Angústia

Angústia Graciliano Ramos




Resenhas - Angústia


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Fabio Shiva 01/09/2021

Profético e... angustiante!
Todo livro tem a sua hora e vez de ser lido. Às vezes uma leitura não nos agrada ou, pior ainda, não nos diz nada. Mas a culpa não necessariamente é do livro, nem nossa: simplesmente não era o momento certo e propício de ler aquele texto específico.

Pensei muito nisso ao finalmente engrenar na leitura dessa impressionante “Angústia” de Graciliano Ramos, que terminei com a consciência de estar diante de uma das obras-primas de nossa Literatura. Contudo tentei ler o livro pela primeira vez em 2017, e a leitura se arrastou até estagnar na página 38. Dessa vez, no entanto, li quase que prendendo a respiração, de tanto suspense, e tive que me conter para não grifar todas as páginas. O que me trouxe uma inevitável pergunta: uma vez que o livro continuava o mesmo, o que mudou em mim e no mundo entre uma leitura e outra?

É certo que nesse período relativamente curto de 4 anos mudou muita coisa. Em 2017, por exemplo, Jair Bolsonaro era apenas mais um dos “malucos” que infestam a política brasileira, potencialmente perigoso, sim, mas acima de tudo inexpressivo... Quadro bem diferente é o que tenho diante de mim nesse 2021, quando infelizmente já me acostumei a ver tantos parentes e pessoas que eu admirava defendendo as ideias abomináveis e absurdas desse mesmo “maluco”, hoje alçado à presidência do Brasil e promovendo tamanho despropósito de malefícios que as gerações futuras terão dificuldade em calcular...

Pois imaginem o meu espanto e surpresa ao encontrar nesse romance de 1936 a figura de Julião Tavares, que bem poderia ser descrito como o maior bolsominion da Literatura Brasileira:

“Julião Tavares não tinha nenhuma das qualidades que lhe atribuíam. Era um sujeito gordo, vermelho, risonho, patriota, falador e escrevedor.”

“Esse Julião, literato e bacharel, filho de um deles, tinha os dentes miúdos, afiados, e devia ser um rato, como o pai. Reacionário e católico.
– Por disciplina, entende? Considero a religião um sustentáculo da ordem, uma necessidade social.
– Se o senhor permite...
E divergi dele, porque o achei horrivelmente antipático.”

“O que não achava certo era ouvir Julião Tavares todos os dias afirmar, em linguagem pulha, que o Brasil é um mundo, os poetas alagoanos uns poetas enormes e Tavares pai, chefe da firma Tavares & Cia., um talento notável, porque juntou dinheiro. Essas coisas a gente diz no jornal, e nenhuma pessoa medianamente sensata liga importância a elas. Mas na sala de jantar, fumando, de perna trançada, é falta de vergonha. Francamente, é falta de vergonha.”

“E um cachorro daquele fazia versos, era poeta.”

Ler sobre o cinismo cheio de empáfia de Julião Tavares me ajudou a compreender atitudes até então inexplicáveis de tantos parentes e ex-amigos. E principalmente, me ajudou a perceber como Bolsonaro é apenas o catalisador dessas sombras e imundícies psicológicas que atendem pelo nome de “bolsonarismo” e que, é forçoso reconhecer, estão entranhadas como piche em nossa identidade nacional. Tomar consciência disso é renovar a confiança no processo de cura que vem a reboque do próprio bolsonarismo: só podemos curar aquilo que somos capazes de reconhecer como doença. E por isso, dentre tantos outros motivos, dou graças à Literatura!

Para não deixar dúvida de que os atuais problemas do Brasil (e do mundo) já estavam ativos há muito tempo, vejam que impressionante descrição Graciliano Ramos nos traz do fenômeno das Fake News, décadas antes da Internet e antes até mesmo da televisão:

“Até ali, àquela hora, surgia o nome do vizinho. O que mais me aborrecia era não saber se as pessoas que falavam dele acreditavam na história suja. Enchia-me de raiva por não conseguir me livrar dos fuxicos. Desprezava involuntariamente o desgraçado Lobisomem. Se aquilo fosse verdade? Não tinha verossimilhança, era aleive, disparate. Mas tanta gente repetindo as mesmas palavras.... E casos iguais já se tinham visto.”

