Mitologias

Mitologias Roland Barthes




Resenhas - Mitologias


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graziiffraga 13/12/2022

Mito
Conceito interessante para entender como a comunicação pode ser usada para criar sentidos para as coisas, chegando a mudar completamente o significado delas ao longo do tempo. Li por causa de uma disciplina teórica da faculdade e dá luz a esse conceito da mitologia de uma forma bem didática.
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Tauana Mariana 10/02/2011

Cap. 2 - O mito hoje
O mito é uma fala.
Não uma fala qualquer, são necessárias condições especiais para que a linguagem se transforme em mito. O mito é um sistema de comunicação, uma mensagem. Não sendo objeto, conceito ou idéia.
O mito é um modo de significação, uma forma. Ele não se define pelo objeto de sua mensagem, mas pela maneira como o profere: o mito tem limites, formas, contudo, não substanciais.
Pode-se conceber que haja mitos antiguíssimos, mas não eternos, pois é a história que transforma o real em discurso, é ela e só ela que comanda a vida e a morte da linguagem mítica. O mito é uma fala escolhida pela história. Essa fala é uma mensagem que pode ser oral, escrita ou representações.
Todas as matérias-primas do mito pressupõe uma consciência significante. A linguagem, o discurso, a fala, são toda a unidade, ou toda síntese significativa, quer seja verbal, quer seja visual.

O mito como sistema semiológico
A semiologia é uma ciência das formas, visto que estuda as significações, independentemente de seu conteúdo. A mitologia faz parte simultaneamente da semiologia, como ciência formal, e da ideologia, como ciência histórica: ela estuda ideias-em-forma.
Na semiologia temos o significante, o significado e o signo. Este é o total associativo dos dois primeiros termos. O significante é vazio, e o signo é pleno, é um sentido. Para Saussure, o significado é o conceito, o significante é a imagem acústica, e a relação entre o conceito e a imagem é o signo, entidade concreta.
O sonho, para Freud, não é o seu conteúdo manifesto, nem o seu conteúdo latente, mas sim a ligação funcional de ambos os termos. Na crítica Sartriana finalmente, o significado é constituído pela crise original do sujeito, a literatura como discurso e a relação da crise com o discurso, define a obra, que é uma significação.
A semiologia só pode comportar uma unidade no nível das formas, e não dos conteúdos, o seu campo é limitado, tem por objeto apenas a linguagem e só conhece uma operação: a leitura e o deciframento.
No mito, pode-se encontrar o esquema tridimensional: o significante, o significado e o signo. Mas o mito é um sistema particular, visto que ele se constrói a partir de uma cadeia semiológica que já existe antes dele: é um sistema semiológico segundo. O que é signo (totalidade associativa de um conceito e de uma imagem), no primeiro sistema, transforma-se num simples significado no segundo.
É necessário recordar que as matérias-primas da fala mítica (língua, fotografia, pintura, cartaz, rito, objeto...), por mais diferentes que sejam inicialmente, desde o momento que são captadas pelo mito, reduzem-se a uma pura função significante: o mito vê nelas apenas uma matéria-prima, a sua unidade provém do fato de serem todas reduzidas ao simples estatuto de linguagem. O mito considera uma totalidade de signos, um signo global, o termo final de uma primeira cadeia semiológica. Tudo se passa como se o mito deslocasse de um nível o sistema formal das primeiras significações.

No mito, existem dois sistemas semiológicos, um deles deslocado em relação ao outro: um sistema lingüístico, a língua, que Barthes chama de linguagem-objeto, porque é a linguagem de que o mito se serve para construir seu próprio sistema; e o próprio mito, que Barthes chama de metalinguagem, porque ú uma segunda língua, na qual se fala da primeira.
O semiólogo deve tratar do mesmo modo a escrita e a imagem porque o que ele retém delas é que ambas são signos e chegam ao limiar do mito dotadas da mesma função significante, tanto uma como a outra constituem uma linguagem-objeto.
O significante pode ser encarado, no mito, sob dois pontos de vista: como termo final do sistema liguístico ou como termo inicial do sistema mítico. No plano da língua, Barthes chama o significante de sentido, no plano do mito, o chama de forma, e significado continua chamando-o de conceito. O autor chama o terceiro termo do mito (signo) de significações, esta palavra cai aqui como uma luva, segundo o autor, porque o mito tem efetivamente uma dupla função: designa e notifica, faz compreender e impõe.

