Maria - Blog Pétalas de Liberdade 03/12/2015"Sou loucamente triste e, em algum lugar lá no fundo, tudo o que quero é voar." "E acabei de perceber que posso ser a autora da minha própria história, mas todo mundo também é dono da sua própria história e, às vezes, como agora, as histórias não se sobrepõem." (página 314)
Num livro que ganhei, veio um folheto com um trecho de O céu está em todo lugar. Normalmente não presto muita atenção nesses folhetos, mas esse eu li, e fiquei com muita vontade de ler o livro, mas muita vontade mesmo! Coloquei na minha lista de desejados. Consegui emprestado e gostei tanto da história quanto suspeitei que gostaria ao ler o folheto. O céu está em todo lugar se tornou um dos meus favoritos! E preparem-se para uma resenha cheia de quotes!
Lennie Walker, a protagonista, tem 17 anos, é clarinetista, já leu O morro dos ventos uivantes mais de 20 vezes e gosta de escrever bilhetes e escondê-los em qualquer canto. Ela tem uma família pouco convencional, mora com sua avó e com Big, seu tio com voz de trovão. A avó e o tio tem uma aparência marcante, são altos se comparados as outras pessoas. Bailey. A irmã mais velha de Lennie, também morava com eles, até seu coração parar de bater e ela morrer de forma inesperada.
"Mas então, de repente, começo a perder o fôlego, afundando-me no cimento duro e frio que é a minha vida agora, pois me lembro de que não posso correr para casa depois da escola para contar a Bails sobre o novo garoto da banda." (página 21)
Com a morte de Bailey, a vida de Lennie virou de pernas pro ar. Lennie sempre se sentiu confortável na sombra da irmã. Desde que a mãe das duas sumiu no mundo, quando elas ainda eram bem pequenas, uma se apoiava na outra. Lennie está em uma fase muito difícil, nem sua avó, nem seu tio, nem Sarah, sua melhor amiga, parecem ser capazes de entender a dimensão de seu sofrimento. Toby, o cowboy skatista namorado de Bailey, e Lennie se aproximam, um parece encontrar algum conforto na presença do outro, já que ambos amavam Bailey profundamente. Mas dessa aproximação, começam a surgir sentimentos inesperados, uma atração louca.
"A última gaveta está cheia de cadernos da escola, anos de trabalho agora inúteis. Pego um deles, deslizo meus dedos pela capa, seguro-o contra meu peito e então o coloco na caixa. Todo o seu conhecimento não vale mais nada. Tudo o que ela aprendeu a vida toda e ouviu e viu. A sua forma específica de ver Hamlet ou as margaridas, ou a sua ideia sobre o amor, todos os seus complexos pensamentos escondidos e as consequentes reflexões secretas - tudo isso se foi também. Um dia ouvi esta máxima: 'Toda vez que alguém morre, uma biblioteca se incendeia'. Estou vendo uma ser queimada diante de mim." (página 234)
A vida amorosa de Lennie era extremamente parada até então, mas além de Toby, surge Joe, um garoto novo na escola, excelente tocador de violão. Joe traz uma lufada de ar fresco para vida da família Walker, ele começa a frequentar a casa deles, é como se nos momentos em que ele está presente, Big, a vovó e até Lennie conseguissem voltar a viver.
Lennie, com sua paixão pelos livros, pela música e por escrever, precisa aprender a viver sem a confortável proteção de sua irmã, precisa aprender a suportar a dor da perda e enxergar e compreender as pessoas ao seu redor. Tenho dificuldade para identificar se um personagem evoluiu ou não durante um livro ou uma série, mas a evolução de Lennie é evidente.
"Como foi que, de aficionada por livros e nerd de banda passei a ser a levada-com-dois-caras-no-mesmo-dia?
A vovó sorri, sem saber da bile súbita que vem à minha garganta, do meu estômago que se contorce. Afaga meu cabelo novamente.
- No meio dessa tragédia toda, você está crescendo, e isso é uma coisa maravilhosa.