Como um toque de ironia involuntária, até o terraplanismo é sugerido no texto de Graciliano:

“As aparências mentem. A terra não é redonda?”

Preciso dizer que esse assunto todo é nota de rodapé em “Angústia”, que trata de questões muito outras e mais amplas. Preciso mencionar, sobre a estrutura geral da trama e dos personagens, um recurso que achei genial para expressar a opressiva sensação de apequenamento, que acompanha toda a narrativa. O avô do protagonista-narrador chamava-se Trajano Pereira de Aquino Cavalcante e Silva, era realizador de façanhas boas e más. Já com o pai do protagonista começa o reducionismo:

“E meu pai, reduzido a Camilo Pereira da Silva, ficava dias inteiros manzanzando numa rede.”

À redução na extensão do nome acompanha uma diminuição na própria dignidade humana do personagem. E daí calcule-se o efeito quando descobrimos que o narrador da história chama-se simplesmente Luís da Silva! É especialmente relevante o arqui-inimigo de Luís ser o já mencionado Julião Tavares, que como ele só tem dois nomes, mas traz um aumentativo em seu nome de batismo que o torna psicologicamente maior que Luís.

Se eu fosse falar tudo o que esse livro me fez pensar, teria que escrever outro livro. Por isso me limito a destacar ainda as pérolas ásperas que a leitura de Graciliano proporciona para aqueles que amam ler e escrever:

“Passo diante de uma livraria, olho com desgosto as vitrinas, tenho a impressão de que se acham ali pessoas, exibindo títulos e preços nos rostos, vendendo-se. É uma espécie de prostituição.”

“Distraía-me com leituras inúteis. Quando me caía nas mãos uma obra ordinária, ficava contentíssimo:
– Ora, muito bem. Isto é tão ruim que eu, com trabalho, poderia fazer coisa igual.
Os livros idiotas animam a gente. Se não fossem eles, nem sei quem se atreveria a começar.”

“– Fulano é bom escritor, Luís?
Quando não conheço Fulano, respondo sempre:
– É uma besta.
E os rapazes acreditam.”

“A linguagem escrita é uma safadeza que vocês inventaram para enganar a humanidade, em negócios ou como mentiras.”

“Esforçava-me por me dedicar às minhas ocupações cacetes: (...) ler romances e arranjar uma opinião sobre eles. Não há maçada pior. A princípio a gente lê por gosto. Mas quando aquilo se torna obrigação e é preciso o sujeito dizer se a coisa é boa ou não, não há livro que não seja um estrupício.”

“O que eu precisava era ler um romance fantástico, um romance besta, em que os homens e as mulheres fossem criações absurdas, não andassem magoando-se, traindo-se. Histórias fáceis, sem almas complicadas. Infelizmente essas leituras já não me comovem.”

Ainda nesse tema da literatura, é incrivelmente profética essa passagem em que Luís fica obcecado pela ideia de ser preso e escrever um livro na cadeia:

“Faria um livro na prisão. Amarelo, papudo, faria um grande livro, que seria traduzido e circularia em muitos países. Escrevê-lo-ia a lápis, em papel de embrulho, nas margens de jornais velhos.”

“A ideia do livro aparecia com regularidade. Tentei afastá-la, porque realmente era absurdo escrever um livro numa rede, numa esteira, nas pedras cobertas de lama, pus, escarro e sangue. (...) O livro só poderia ser escrito na prisão.”

Esses trechos são duplamente impressionantes, quando sabemos que “Angústia” foi publicado quando Graciliano Ramos de fato havia sido preso pelo governo de Getúlio Vargas, pouco antes da implantação a Ditadura do Estado Novo, e que essa experiência na prisão acabou gerando talvez a maior obra de Graciliano Ramos, “Memórias do Cárcere” (https://youtu.be/Qz2iZs7cea4).

Encerro essa longa resenha com mais algumas citações poderosas da pena desse grande autor brasileiro, com gratidão e orgulho por ter nascido no mesmo país que ele:

“Esta vida monótona, agarrada à banca das nove horas ao meio-dia e das duas às cinco, é estúpida. Vida de sururu.”

“Quando a realidade me entra pelos olhos, o meu pequeno mundo desaba.”

“Para que um homem discutir, se não é obrigado a isso?”

