Os livros e os dias

Os livros e os dias Alberto Manguel




Resenhas - Os Livros e os Dias


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Arsenio Meira 22/06/2013

"Veneno antimonotonia" e Muito Mais

"Os livros e os Dias" é, a um só tempo, declaração de amor à leitura e registro da importância dos livros; um "veneno antimonotonia". Guardar os livros como neste verso do poeta, filosofo e letrista Antônio Cicero: "Por isso, melhor se guarda o vôo de um pássaro/ Do que de um pássaro sem vôos."

Durante um ano (de junho de2002 a maio de 2003), Alberto Manguel escolheu 12 livros que considerava importantes na sua formação como leitor-escritor, para usar sua própria definição, e os releu, no ritmo de um por mês. Enquanto lia, anotava suas impressões, sempre relacionando com outros livros e tentando enxergar o cotidiano com a preciosa ajuda das suas leituras.

Em dado momento, conclui que um livro sempre leva a outros, em uma progressão semelhante a uma bola de neve montanha abaixo.

Em forma de diário, as anotações de Manguel revelam ora seu encantamento ora toda a acuidade do seu espírito crítico.

Ao comentar "O signo dos quatro", uma das novelas de ficção policial protagonizadas por Sherlock Holmes, ele assume sua posição pacifista e contrária ao totalitarismo e ao estado policial vigente nos Estados Unidos, a partir da prosa de Conan Doyle, para quem tudo aquilo que não fosse britânico era pervertido ou exótico.

Em suas anotações, o escritor constrói reflexões usando comentários sobre o livro “do mês”, recordações ou impressões de fatos reais e memórias de outros romances ou ensaios lidos em momentos diferentes da sua vida.

Em julho de 2002, por exemplo, foi a vez de "A ilha do dr. Moreau." Manguel define o autor, H.G. Wells, como “extraordinário criador de nomes” e demonstra isso com a expressão “A Casa da Dor”, quando um dos personagens define os uivos de um animal agonizante como “extraordinária expressão de sofrimento”.

Deste ponto, nos leva até sua terra natal, a Argentina, e constrói a cínica imagem de um militar, um torturador que confessou ter se acostumado com a “expressão de sofrimento” das suas vítimas.

Sempre com a dor em mente, deixa para trás a ditadura argentina e volta à literatura, onde encontra num trecho de Tempos difíceis, de Charles Dickens, uma “dor, em algum lugar da sala”.

Essa estrutura, usada sempre na dose certa, conduz o leitor por temas complexos, apresentados de forma enxuta e além da superfície. Por vezes, são alfineitadas que instigam o leitor a sair da zona do conforto e passar a pensar um pouco sobre temas tão necessários quanto incômodos.

Os livros e os dias é um livro para quem gosta de ler, aquele leitor que lê em todos os lugares e alimenta mil manias em sua biblioteca. Um livro para que pessoas não se sintam sozinhas.
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Coruja 17/07/2020

Entra ano, sai ano e penso comigo mesma em me dedicar a releituras de antigos favoritos e ver como eles envelheceram no meu gosto. Invariavelmente adio tal projeto, pois ainda tenho vários títulos não lidos à espera na estante e me sinto culpada em não dar prioridade a eles. A não ser que haja necessidade real - será um livro que vou debater no clube do livro, preciso dele para uma pesquisa, ou ainda, comprei uma edição ou tradução nova -, fico tentando me controlar toda vez que passo pela estante no corredor e meu olho cai em algum desses candidatos a releitura.

A quarentena mudou um pouco esse ponto de vista porque, mais do que nunca, passei a desejar o conforto de velhos conhecidos. Felizmente, reencontrá-los anos depois não me desapontou nem um pouco.

Entre as releituras que tenho feito está essa pequena jóia: Os Livros e os Dias do argentino naturalizado canadense Alberto Manguel, um volume que é - ora vejam só - um diário de releituras de antigos favoritos que o autor manteve durante um ano. Apropriado, não é mesmo? Um dia vou experimentar fazer um projeto igual a esse.

São doze títulos ao todo, um por mês: A invenção de Morel, de Adolfo Bioy Casares, seguido de A ilha do dr. Moreau, de H. G. Wells; Kim, do Kipling, e Memórias de além-túmulo, de Chateaubriand; O signo dos quatro, do Doyle; As afinidades eletivas, de Goethe; O vento nos salgueiros, de Kenneth Grahame; Dom Quixote de Cervantes; O deserto dos tártaros, de Buzzati; O livro de cabeceira, de Sei Shonagon, O livro sagrado, de Margaret Atwood e, para completar, Memórias póstumas de Brás Cubas, do nosso Machado.

