Caebri 23/04/2021
Ler ou não ler?
Concluí recentemente a leitura de tudo o que pude encontrar sobre Locke & Key e decidi fazer uma resenha-guia geral aqui, nesse primeiro volume, compartilhando uma perspectiva sobre trama, volumes, sugestão de leitura e tal.
A trama principal, responsável por dar origem à toda mitologia e publicada de 2008 a 2013, foi intitulada "Locke & Key: the phantom menace" e reúne seis volumes, no total de 35 capítulos. Cada volume tem entre 160 e 190 páginas. São
1. Welcome to Lovecraft (2008)
2. Head Games (2009)
3. Crown of Shadows (2009/10)
4. Keys to the Kingdom (2010/11)
5. Clockworks (2011/12)
6. Alpha & Omega (2012/13)
Nesses volumes, acompanhamos a história de uma geração moderna da família Locke: Rendell (pai), Nina (mãe), Tyler (filho mais velho), Kinsey (filha do meio) e Bode (o mais jovem).
A trama gira em torno da misteriosa mansão chamada Keyhouse e de um acontecimento não-resolvido sobre o passado de Rendell, que, por via dele, é assassinado logo nas primeiras páginas. Antes disso, porém, ele indica que a Keyhouse é o local mais seguro para sua família, caso algo acontecesse, e é para lá que ela vai após o funeral. Cabe apontar aqui que temáticas como luto, alcoolismo, preconceito, sexo e violência estão presentes, mesmo que os protagonistas sejam adolescentes. E posso garantir que eles amadurecem ao longo do percurso, bem como os outros personagens são bem desenvolvidos e possuem uma verossimilhança palpável nas reações e iniciativas - intrigas, "burrice" adolescente, inconsequência, conflitos sociais e amorosos, por aí vai.
Bom, não demora para que Bode encontre "chaves mágicas" na mansão e seus arredores, contando aos irmãos e descobrindo sobre suas funções - não vou ilustrar com nenhum exemplo aqui, pois descobrir o que elas fazem faz parte da graça da hq. E também não demora para que o "vilão" da série surja. Ele é chamado de "eco", "mulher do poço", "Dodge" e algumas outras coisas, e seu objetivo é reunir as chaves para um fim maior. Sendo assim, conforme ele vai se infiltrando na família Locke e por ela sendo combatido, também vai revelando mais sobre Rendell.
É no volume 5 que, de fato, acompanhamos a origem das chaves, durante a Revolução Americana, e também sobre a juventude de Rendell na década de 80. Até que esse volume chegue, cada um de seus filhos recebe foco na narrativa, junto aos demais que figuram no centro do mistério.
Em palavras próprias, posso comentar que essa trama diz respeito à relações familiares problemáticas, amadurecimento, acertos e erros e, principalmente, redenção. Cada personagem tem algo no qual se arrepende e está seguindo em frente, ora aos empurrões, ora encorajados por um estado melhor...
Recomendo fortemente que comece a ler, caso vá, por esses volumes. Pois a outra saga, "Locke & Key: Golden Age", além de se passar no século 20, entre 1912 e 1945, requer que saiba-se o mínimo sobre as funções das chaves e, assim, pode ser melhor aproveitada caso já se conheça a Keyhouse. Contudo, é como o "Prelúdio" de Sandman: você pode começar por ele, por se passar antes da saga principal, mas talvez perca algumas coisas que nela é explicada.
Bom, Golden Age comporta tanto capítulos únicos (ainda em publicação. Vou listar os disponíveis com uma breve sinopse a seguir, incluindo capítulos únicos comemorativos e alheios a esse título) quanto a "World War Key", e compartilham entre si outra geração da família Locke no protagonismo: Chamberlin (o pai, atento aos avanços tecnológicos e científicos do mundo; um "inventor"), Fiona (mãe) e os filhos Ian, Jack, Jean e Mary. Mary, inclusive, é a protagonista (até o momento) de Hell and Gone, o crossover com Sandman.
Sobre os capítulos únicos, com cerca de 25/35 páginas, cada, e listados não por ordem de lançamento, mas numa tentativa cronológica de acontecimentos
- Small World (2016) - É aniversário de Jean, e logo será o de Mary. Para comemorar a data, Chamberlin presenteia as filhas com uma casa de bonecas mágica: ela representa a Keyhouse de forma literal, só que em dimensão menor. E essa é a premissa para acontecimentos que, diferente dos 6 volumes principais, são menos carregados e mais divertidos.
- Open the moon (2011) - Ian, o filho mais jovem, que sofre com um tumor e convulsões frequentes, ouve uma história do pai sobre a lua, e é uma viagem até ela que configura uma trama melancólica; uma despedida. Esse capítulo é tomado como o #0 de Hell and Gone.
-Dog days (2019) - Os filhos de Mary (até onde me lembro) estão tendo um dia agradável com um amigo um tanto curioso. Diria até que com o "melhor amigo" possível. Também é uma capítulo leve, fofo.
-Grindhouse (2012) - É o capítulo único com mais tensão, já que três homens, após um assalto a um resort, refugiam-se, com más intenções, na Keyhouse enquanto aguardam a chegada de um barco para a fuga. Mal sabiam eles que as chaves também podem ser usadas para uma armadilha contra aqueles que tentam qualquer coisa contra Mary e Jean.
- In the can (2009) - Estamos novamente na década de Tyler, Kinsey e Bode. Eles estão explorando as cercanias da Keyhouse, em busca de novas portas/chaves. Enquanto Tyler e Kinsey discutem, Bode precisa aliviar a bexiga e... acaba encontrando um fosso/casinha do banheiro que é mais do que parece ser, cheio das referências.
- Nailed it (2019) - Esse capítulo mostra o que aconteceu com a Keyhouse após o final do volume 6 da série principal. É bem curto e animador.
Resta, então, mais três capítulos de Golden Age, que contam uma história só e foram chamados de "...In pale battalions go...". Neles, o foco está em Jack, que também é chamado de John e Jonathan. Ele é o filho mais velho de Chamberlin e deseja se alistar na 1ª Guerra, lutar contra os alemães. Seu pai dispensa essa possibilidade e é confrontado pelo filho, o qual diz que as chaves podem ser usadas como uma arma bélica contra os inimigos; que quer servir seu país... enfim, ele está decidido a conseguir o que quer, mesmo que tenha de manipular a mãe a irmã. Mesmo que isso traga para sua família uma tragédia tão irreparável que... bom, Jack acaba se suicidando por causa dessa tragédia.
Esses três capítulos são indispensáveis para que melhor se aproveite o crossover com Sandman, já que seu primeiro capítulo se inicia justamente com Chamberlein ainda lidando com as consequências das escolhas que Jack fez e com sua morte. É interessante notar que, em um desses três capítulos, há uma referência ao Lucien e Abel, do Sonhar.
Lucien, Abel, Caim, os pesadelos Bruto e Glob, Verde do Violinista e Coríntio são os nossos já conhecidos personagens que aparecem em Hell and Gone #1, além de Morfeu e Burgess. Brevemente resumindo, Mary (lembra que indiquei ela como protagonista?) vai atrás de Burgess, o mago que queria capturar a Morte e acabou aprisionando seu irmão mais novo, e pede para que ele a ajude a chegar no Inferno. Aparentemente, ela quer acabar com o sofrimento do pai ao resgatar Jack e talvez alguém mais. Mas ela acaba parando no Sonhar...
E a continuação dessa série promete.