A forma e o conceito
O significante do mito se apresenta de uma maneira ambígua: é simultaneamente sentido e forma, pleno de um lado, vazio de outro. O sentido do mito tem um valor próprio e faz parte de uma história: no sentido, já está constituída uma significação, que poderia facilmente bastar-se a si própria se o mito não a tomasse por sua conta e não a transformasse subitamente numa forma vazia, parasitária. O sentido já está completo, postula um saber, um passado, uma memória, uma ordem comparativa dos fatos.
O ponto capital é que a forma não suprima o sentido, apenas o empobrece, afasta-o, conservando-o a sua disposição. Cremos que o sentido vai morrer, mas é uma morte prorrogada: o sentido perde o seu valor, mas conserva a vida, que vai alimentar a forma do mito. O sentido passa a ser para a forma como que uma reserva instantânea de história.
Significado: o conceito é determinado, sendo, simultaneamente, histórico e intencional, é a força motriz que faz proferir o mito. O conceito restabelece uma cadeia de causas e efeitos, de motivações e de intenções. Ao contrário da forma, o conceito não é absolutamente abstrato, mas está repleto de uma situação. Graças ao conceito, toda uma nova história é implantada no mito.
Passando do sentido à forma, a imagem perde parte do seu saber: torna-se disponível para o saber do conceito. O saber contido no conceito mítico é um saber confuso, constituído por associações frágeis, ilimitadas.
Caráter aberto do conceito: não é absolutamente uma essência abstrata, purificada, mas sim uma condensação informal, instável, nebulosa, cuja unidade e a coerência provém, sobretudo, da sua função.
Pode-se dizer que a característica fundamental do conceito mítico é de ser apropriado. O conceito corresponde a uma função precisa: defini-se como uma tendência.
Sistema Freudiano: para Freud, o segundo termo do sistema é o sentido latente (o conteúdo) do sonho, da neurose. Freud constata que o sentido segundo do comportamento é o seu sentido próprio, ele é a própria intenção do comportamento.
Um significado pode ter vários significantes: é o caso do conceito mítico. Podemos encontrar mil imagens que significam a imperialidade francesa. Essa repetição do conceito por meio de formas diferentes é preciosa para o mitólogo, pois lhe permite decifrar o mito: é a insistência num comportamento que revela a sua intenção.
No mito, o conceito pode cobrir uma grande extensão de significante. Não existe rigidez alguma nos conceitos míticos: podem constituir-se, alterar-se, desfazer-se, desaparecer completamente. E é precisamente porque são históricos, que a História pode facilmente suprimi-los.

A significação
A significação é o próprio mito. No mito, os dois primeiros termos são perfeitamente manifestos: um não se “esconde” atrás do outro, estão ambos presentes. O mito não esconde nada: tem como função deformar, não fazer desaparecer. No caso do mito oral, essa extensão é linear, no mito visual, a extensão é multidimensional.
A relação que une o conceito do mito ao sentido é essencialmente uma relação de deformação. No mito, significante tem duas faces: uma face plena, que é o sentido, e uma face vazia, que é a forma. O que o sentido deforma é a face plena, o sentido. O conceito, estritamente, deforma, mas não elimina o sentido: existe um termo que significa exatamente essa contradição, alienando-o.
O mito é um sistema duplo, no qual se produz uma espécie de ubiqüidade: o ponto de partida do mito é constituído pelo ponto final de um sentido. No mito, reproduz exatamente a física do álibi. O mito é um valor, não tem a verdade como sanção: nada o impede de ser um perpétuo álibi, basta que o seu significante tenha duas faces para sempre dispor de um “outro lado”: o sentido existe sempre para apresentar a forma, a forma existe para distanciar o sentido. O mito é uma fala definida pela sua intenção, muito mais do que pela sua literalidade.
O mito possui um caráter imperativo, interpelador: tendo surgido de um conceito histórico, visto diretamente da contingência, é a mim que ele se dirige. Está voltado para mim, impõe-me sua força intencional.
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