De forma bastante livre, Manguel escreve sobre o que vai lendo (e um título vai puxando outro), os lugares por onde passa (durante o ano em que trabalhou nesse título, ele viajou bastante, de sua casa no interior da França para o Canadá, Argentina, Alemanha e por aí afora) e as pessoas com quem convive. Ele não está preocupado em ser crítico, em fazer análises profundas e geniais; pelo contrário, sua prosa é despretensiosa e mais afeita aos meandros da memória que da teoria literária.

É uma viagem por memórias para mim também. Dou-me conta de que li A Invenção de Morel (que não gostei muito à época) e O Vento nos Salgueiros (que está nos meus favoritos) por influência dele. Descubro que minha ligação mental entre Thaddeus Sholto de e Oscar Wilde deriva dos comentários de Manguel sobre Sherlock Holmes. Percebo também que ele foi o primeiro a me apresentar a ideia de viajar para encontrar meus personagens flutuantes. Talvez tenha sido o primeiro a me fazer pensar que listas eram uma boa maneira de me expressar.

Encontro algumas anotações quase apagadas, feitas a lápis nas margens. Adiciono mais outras. Esse é um daqueles livros que mais se valoriza com rabiscos do leitor.

Com suas confissões, seus comentários do cotidiano, suas lembranças de menino, da ditadura argentina, de seus anos de estudante nômade, Manguel vai construindo uma cumplicidade com o leitor que torna Os Livros e os Dias um deleite. E ele faz isso com uma elegância discreta que não intimida mesmo quem não esteja familizarizado com a imensa bagagem cultural que ele traz nessas páginas.

Ao terminar essa leitura, foi procurar a data em que o li pela primeira vez, numa época em que não mantinha planilhas das minhas leituras. Descobri que aparentemente esqueci de marcar a data no Skoob e no Goodreads. Mas havia pistas: devorei vários dos livros do Manguel em 2010, quando não apenas o descobri, como também o encontrei pessoalmente na Fliporto; e A Invenção de Morel está registrado em março de 2011, o que me leva a concluir que foi em algum momento entre essas datas. Feita essa arqueologia literária, calculo que minha primeira leitura ocorreu há quase dez anos, o que significa que era de fato um bom tempo para redescobri-lo.

E esse é de fato um livro que merece ser constantemente redescoberto, relido, daqueles que envelhecem bem conosco. Para os quais voltamos atrás de uma citação, ou quando lemos (ou relemos) um dos títulos que Manguel compartilha conosco. Ele é um daqueles autores críticos que, mais que uma análise, nos oferecem memórias afetivas e o conforto de um refúgio em meio ao caos do cotidiano.

site: https://owlsroof.blogspot.com/2020/07/os-livros-e-os-dias-o-diario-de.html
Marta Skoober 18/07/2020minha estante
Também li (e reli) O vento nos salgueiros por causa dele.
E também o vi na Fliporto, aliás fui até lá exclusivamente para vê-lo.


Coruja 20/07/2020minha estante
Somos duas! Eu fui na Fliporto por causa dele. Assisti à palestra mediada pelo Agualusa, que eu não conhecia, mas de quem li "O Vendedor de Passados" quase que em seguida. Até hoje me arrependo de não saber quem era o Agualusa naquela época, teria pego autógrafo dele também...


Marta Skoober 20/07/2020minha estante
Conhecia Agualusa de entrevistas e palestras, mas não sei porque nunca li nada dele. E as palestras dele são sempre muito boas!




Locimar 12/09/2020

Uma dádiva!
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Solange Sólon Borges 19/02/2023

Existe solidão prazerosa? Sim, quando se lê e quando se escreve
Solange Sólon Borges sobre Alberto Manguel

A leitura e a escritura, atos essencialmente solitários, integram o imaginário. Apesar da ideia de se integrar uma comunidade nas redes sociais, de participar em uma ‘bolha’ na qual há borbulhas similares, de fato se é um ser único a mexer em um dispositivo e executar tarefa solo tanto quanto a leitura e a escritura o são.

O que me faz lembrar o escritor argentino Alberto Manguel: “A leitura é uma tarefa confortável, solitária, vagarosa e sensual. A escrita costumava compartilhar algumas dessas qualidades” (Os livros e os dias: um ano de leituras prazerosas, Companhia das Letras), diz o escritor ao olhar para ambos os lados da página, o verso e reverso das sílabas.

A frase dele vem acompanhada da crítica de que o escritor hoje tem certas características de caixeiro viajante e ator de repertório ao ser convocado para fazer apresentações em lugares distantes e exaltar os próprios livros como se fossem vassouras ou enciclopédias.

