a ser perseguido por milhares de estorninhos; Pedro Orce, que sente vibrações do chão, mesmo que ninguém as sinta; e Joana Carda, cujo risco no chão com uma vara de olmeiro a faz acreditar que possui culpa pela cisão. Há, posteriormente, a integração da personagem Maria Guavaira, que encontrou uma meia que não termina de se desfazer, e de um Cão, que os guia em determinado ponto da história.
É com esses personagens que Saramago faz uma analogia à criação da União Ibérica, na qual Portugal e Espanha ficaram à deriva, como se realmente se desprendessem do continente e navegassem (como ocorre no livro) pelo Oceano Atlântico como uma grande jangada de pedra. Não barco, nem navio, veja bem, jangada, como de importância inferior. Tão inferior que o mundo reage com pouco caso, exceto os Estados Unidos que querem saber como podem se beneficiar da situação.
É uma analogia política, de modo que a população, a "arraia-miúda", é deixada de lado nesse interím. Mais à deriva do que a Península Ibérica. Por isso, o foco são esses seis personagens aparentemente comuns, que de repente se tornam incomuns, e que, subitamente, perdem-se da normalidade e se encontram para se estabelecer em meio ao caos. É um livro belo quanto a sua metáfora, que nos faz pensar juntamente com as reflexões do narrador a respeito não só da política, mas da vida humana.
A dificuldade maior foi superar a dificuldade da linguagem de Saramago. É ainda muito difícil pra mim, talvez lendo-o mais eu possa superar essa barreira. O outro empecilho são as diversas divagações, que, em um primeiro momento, não parecem ter finalidade, mas de certa forma se encaixam na narrativa. E os personagens. São meio apáticos, difíceis de se conectar. Talvez eu ainda não esteja na vibe Saramago e talvez nunca vá entendê-lo de fato.
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Jeff_Rodrigo 13/11/2023

Imagina viver num país tão desconexo com a realidade do continente à sua volta que, em um belo dia, ele se descola da sua massa continental e passa a navegar à deriva, sem capitão, sem rumo e sem futuro no horizonte.

Seria uma crítica à sociedade portuguesa? Uma homenagem ao destino manifesto de Portugal (navegar é preciso, viver não é preciso)? Uma sátira (de muito bom gosto) aos conservadores e saudosos do regime salazarista? Tudo isso misturado?

Não sei. Para mim, foi uma bela paulada do Zé Saramago! Muito pertinente com o cenário político e cultural recente, aliás!
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asteuwick 04/07/2020

O Poder das Palavras..
O que mais me encantou no livro não foi a história, mas sim a forma com que ele é escrito. A escolha e organização de palavras de Saramago é simplesmente sublime.
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Rafael 25/03/2023

Saramago é sempre uma leitura densa
E não seria diferente com "A jangada de pedra". Mas, mais uma vez, Saramago traça críticas pontuais em um cenário onde vemos a Península Ibérica se separando do continente graças a um suposto risco na terra feito por Joana Carda em uma simples brincadeira.


Claro que é completamente difícil de crer em uma separação de continentes, mas Saramago nos faz acreditar em cada detalhe com duas longas descrições e aqueles velhos parágrafos intermináveis. É engraçado e real como os países reagiriam em questão de relações internacionais sobre de quem é a responsabilidade da jangada. Além disso, os personagens demonstram como se sentem à mercê da sociedade, vivendo em viagens, crises alimentares e viagens dentro da sua própria jangada. Temos três homens, duas mulheres, um cão (que eu queria pra mim) e dois cavalos que se conhecem na circunstância e fazem nos questionar sobre a bondade do ser humano.

Não é uma leitura que flui tão bem, por isso a demora em finalizar e a nota :)
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Renato Américo 01/07/2019

“É bem certo que as palavras nunca estão à altura da grandeza dos momentos.”
O que fazer quando seu mundo está a deriva? Nessas páginas encantadoras, Saramago tece com profunda sensibilidade um retrato sobre o sentido da Busca.
Da mais improvável das rupturas, a iminência de uma tragédia. E quem dirá que nunca, ao sentir a terra tremer e o céu rodopiar após uma separação, questionou-se a si sobre si? Perdidos (e, talvez por isso, finalmente livres) esses personagens, esses países, essas culturas se questionam e buscam (estradas possíveis de um destino irremediável) por identidade, propósito e redenção.
Lendo este livro aprendi que, de certa forma, também me questiono e busco.
Nos descaminhos de uma Ibéria em extinção, reconhecemos um pouco daquilo que habita em nós mesmos e que, improvável como uma jangada de pedra, ainda insiste em navegar. Como canta Humberto Gessinger: "Meu coração é um porto sem endereço certo, é um deserto em pleno mar."
Jess.Carmo 01/07/2019minha estante
Estava sentindo sua falta aqui no Skoob, Renato.


Renato Américo 01/07/2019minha estante
Muito obrigado querida! Ultimamente estive sem tempo realmente, mas espero agora poder retomar as leituras. :)


biagonfei 02/07/2019minha estante
Adorei a resenha!! Me deu muita vontade de ler o livro. Saramago está na minha listinha pessoal de leitura, com certeza. ;)




Saraiva 04/02/2024

KKKKKKK eu demorei MUITO pra entender o que tava rolando poxa nenhuma vírgula assim fica difícil mas muito bom parabéns
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Ana 28/04/2013

Com o homem começa o que não é visível ~
Minha segunda leitura de Saramago veio nos mesmos moldes que a primeira: por uma "obrigação" da faculdade, aparentemente. No fundo, creio que a razão é muito mais profunda que essa, pois essa leitura teve o peso de qualquer coisa, menos de obrigação.

Não conseguiria descrever, nesse curto espaço, todas as qualidades e características de Saramago. Deixo isso para quem sabe, ou para o dia em que eu queira fazê-lo decentemente.

Para os futuros leitores, só é preciso esclarecer poucos pontos:

a) Não é uma leitura de ação, cheia de acontecimentos e reviravoltas. Elas até existem, mas são mais lentas. O livro é feito com base nas ironias, mensagens nas entrelinhas e comparações, todas tão poeticamente lindas. É feito em cima de muita crítica.

b) Não existe outro escritor como Saramago. Todos deveriam se render, nem que seja um pouco, à essa poética e à essa sagacidade louca.

"A Jangada de Pedra" é um livro profundíssimo, com muitas nuances e segredos; fala da condição humana, do insólitos e do desprendimento. Da eterna viagem que todos nós estamos sempre fazendo.

Sem mais: recomendo a todos.
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Flavio P. Oliveira 17/09/2012

Este livro eu gostaria de ter escrito
Este livro eu gostaria de ter escrito...

Saramago nos apresenta uma história inusitada para fazer uma poderosa crítica à comunidade européia e aqueles que consideram Espanha e Portugal como irmãos pobres; todavia, vai além disso. Usando ora das aventuras dos personagens principais ora das novidades e desespero de duas pátrias, Saramago demonstra que a rotina da sociedade disfarçada em aparente organização cívica pode ser demolida adiante um extraordinário evento... Os personagens principais, cada qual, têm motivo ou crença na culpa pessoal, portanto acabam se aventurando em busca de respostas.

Com um começo que nos empurra ladeira abaixo e um final..., Saramago comprime uma deliciosa aventura, uma história belíssima com humor e muitos momentos de angústia; para pensarmos e imaginarmos o que faríamos em situações complicadas e inexplicáveis. É um romance único, que nos leva a pensar que tipo de vida levaríamos se vivêssemos numa jangada de pedra.
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