“Como certos acontecimentos insignificantes tomam vulto, perturbam a gente! Vamos andando sem nada ver. O mundo é empastado e nevoento. Súbito uma coisa entre mil nos desperta a atenção e nos acompanha. Não sei se com os outros se dá o mesmo. Comigo é assim.”

“Movemo-nos como peças de um relógio cansado. As nossas rodas velhas, de dentes gastos, entrosam-se mal a outras rodas velhas, de dentes gastos.”

E viva Graciliano Ramos!

https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2021/09/angustia-graciliano-ramos.html



site: https://www.facebook.com/sincronicidio
Mau Correia 28/03/2022minha estante
A melhor resenha que li sobre o livro.


Fabio Shiva 09/04/2022minha estante
Gratidão por sua Luz somando!


Andréia Barbosa 07/08/2022minha estante
Resenha maravilhosa!


Fabio Shiva 06/10/2022minha estante
Gratidão, Andréia!


kimberlly 27/11/2022minha estante
A melhor resenha que já li, parabéns!.


Fabio Shiva 28/11/2022minha estante
Valeu por essa energia boa, Kimberly! Viva Graciliano!


Nic â 29/11/2022minha estante
Que resenha incrível!


Ghafa 07/02/2023minha estante
resenha maravilhosa!! e viva graciliano!


Fabio Shiva 24/06/2023minha estante
Valeu pelos comentários e por essa energia boa! Viva Graciliano!


robertallaura 07/07/2023minha estante
Senti vontade de ler o livro novamente, após rever esta resenha. Que abordagem magnífica!


Fabio Shiva 22/07/2023minha estante
OI, Roberta! Gratidão pelo comentário e por essa energia boa! Depois de reler comente o que achou dessa segunda leitura, ok?


Gabriel2709 29/07/2023minha estante
Cara é que nem você disse, as vezes não é uma leitura que agrada, ou não faz sentido pra maioria que lê ou simplesmente vê de fora.
É muito do momento mesmo.
E esse livro em específico eu estava naquelas fases de amor não correspondido da vida, e esse fato me fez se atirar esse título "angústia" que ninguém tinha me falado antes, e bom quando comecei não csg parar de ler, o livro fala muito sobre perdas, e é algo se você não estiver na vibe, não vai entender legal, vai achar que Luiz era um louco, mas quem é sempre sóbrio de espírito nesse mundo? Momentos quando ele escuta Marina chorar no banheiro pela sua parede fumando um cigarro deitado no chão de seu banheiro. Me faz pensar que era simplesmente a escassa compaixão que tiveram por ele. Tanto na infância, pela perda de seu pai Camilo quando adulto.
E Julião aparecer e ele fazer o que fez, mesmo com a hesitação que teve momentos antes de seu ato, é algo que ele tenta lidar com a melhor maneira possível, mas devido às circunstâncias em que a realidade o coloca, ele não nem um menor amparo e conselhos pra tomar decisões. É ele por ele mesmo.
"Quando me deparo com a realidade, meu pequeno mundo desaba."
E essa solidão, angústia existêncial, pra mim é algo que graciliano passa na obra, como uma crítica a esse desamparo de um ser indigente, na sociedade brasileira.
O mau presságio o perseguindo do começo ao fim da obra.
E esse livro ainda me faz pensar muito sobre o Luís, e o medo de ser ele.
Abandonado, rejeitado, ofuscado por aqueles que o cercam.


Victor 10/08/2023minha estante
Que resenha magnífica!!!


Henrique736 29/08/2023minha estante
Admirado com a sua sinopse ??????????


Fabio Shiva 30/08/2023minha estante
Gratidão pelos comentários e por essa energia boa, amigos!


Bia 06/02/2024minha estante
Uaaau! Que resenha!




