skuser02844 15/05/2023
Esperava um romance bobo, terminei refletindo sobre minha vida inteira
O livro conta a história de Elizabeth, uma mulher que, desde a primeira vez que li a sinopse, me identifiquei. E isso não foi lá muito bom. Elizabeth tenta controlar tudo a sua volta, e, com isso, deixa de viver plenamente muitas coisas. Ela carrega traumas, alguns tão profundos que foram soterrados por falsas memórias da infância. E todo esse controle vem do medo, de ser como a mãe, de não agradar, de decepcionar os outros. Com isso, ela permitiu que todos ao seu redor controlassem os rumos de sua vida. Ela nunca coloca suas vontades em primeiro lugar. E ainda nutre um rancor pelo lugar onde vive, e usa diversas justificativas para isso, sem investigar as origens desse ódio.
O outro pilar dessa história é Ivan, um homem, ou entidade, um ser, humano, que não envelhece, e que vaga entre as pessoas sem ser visto, até encontrar alguém que precise de sua ajuda e que o enxergue. O que costumamos chamar de amigo imaginário.
Ele se aproxima de Luke, sobrinho de Elizabeth, e, aos poucos percebe que é Elizabeth quem precisa de sua ajuda. Ivan não é humano, e talvez por isso seja um personagem, não perfeito, mas muito interessante, ele sabe ser leve, talvez por lidar tanto com crianças, e ao mesmo tempo sabe fazer as perguntas certas para fazer com que as pessoas peguem uma pá e comecem a cavar seus mais profundos traumas. Definitivamente um personagem apaixonante, que por vezes parece imaturo, e outras, muito maduro.
Sinceramente, eu esperava um romance doce, com um final feliz, mas esse livro não é sobre isso. Este não é um daqueles livros em que todos os problemas se resolvem com soluções simples. Ele é um livro sobre como lidamos com nossos traumas e sobre como lidamos com as pessoas em nossa vida. Ele fala sobre egoísmo e empatia, fala sobre precisarmos nos doar, mas não esquecer de nós mesmos para agradar aos outros. Fala da importância da amizade e do amor, mas também das diversas formas em que os encontramos e de como devemos respeitar o caminho dos outros. E principalmente, fala que ninguém é perfeito, e que devemos aproveitar o tempo que passamos com aqueles que amamos. E acima de tudo, devemos encarar o medo de viver de frente, conscientes das feridas e dos prazeres que virão com isso.
O livro é incrível e leve ao mesmo tempo em que aborda assuntos muito pesados. Como disse, ele não mostra que problemas complexos serão solucionados num piscar de olhos com algumas frases motivacionais, ele apresenta reflexões, cabe a nós trabalhar nelas. Assim como para Elizabeth que aprende nessa jornada não a mudar os outros, mas a decidir o que tem prioridade para ela, que ela não é responsável por todos a sua volta e, principalmente, que ela não precisa manter o controle sobre tudo sempre.