Wags 12/02/2017
A famosa banana
Na minha entrevista favorita de Hilda Hilst, feita em 1990, pelo lançamento de "O Caderno Rosa de Lori Lamby" ela diz: "Não é um livro, é uma banana", satirizando o fato de agora sim fazer algo rentável, estou me apessoando muito com a obra da dona Hilda, e fico até meio triste, pois se ela fosse escritora em outro país talvez ela se saísse muito melhor em matérias de vendas e reconhecimento, mas quem sabe não teríamos as pérolas da Trilogia Pornográfica, que está longe de ser pornografia. A bandalheira fica em segundo plano, quando vimos a crítica refinada que Hilda joga ao mercado editorial, que durante quarenta anos de carreira só "cuspiu na sua cara", como ela mesma diz.
O livro é muito controverso sim, chocante, mas acima de tudo muito engraçado, eu consigo até pensar na Hilda escrevendo as páginas e rindo com um deboche imenso enquanto tecia sua pornografia pra crianças, como uma forma de vingança, ou simplesmente uma grande brincadeira pra assustar os falsos moralistas e cidadãos de bem, que tanto existem pelo Brasil afora.
Hilda é ferrenha, certeira e não deixa passar nada, além de ser muito flexível, mesmo sendo menos sério, esse trabalho ainda conserva a boa prosa hilstiana cheia de armadilhas para que o leitor se safe, e que obtenha sua recompensa ao final, final esse que é uma grande surpresa, e um alívio (eu pelo menos achei uhahuahau).
Lori Lamby é totalmente repugnante. Repugnantemente extrovertido, repugnantemente engraçado e repugnantemente bom. Agora entendo Alcir Pécora (meu bom amigos dos seiscentos ibéricos, e agora da obra hilstiana) quando ele dá motivos do porque ler Hila Hilst, e creio ser uma leitura obrigatória para manter viva a imagem de uma das maiores escritoras do século XX no Brasil, e também como uma forma de dar justiça a uma figura genial que tanto tempo foi escondida pelas crueldades do mercado editorial brasileiro. E, por fim, parafraseando Hilda: "Eu espero que dessa vez me leiam na cápsula, no bonde, no avião, nos banheiros também".