Essa metáfora exótica demonstra a inquietação de Manguel com sua agenda de compromissos, quando a única coisa que queria fazer era estar em casa lendo, escrevendo, viajando entre seus livros na estante.

Ao comparar a pré-existência do universo a um estado de potencialidade com o tempo e o espaço ainda em suspensão com a oferta de várias possibilidades, ele espraia ideia análoga à existência do próprio livro... quando ele ainda gravita no plano do sonho, “até que as mãos que o abrem e os olhos que o percorrem agitam as palavras e as despertam”. A necessidade de polimento tanto na vida como nas palavras dormentes em nós e em páginas recolhidas.
Óbvio que Manguel, em seu livro, compartilha leituras de títulos diversos e impressões preciosas, como, por exemplo, sobre A invenção de Morel, de Adolfo Bioy Casares, e a frase de impacto que o abre: “Hoje, nesta ilha, aconteceu um milagre”. Abertura perfeita para a pergunta que o leitor fará na sequência, ao aceitar o jogo e mergulhar na leitura: “mas qual milagre?” e virar a página em uma busca alucinada de continuação.
Um livro se ergue entre pilares que unem a experiência do escrever e a imaginação do leitor com o lastro de identificação entre ambos.

Nessa viagem percorrida, Manguel diz que olha para os livros em sua estante e pensa que eles não têm conhecimento da sua existência; só ganham vida quando ele, leitor, os abre e vira as suas páginas, e mesmo assim eles, os livros, não sabem que ele é o seu leitor.
Insciência perfeita, mistérios literários! O livro como palimpsesto, um manuscrito a ganhar novos caracteres e significados a cada vez que se reabre um volume ou um e-book e aparenta ser uma história repaginada.

Fundamental é a visão de Manguel da leitura quando participou de Fronteiras do Pensamento... a leitura como um ato de poder, porque o leitor é temido em todas as sociedades, bem como o escritor – ambos ultrapassam a normalidade das fronteiras, estabelecem identidades, questionam, refletem, enxergam além. Pelos mesmos motivos bibliotecas alimentaram fogueiras, mas o livro subsiste à crueldade daqueles que temem o conhecimento. E assim o leitor vai mantendo a possibilidade de singrar por histórias inumeráveis, seja qual for o dispositivo, físico ou digital, ávido por cultura e educação. Que se abandone o caixeiro viajante da clássica frase dos romanos, “navegar é preciso, viver não é preciso”, indo pra lá e pra cá, e adote-se o contraponto que o poeta português Fernando Pessoa avidamente faz: “viver não é necessário; o que é necessário é criar!”.

#AlbertoManguel #literatura #livros #poder #identidade #Umahistóriadaleitura #aciddadedaspalavras #fronteirasdopensamento #resenha #criticaliteraria


site: https://www.youtube.com/channel/UCJY9A_NkfSl6YDapo-akcMg
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Evy 08/07/2019

Esse livro é uma deliciaaaa!!
Eu sou apaixonada por Manguel desde a faculdade quando trabalhei o texto "O Roubo de Livros" do livro dele "A Historia da Leitura" que super indico também a todos. Depois li "A Biblioteca à Noite" que foi tema de uma exposição LINDÍSSIMA no SESC da Paulista. Me emocionei muito nessa exposição. Compartilho do amor pelos livros e leitura de Manguel. Enfim, sou fã demais do autor pra não amar qualquer coisa que ele escreva.

Esse livro li por indicação dos funcionários da Biblioteca Mario de Andrade (sigo no instagram e eles dão dicas de leituras maravilhosas). Queria ter lido em janeiro, porquê a premissa do livro é "Um Ano de Leituras Prazerosas". São 12 livros sobre os quais Manguel vai falando como um diário, contando seus dias e os livros, passando por cidades e países que está visitando, falando dos cenários e contextualizando com as leituras. É impossível não se apixonar e querer ler os livros sobre os quais fala. Inclusive não ficam só nos 12, o autor acaba fazendo citações de muitos outros livros e autores.

Fiquei super feliz de ver um autor brasileiro entre esses livros. Machado de Assis e seu MARAVILHOSO "Memorias Póstumas de Brás Cubas". Meu favorito do autor. E também favorito de Manguel que tem 5 exemplares na sua biblioteca particular. Ele faz comentários pertinentes e lindos sobre o livro e exalta o autor.