Felipe 06/09/2020

Corda no bolso, o dedo coça.
Precisei(e ainda preciso) pensar bastante sobre Angústia. Uma viagem que não termina ao fim do livro, uma história cíclica. Mais uma vez Graciliano, assim como outros modernistas da segunda fase, usa o regionalismo, o realismo e o cotidiano brasileiro para conversar sobre(e criticar) as realidades socioeconômicas e culturais da época, naquele momento à beira de um golpe de Estado e Ditadura Vargas.
Acompanhamos Luís num fluxo de consciência dos mais pesados com os quais já tive contato. Se você procura uma leitura confortável, e sente conforto apenas quando há linearidade, num primeiro momento eu diria para não ler a obra mas aí lembramos que o objetivo não é ser confortável. Tanto é que o título, veja você, é Angústia.
Seria fácil dizer que há momentos do passado de Luís e um suposto presente mas vamos além disso. São passados, no plural. O próprio suposto presente pode ser um passado que envolve a narrativa das últimas e primeiras páginas do livro. Aprendemos com Einstein (ou com Dark?) que ~A diferença entre passado, presente e futuro é somente uma persistente ilusão~. Mas calma! Graciliano não se meteu com ficção científica. Estamos falando de ordem narrativa. Se o próprio narrador personagem diz “Tenho-me esforçado por tornar-me criança — e em consequência misturo coisas atuais a coisas antigas” podemos dizer que fomos avisados.
Luís é um homem complicado, contraditório, e muitas vezes hipócrita. Tê-lo como narrador nos faz às vezes concordar com o que não deveríamos, outras desconfiar com os dois pés atrás pois sabemos que é um narrador falso-onisciente. Finge saber tudo, finge ter noção do que passa na mente das outras pessoas mas precisamos lembrar que a obra é um grande solilóquio e nós avançamos com sua visão e todos os seus preconceitos.
Nasceu e criou-se em fazendas no interior de Alagoas. Família rica que viu seu Coronelismo “perder lugar” (e seu dinheiro) para o novo jeito de se viver da cidade. Uma “queda” que nós sabemos que serviu apenas para mascarar o sistema. Até hoje temos uma ótima noção de quais são as poucas famílias que tiveram todos os frutos do Coronelismo como elementos basilares de suas riquezas e influência.
Uma pena que, como Graciliano faz questão de apontar através de Luís, o novíssimo e belo Estado de Direito era apenas mais uma criação sistemática onde algumas engrenagens foram substituídas mas o âmago permanecia o mesmo. Nas mãos dos brancos ricos, o poder, e nas mãos dos pobres -principalmente negros - as escoriações.(E não é assim até hoje mesmo?)
Seu orgulho de ser neto do fazendeiro(diremos Coronel) Trajano Pereira de Aquino Cavalcante e Silva é contraposto no seu sentimento de inferioridade frente a personagens que Luís considerava rivais. Seus desejos sexuais divergem do seu conservadorismo. Seus modos do campo brigam com sua nova realidade na Capital. Numa disputa entre seus lados vence o que Luís acha mais apropriado pra cada situação. ~~Adquiro ideias novas mas essas ideias brigam com sentimentos que não me deixam.~~
Iniciei sem saber sobre o que seria e desde as primeiras páginas Graciliano me segurou. Admito que tomei um susto num momento específico. Minha paciência é mínima (leia-se nula) para casais e cenas de personagens em relacionamentos amorosos. Num ponto da história aguentei aproximadamente 15 páginas torturantes de personagens se apaixonando e seus desejos sexuais. Meu tédio apareceu e me bateu um “Até tu, Brutus?”. Estava enganado. Felizmente após essas poucas páginas Graciliano volta com a facada no bucho que eu estava esperando. Obviamente se esse é um autor que escolhe palavra por palavra o romance não estava ali apenas por entretenimento mas para desenvolver Luís e catapultar seus sentimentos e preconceitos a um vôo que só acaba numa espiral literária digna de um surrealismo que eu jamais esperava de Graciliano. Um mestre da prosa. Mesmo não tendo a mesma secura da obra onde víamos a família de Fabiano e Baleia, temos a mesma rispidez real de suas personagens. O homem escrevia.
Após concluir o livro, dê uma respirada de alguns minutos, pense um pouco e em seguida experimente reler as 10 primeiras páginas. Graciliano faz o que quer com nossa visão. Impressionante.
Minha edição tem um Posfácio muito interessante de Silviano Santiago. Dos pontos abordados um que me chamou atenção foi sobre o uso do Futuro do Pretérito para momentos de ilusão dos personagens, do quase pessimismo de Graciliano usando exemplos de Angústia e Vidas Secas. Nunca mais lerei deixando passar isso.
Por último, foi fascinante ver uma história tão forte com personagens tão interessantes que me parecem os que vejo no meu cotidiano. Vivendo todos os seus dramas por bairros e áreas que conheço, que vivo. Uma representatividade que em meio à Angústia me fazia sorrir ao ouvir a menção àquela praça, àquela esquina, àquela rua. Demorei muito pra começar a estudar e acompanhar Graciliano. Não largo mais.
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Jorlaíne 27/07/2022

