mbskoob 28/08/2023
Tenho para mim que o amor é o que há de mais importante no mundo
Herman Hesse não só concretizou seu destino na literatura como também traduziu um povo e uma religião quando, em 1922, na Alemanha, era publicado pela primeira vez "Sidarta". O alemão, naturalizado suíço, foi exepcional quando decidiu utilizar-se da dialética socrática (dialética grega) para narrar uma história hindu, assim abrindo incontáveis portas e viabilizando o acesso global à essa cultura. O romance, ao contrário do que muitos pensam, não é um mero ato de religiocentrismo por parte do autor, que passou grande parte de sua vida se dedicando aos estudos dos povos indus, ao contrário, pode ser visto também como uma crítica, uma ressalva, um questionamento, não só em relação ao budismo em si, mas para todas as doutrinas mundanas, afinal, 'palavras não podem ser amadas, e por isso não nos servem as doutrinas'.
Diante da crítica e além de tudo o que já foi abordado, temos a evidente narrativa do menino brâmane - narrativa esta que se assemelha muito à história do próprio Augusto, Sidarta Gautama, o Buda histórico - que decide se tornar um asceta e parte em busca, junto ao seu amigo, Govinda, de uma doutrina que o sirva de verdade. Dito tudo isso, devo terminar falando que o livro é realmente extraordinário e que não deveria ser pré-julgado por sua fama em grupos hippies, que, visando seu objetivo supérfluo, acabam por glorificar apenas um pequeno recorte de uma das maiores obras narrativa-religiosa já escritas. Nesse contexto, existe também um paralelo interessante entre os diferentes segmentos da narrativa (o prazer da mente, o prazer do corpo e o "equilíbrio" de ambos) e a própria travessia no rio, onde a cidade representaria a vida mundana de Sidarta, o campo idealizaria a vida de asceta e o rio - a parte final do livro - trabalharia com o meio termo entre esses dois mundos, a Iluminação, o Nirvana.
Todos deveriam ter sua própria experiência com o Sidarta (como personagem), seja qual for o motivo para o procurá-lo, sempre resultará em aprendizado e paz, enfim... "Todas as coisas podem ser nossas mestras se soubermos ouví-las."