O livro é muito gostoso de ler, longe de ser erudito tem uma linguagem acessível e é um deleite pra quem divide com ele a paixão pelos livros e leitura. Super recomendo!!
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Eliel Zulato 20/08/2009

Como é quando lemos e relemos livros, e com eles lembramos e relembramos das coisas e acontecimento juntos com a leitura, livro muito interessante.....
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Cinara 21/06/2010

Irmandade de leitores
Tão grande quanto o prazer de ler um texto notável, é o de descobrir as sensações que mentes privilegiadas obtiveram desta mesma leitura. Manguel nos proporciona a atmosfera de uma conversa privada e confidencial na intimidade da meia-luz de sua biblioteca - nos oferece suas impressões pessoais de autores que nos emocionaram, renovando nosso encantamento da primeira leitura.
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Sobrinho 19/04/2018

Uma viagem com 12 paradas
Doze obras, reflexões, listas, digressões, memórias, etc. Magnífico!!!
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Paulo Sousa 20/10/2018

Os livros e os dias, de Alberto Manguel
Livro lido 3°/Out//50°/2018
Título: Os livros e os dias - um ano de leituras prazerosas
Título original: A reading diary - A year of Favourite Books
Autor: Alberto Manguel (ARG)
Tradução: José Geraldo Couto
Editora: @companhiadasletras
Ano de lançamento: 2004
Ano desta edição: 2005
Páginas: 216
Classificação: ????????
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"pensamos que o abordamos à distância [o livro], observamos suas capas se abrirem como cortinas, apreciamos o desenrolar de suas narrativas a partir de um lugar seguro na plateia, e esquecemos quanto a sobrevivência dos personagens, a própria existência da história dependem de nossa presença como leitores - de nossa curiosidade, de nosso desejo de recordar um detalhe ou de ser surpreendido por uma ausência -, como se nossa capacidade de amar tivesse criado, a partir de um emaranhado de palavras, a pessoa amada? (pag 214).
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sabe aquela música que, adentrando seus ouvidos, logo te remete a um lugar, a um momento, a uma pessoa, amados? como um certeiro toque, as portas da memória são escancaradas, os sabores reassumem antigos gostos, os cheiros permeiam ao nosso redor, sensações e sentimentos como que são revividos como em tempo real.
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o escritor argentino alberto manguel mostra, através desse livro maravilhoso, um projeto especial de releitura de alguns dos seus livros prediletos, que também é possível reviver tantos detalhes vividos bem para trás simplesmente revisitando textos queridos. em um ano, mês a mês, escolheu e releu uma grande obra de sua predileção e, à medida que o fazia, registrava novas impressões que iam sendo emaranhadas por outros textos, outras lembranças e lugares.
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?os livros e os dias? mostram a força e o poder da palavra, esse arranjo de ideias e pensamentos que, aliadas à emoção e prazer de quem as lê, é capaz de gerar e construir pequenas pérolas. e é uma delícia poder ser levado pelas impressões do escritor-leitor manguel, ser brindado por seu olhar atento nem sempre abrangente, mas simplificado pela impressão causada por um dia que finda sob a fina chuva.
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é claro que livros que falam de livros geram a ansiedade de caçar e ler os vários títulos ali citados (sem falar das consideráveis somas despendidas!), de poder buscar aquilo que tanto impressionou o leitor que nos antecedeu naquela obra. o que, certamente, é um prazer a mais, esse impulso de ampliar a nossa e boa anti-biblioteca, aqueles livros que vamos acumulando aqui e ali - mais do que poderemos ler em
uma vida - e que certamente escolherão o momento propício para serem lidos, se tempo houver. vale, e muito!
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none 19/12/2018

Manguel foi uma ótima companhia literária nesse ano. Tentei ler todos os livros mencionados para seguir a ordem desse diário. Devido à impossibilidade de encontrar ou adquirir as edições de Chateaubriand (Memoirs d'autre tombe) e de Goethe (As afinidades eletivas) e Atwood (Surfacing) em português, creio que só As afinidades eletivas foi traduzido para o português pela Penguin Companhia, mas não importa. Um dia vou completar essas leituras. Foi ótimo saber que Machado de Assis é divulgado lá fora. Manguel trata de Memórias Póstumas de Brás Cubas no último capítulo com uma graça e espontaneidade que faltam a muitos criticos e ensaístas por essas plagas. Em resumo, ler Manguel é uma delícia porque de cara ele não é chato. Torna fascinante a experiência de cada leitura. É o leitor que todos gostaríamos de ter sido. Trabalhou com Borges, viajou mundo afora e mais do que isso: livros adentro. Supiníssimo.
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Mari 28/02/2022

Esse livro é como um diário de leitura (ou releitura) de Manguel. Dividido em 12 partes, acompanhamos o autor fazer a releitura de 12 livros preferidos.
Além de ver como o autor se sente ao progredir nas leituras, podemos ver o quanto aqueles livros, quando lidos pela primeira vez, moldaram o caráter e ajudaram a construir quem Manguel é.
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