Angústia!
A escrita de Graciliano é linda e fluida. O romance lembra Crime e Castigo do Dostoiévski. O título não poderia resumir melhor a obra. O que sentimos o tempo todo é a angústia do personagem diante de sua própria vida frustrada e repleta de escolhas erradas.
A Leitora Compulsiva 27/07/2022minha estante
Li Crime e Castigo e já vim correndo. Pois então vou baixar heheheh




Andréa 07/05/2010

Esse poderia ser julgado pelo título e pela capa
Angústia é o nome mais apropriado que já encontrei em um livro. Nunca se deve julgar um livro pela capa ou pelo título, mas esse poderia ser julgado corretamente nos dois ítens, pelo menos a capa da minha edição me transmitiu a mesma ideia de angústia que o título. Mas vamos ao livro em si, no início pensei que fosse apenas um livro saudosista, pois o personagem principal fala de sua infância, da família, do seu destino depois da morte do pai... Mas logo o autor nos apresenta Luiz como um funcionário publico insatisfeito, vivendo dias medíocres ao lado de pessoas sem muita pespectiva de vida e um amor não concretizado. Não é o tipo de narração que me atraia (em certos trechos me lembrou O Cortiço), mas tenho que admitir que Graciliano Ramos conseguiu neste livro, transmitir ao leitor toda a angustia que Luiz sentiu durante toda a narrativa. Terminei louca por uma boa comédia, pois estava agustiada e questionando minha própria vida.
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Let 10/02/2024

Cansativo
Quando comecei a leitura, estava com grandes expectativas, mas confesso que do meio pro final, comecei a desanimar.

É um fato que a escrita de Graciliano é primorosa, um verdadeiro mestre da literatura brasileira. Escrita única, diferenciada e sempre com um traço regionalista muito grande.
O meu "porém" foi o fato de a personagem principal, Luís, não ter mexido tanto comigo e não tão pouco a história, conseguiu me envolver como eu esperava.

Aqui falamos de uma personagem muito controversa, complexa e difícil de se decifrar. Como a obra foi escrita em primeira pessoa, em muitos momentos me senti literalmente perdida. É difícil entender o que é real, o que não é real, o que aconteceu ou o que está acontecendo... Fora as muitas repetições de pensamentos. Aqui também não há um acontecimento muito inusitado, basicamente todo livro são divagações da mente de Luís, o que na minha opinião, deixou a história muito enfadonha e cansativa. Talvez se eu tivesse lido em outro momento, teria pensado diferente, não sei. De qualquer forma, todos os clássicos merecem uma chance.
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Felipe1503 20/12/2023

Literalmente angustiante
Graciliano me pegou em cheio com esse livro. Foram incontáveis as vezes em que me
Peguei ofegante e angustiado com o fluxo de memória do Luís da Silva. O cara é extremamente ansioso e maluco.
Sem dúvidas um dos melhores que li no ano.
Ansioso para as próximas leituras do autor.
Karolaine 20/12/2023minha estante
Vidas secas super recomendo é o maior de tdssss sem dúvidas


Karolaine 20/12/2023minha estante
São Bernardo magnífico tbmmm


Felipe1503 20/12/2023minha estante
Já comprei Vidas Secas. Começo em breve




Dyllan.Johnny 11/07/2023

Bom, mas não me pegou
Realmente esse formato de fluxo de consciência é para ser lido com calma. Achei um livro bom mas não me apresentou nada, nenhum sentimento, nenhuma reflexão e quando o único conflito do livro começa ele logo termina em 5 páginas.
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rosangela 20/11/2009

Angústia
Angústia é um romance psicológico, com narrador protagonista Luís da Silva, um rapaz de 16 anos que fica só no mundo ao perder o pai e cresce menosprezado por não ter o nome grande do avô - Trajano Pereira de Aquino Cavalcante e Silva - e nem ter conquistado nada.

É interessante verificar que Graciliano Ramos inicia o romance com o que acontece no final do livro, ou seja, quando Machado de Assis começa Memórias Póstumas de Brás Cubas pelo enterro do personagem, aqui o começo se faz aos trinta dias de tortura, que Luis da Silva passa após cometer, no final do livro, um homicídio.