Suspiro." (página 210)
Narrado por Lennie, O céu está em todo lugar fala sobre a morte, sobre as descobertas da adolescência, sobre o amor e sobre famílias. A história é intensa, emocionante, reflexiva e também divertida. Minha vontade era ler e ler sem parar! Era como se eu estivesse ao lado de Lennie o tempo todo, no Refúgio (como ela chamava seu quarto), no rio (onde ela ia passear), em todos os lugares onde as cenas aconteciam. Todos os personagens são marcantes e bem construídos, estão longe de serem perfeitos, mas nos cativam. Preciso falar mais sobre o Joe, talvez seja o garoto mais encantador que já conheci nos livros, impossível não se sentir vivo perto dele.
"Ele praticamente pula em cima de mim. Seu quociente de felicidade me deixa impressionada. Na fábrica de humanos, alguém deve ter se enganado e colocado uma dose a mais nele do que no resto de nós. - Pensei em um dueto que podíamos fazer. Só preciso alterar alguns arranjos..." (página 195)
"Mais tarde, enquanto toca sem cessar, toda a névoa desaparece. Ele tem razão. É exatamente isso, sou loucamente triste e, em algum lugar lá no fundo, tudo o que quero é voar." (página 112)
Talvez eu me identifique demais e goste muito de personagens assim, loucamente tristes e com vontade de voar, talvez eu seja assim, mas nem todas as pessoas gostam. Acho que há pessoas que entendem e há pessoas que não entendem e nem querem entender o que os outros sentem, o grupo dos que não entendem talvez não goste de um livro tão intenso assim.
Um ponto que achei interessante foi sobre o fato de a mãe de Lennie ter deixado a garota com a avó, no livro é questionado se fosse o pai que tivesse abandonado a filha, se essa situação causaria tanto espanto.
"- Toda família tem suas coisas, certo? E essa tendência, seja lá o que for, por alguma razão, é típica da nossa família. Seria pior, se sofrêssemos de depressão ou alcoolismo ou amargura. Nossos familiares aflitos apenas caem na estrada..." (página 284)
Gostei da capa, é bonita e relacionada com a história. A revisão está boa, as páginas são amareladas, com bom tamanho de letras, espaçamento e margens, e as letras são azuis, e não pretas, como na maioria dos livros. Ele é dividido em capítulos, e tem reproduções dos bilhetes que a Lennie escrevia, essas reproduções parecem tão reais que cheguei ao ponto de passar a mão em uma página, tentando desamassar as bordas de um bilhete em um pedaço de papel! Foi um trabalho admirável da Editora Novo Conceito!
"Estou anotando um poema na sola do sapato quando eles voltam.
- Acabou o papel? - Joe pergunta.
Abaixo o pé. Argh. Qual a sua especialidade, Lennie? Ah, é: idiotologia.
Joe senta-se com todos os seus membros em graciosos movimentos, um perfeito polvo.
Estamos olhando para ele novamente, ainda incertos sobre o que fazer com o estranho no meio de nós. Contudo, o estranho parece estar bem confortável conosco." (página 107)
Tomei essa frase para mim:
"... pergunto-me como um imenso amor por alguém pode caber dentro do meu corpo franzino." (página 372)
Detalhes: 424 páginas, ISBN: 9788563219374, Skoob (média de notas: 4,2/5). Onde comprar online: Americanas, Submarino.
Enfim, acho que deu para notar pelo tamanho da resenha e pelo tanto de citações que coloquei, que eu amei O céu está em todo lugar, tanto que dei 5 estrelas na minha classificação no Skoob e coloquei na minha lista de favoritos, algo que acontece com poucos livros que leio (mas eu adoraria que acontecesse com mais frequência, que todo livro que eu lê-se me encantasse tanto que se tornasse meu favorito).
Em 2015, foi lançado no Brasil, um outro livro da autora, com o título de "Eu te darei o Sol" (que estou com muita vontade de ler; e o que dizer dos títulos poéticos dos livros dessa autora?), e vi muitos elogios à autora nas resenhas que li sobre ele. Então, recomendo para os leitores de "Eu te darei o Sol", que também leiam O céu está em todo lugar. E recomendo também para todos os leitores, para que possam conhecer e serem tocados pela história da Lennie.
"Sempre me senti parte de uma narrativa, mas não como autora dela, ou como se tivesse algo a contar sobre ela, qualquer que fosse.
Você pode contar a sua história da maldita maneira que quiser.
É o seu solo." (página 287)
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http://petalasdeliberdade.blogspot.com.br/2015/12/resenha-livro-o-ceu-esta-em-todo-lugar.html