Letícia 03/07/2021
No ano passado, virei fã de Hermann Hesse. Depois de estrear com Demian, uma das leituras mais marcantes de 2020, decidi prosseguir a leitura da obra do Nobel de Literatura de 1946 com Sidarta. Publicado em 1922, o romance narra a jornada espiritual e de autodescoberta de um jovem brâmane na Índia do limiar do budismo.
O Sidarta do título não é o Buda histórico, Sidarta Gotama, que, segundo reza a lenda, alcançou a iluminação após renunciar ao mundo material. O Sidarta de Hesse também almeja o Nirvana, porém sua trajetória e seus métodos destoam dos empreendidos pelo Buda.
A princípio, tendo abandonado família e amigos para se tornar um asceta, Sidarta busca a plenitude por meio da superação do ego, mas, apesar de todos os esforços, não logra dissociar-se dos seus anseios e instintos. Mais tarde, ele percebe que não atingirá seu objetivo por meio de nenhuma doutrina, nem mesmo a do Buda, mas apenas pela experiência individual. A revelação, ele intui, não é conhecida pelo relato alheio, chega a cada um por vias inteiramente subjetivas.
Sidarta decide, então, se entregar à vida mundana, dominada pelos sentidos e pelos prazeres carnais. Também assim não obtém sucesso. Somente ao abandonar a luxúria e os vícios, outras formas de fuga do eu, e ganhar consciência da realidade, do aqui-agora, é que ele descobre o caminho para a redenção, aquilo que os escritos sagrados e os grandes sábios não puderam lhe ensinar.
Influenciado pela teoria da individuação junguiana, Hesse nos mostra que a sabedoria é construída no íntimo de nosso ser, por meio de nossas vivências, não podendo ser comunicada e repetida. Além disso, o autor traz um noção heideggeriana de tempo e revela o sofrimento causado pela separação ilusória entre passado, presente e futuro. Um dos principais aprendizados de Sidarta é ver a existência como fluxo contínuo, repleto de potencialidades.
Sidarta é um livro que convoca o leitor à vida, a fazer-se presente e assumir seu lugar no mundo, a enxergar a beleza que o rodeia e a abrir-se a todas as fontes de conhecimento. A felicidade pode vir dos lugares mais surpreendentes.
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