Luís da Silva cresce com um senso crítico aguçado ao mesmo tempo que também cresce com um sentimento agravante de baixa autoestima, de autodepreciação, que irá interferir em toda sua vida. Luís é um funcionário público lotado na Diretoria do Tesouro em Maceió-AL com um salário médio, submisso aos chefes se sente um grande estúpido em tudo que tem vontade de fazer.

Seu inimigo Julião Tavares, um conquistador de mulheres, sócio da empresa Tavares & Cia, que corrompe Marina, a namorada de Luís, com quem fazia o enxoval para o casamento. Uma mulher que em comum com Luís só mesmo a atração sexual, pois esta gostava só da luxuria, o que acabou com as economias de Luís. A cada dia que Julião tentava conquistar Marina mais Luís o odiava chegando mesmo a nutrir com o tempo, um verdadeiro asco psicótico. Luís também entra em depressão, passa a beber, não toma banhos, perambula sem qualquer vontade de existir.

Luís vivia uma vida de alucinações, que vão tomando corpo, como se fossem aos poucos se materializando conforme as oportunidades surgidas. Desliga-se de Marina e se embrenha pelos caminhos da angústia e necessidade de exterminar Julião e seus pensamentos tomam forma de cordas, fios, casos de vingança de honra, prisões e assassinatos.

Quando Marina aparece grávida é o ápice da loucura e psicose de Luís, que passa a vigiar os dois e ao descobrir que Julião manda Marina abortar, Luís se arrepende, mas chega a chamá-la de puta. E quando um mendigo lhe dá uma corda, do nada, Luís não tem mais dúvida, segue Julião até a casa da nova amante dele. Quando Julião aparece em sua frente e em meio uma névoa da madrugada Luís o enforca e prende o corpo em uma árvore.

Após isso, Luís vira um idiota que não entende mais nada, esfarrapado, sujo, atordoado e sem memória, não sai mais de casa. Tudo são abandono e sentimento de solidão, porém a simbologia do ato de Luís fica nítida no homicídio, como se Luís tivesse arrancado do mundo a raiz do mal, da injustiça, da desigualdade que tanto tinha aversão quando - mata Julião - foi como se tivesse banido da humanidade todos os homens ruins.


Romance psicológico intenso, angustiante mesmo, de um funcionário público crítico e inconformado com a rotina e desigualdade social...
Post_RMC 13/12/2009minha estante
Boa resenha! Ótimo livro.


Iara 10/07/2010minha estante
Excelente!




Jpaulooo 18/11/2021

"Eu não sou um rato"
Ao ler Angústia é impossível não lembrar e associar a "Crime e castigo", afinal, Dostoiévski foi uma das grandes inspirações de Graciliano Ramos. Não que Graciliano roube ou use dos acontecimentos que ocorrem em Crime e castigo, porque o livro apesar de semelhante, possui sua originalidade, e embora o estado mental dos protagonista sejam parecidas, os rumos das histórias são diferentes. Mas que tem em comum, a representação do homem precárias e os conflitos enfrentados por eles.

Em Angústia, iremos acompanhar o relato de Luís da Silva, um homem que cresceu no interior nordestino, conhecendo todo o cangaço e a seca, assim como os problemas provocados por eles. E com uma infância já conflituosa, ele passou muito tempo vagando de um lugar para o outro do Brasil, até que se fixar na cidade de Maceió e lá começa a trabalhar como servidor público e em suas horas livres, escreve para um jornal. Este é o tempo "presente" do livro. Digo isso porque todo o livro é um grande fluxo de consciência que vai misturando as memórias do passado (rural), com a do presente (urbano). Esse fluxo pode deixar a história bastante confusa, chata e cansativa. Porque o narrador não distingue bem em alguma momentos tornando um pouco difícil e, acima de tudo, angustiante. É assim que tá a mente do protagonista, confusa, misturada e apertada.

Luís se apaixona por sua vizinha Marina, que apesar de curtir o momento parece não corresponder ao amor de Luís, e começa a ter um caso com o "inimigo" do protagonista, Julião Tavares, o homem que Luis mais odeia, o que o deixa totalmente perturbado.

Luís da Silva está totalmente "perdido", em uma mente totalmente conflituoso, agonizante e impulsiva. Como ele é o narrador da história, ele se mostra ser um homem totalmente chato, egocêntrico, raivoso, ignorante, que só pensa nele mesmo e é extremamente repugnante, e portanto começa a corroer a história, durante muitas partes da pra perceber que ele está indo além, criando diversas teorias na sua mente. Ele está totalmente "fora de si".
Luís da Silva é um homem seco e rude, assim como o ambiente em que vive. Ele não aguenta mais aquela vida, a situação social em que vive, a pobreza, miséria e incapacidade de não conseguir mudar as coisas. Um sentimento totalmente kafkiano, preso naquele estado de total insatisfação e não poder fazer nada para mudar.

Assim como Raskólnikov (protagonista de Crime e castigo), Luís não sabe o que fazer com toda essa raiva e ódio. Ele se sente uma pessoa superior, denomina todos a sua volta como ratos, ratos inúteis e asquerosos, mas seu maior medo era se tornar um, ou perceber que era um. E está sempre pensando em uma vingança, algo que não sai da cabeça dele, mesmo que ele tente. Diferente de Crime e castigo, em que vemos o crime no início e a perda da sanidade depois. Em Angústia, não sabemos se Luís terá força e coragem de se vingar e cometer o crime que ele tanto pensa.

Por ser bastante confuso, não é livro fácil de se ler. E o protagonista ainda é chato. Leia sem pressa e no seu tempo. Mas é uma leitura que vale a pena, não só por ser escrito por Graciliano. E digo isso porque eu poderia continuar a falar bastante coisa sobre esse livro, como o contexto histórico, toda a animalização, as semelhanças que o protagonista tem com o escrito...
Matheus656 18/11/2021minha estante
Gostei demais do livro mas é difícil ler não pela estrutura narrativa (achei até que flui bem os momentos de Dialogo) mas pela angústia que você sente lendo, é desesperador




Will 31/08/2022

Bela obra psicológica nacional...
Ótimo livro, me surpreendeu positivamente a forma de escrita utilizada, confesso que me fez revisitar algumas obras da literatura russa que também exploram esse ponto de vista psicológico do personagem, usando de alguns flashbacks e perda de conexão com a realidade diante das experiências vividas. Respeitadas as devidas proporções, me trouxe a memória o estilo de Dostoievski dar vida aos seus protagonistas.
Angústia é uma leitura densa, pesada, visceral, e em alguns momentos imaginativa e até alucinógena. Nosso personagem principal não cativa, não encanta e nem é revoltante na maior parte dos momentos. É um homem sem grandes feitos, sem grandes qualidades, sem brilho, em parte fruto do ambiente hostil e em decadência no qual foi criado.
O desenrolar da história acompanha os traumas e desilusões de Luis da Silva, a causa da angústia, pensamentos desconexos e posteriormente, os atos perpetrados por uma mente perturbada e incapaz de seguir em frente diante dos infortúnios da vida. Uma leitura complexa, sombria e que mesmo num ritmo atípico de escrita, me manteve bem interessado em acompanhar o seguimento da história. Ótima leitura, digna de um escritor do porte de Graciliano Ramos.
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Debora 19/08/2021

Quando o título demonstra perfeitamente o que a leitura traz
Graciliano Ramos é tão magistral em sua escrita que, neste livro, é possível sentir a Angústia junto com o personagem. E esta angústia tem tantas fontes...
A angústia do menino que cresce no sertão em uma família estritamente masculina e, de certa forma, bem fechada. A angústia do jovem órfão que, sozinho, tem que dar um jeito de sobreviver na cidade. A angústia da solidão nesta cidade. A angústia da falta de relações verdadeiras e profundas. A angústia de ser "parafuso que gira no mesmo lugar" - assim Luis se refere à sua profissão, servidor público (faz, faz, faz sem sair do lugar). A angústia da falta de dinheiro, da fome, da pobreza, da necessidade. E, também, a angústia do ciúmes de um amor perdido para alguém com mais dinheiro - mas muito menos amor...
Esta angústia reflete na forma como Luis, narrador-protagonista, vê a vida e, portanto, se expressa.
Mas não pensem que, por isso, a leitura é chata. De forma alguma, ela é super reflexiva e interessante. Em paralelo, aprendemos um pouco sobre a Alagoas da década de 30. Vale a pena!
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Gonçalez_ 02/06/2021

Surpreendeu
Minhas expectativas estavam baixíssimas até porque é o famoso livro obrigação e depois de Terra Sonâmbula eu estava traumatizada. No começo é meio difícil entrar na história e entender oq tá acontecendo, mas depois é bem rápido pra ler, o final tipo os 10% finais é bem chatinho. Mas no geral, o livro é mt bomm! Recomendo!
Josiastds 03/06/2021minha estante
Eu rir alto aqui hahaha Surpreendeu, nota 4? hahaha


Gonçalez_ 03/06/2021minha estante
KKKKKK SIM? surpreendeu mas n amei, achei que seria sla 1 estrela


Josiastds 03/06/2021minha estante
Vou começar a ler um Best Seller, amanhã agaurde??


Gonçalez_ 03/06/2021minha estante
Uuuu qual será??




Luciano 21/01/2021

Um espetáculo de romance!
Ler Graciliano é sempre uma experiência marcante. Fiquei preso do começo ao fim.
marcelo.batista.1428 01/03/2022minha estante
Não sei se li no momento errado.. o livro me deixou bastante angustiado (mérito para o autor). Quis terminá-lo o quanto antes rsss




thais 08/05/2021

Angústia.
Não tem nada que represente mais esse livro do que o título. Difícil, doloroso, incômodo. Graciliano nos mostra os mais profundos desejos do ser humano, mesmo aqueles que nós não aceitamos e as consequências deles.
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Gabriel 02/07/2021

Vida de sururu
Sem dúvidas nenhuma é um grandioso livro da literatura brasileira. Graciliano Ramos conhece muito bem a escrita e por essa razão sabe muito bem dominá-la a seu favor. A questão do livro ter uma circularidade é fantástica. Quando a gente termina a estória e volta no início do livro parece que as coisas começam a se encaixar mais perfeitamente, começam a fazer mais sentido. Por outro lado, me senti um pouco perdido na narrativa. Eu nunca sabia em qual período do tempo ele estava, e esse fator me deixou muito confuso. É importante destacar que a narrativa não segue uma linearidade, pois as suas lembranças da infância se misturam a outros momentos da vida dele. Ouvi falar que o livro é escrito no pretérito. E também a narrativa é um fluxo de consciência, ou seja, não vai ter muitos acontecimentos, a coisa toda acontece mais na mente do personagem. E isso tudo é incrível. Além disso, talvez se eu tivesse um pouco mais de conhecimento histórico sobre a época a qual o livro foi escrito, a leitura teria sido mais proveitosa e significativa. Também não me senti muito conectado à narrativa, talvez porque o personagem principal não seja lá muito legal, mas entendo que o fato de não se identificar com o personagem de modo nenhum tira o mérito de uma narrativa. Enfim, pelo próprio título do livro já estamos cientes de que não será uma narrativa tão agradável assim. É um livro que fala muito sobre a miséria humana, a precariedade da vida, a falta de afeto, decadência, morte e críticas sociais ao governo vigente da época. Você percebe umas críticas do Luís da Silva (personagem principal) ao fato de ser orientado a apenas falar bem do governo e tudo mais. Mas reparem que o Luís da Silva é um personagem um tanto contraditório, ele diz coisas, e logo depois tem outras falas que vão no sentido contrário daquilo. Reclama muito de uma personagem feminina, lembrem-se do Bentinho de Dom Casmurro e não confiem muito kkkk. Outra coisa que eu também achei interessante do livro é que as vezes tive a mesma angústia durante a leitura de Crime e castigo do Dostoiévski. No prefácio dessa minha edição é citado que o Graciliano Ramos não levava a sério essa associação mas não tive como não fazê-la. Enfim, é um livro que pretendo reler novamente para ter uma compreensão melhor, pois sinto que há coisas que você só entende se tiver mais conhecimento sobre a própria história do Brasil e também sobre a vida do Graciliano.

Enfim, destaco um trecho que diz muito a respeito da atmosfera de Angústia:

"Se pudesse, abandonaria tudo e recomeçaria as minhas viagens. Esta vida monótona, agarrada à banca das nove horas ao meio-dia e duas às cinco, é estúpida. Vida de sururu. Estúpida"

Essa expressão vida de sururu valeu pelo livro inteiro kkkkkk.
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