spoiler visualizarLeonardo 15/12/2012
Descrito como sublime por Thomas Mann, este excelente romance valeu a Hermann Hesse a atribuição do Premio Nobel da Literatura em 1946.
Joseph Knecht é um estudante bastante dotado que foi descoberto e recrutado pelo Mestre da Música da Ordem de Castália, uma sociedade quase monástica onde se cultiva o estudo de todas as ciências e artes, sem lugar para a história e temas relacionados com a sociedade, sendo uma referência da nação e fornecedor de professores nas disciplinas mais puras e sublimes, tais como a matemática e a música. A joia da coroa de Castália é o Jogo das Contas de Vidro, que consiste numa arte de montagem de divagações racionais a partir de qualquer tipo de conhecimento puro, misturando quaisquer disciplinas deste. Knecht é um homem que, devido às suas capacidades, mas, sobretudo, devido à sua abertura de espírito, rapidamente ascende ao lugar de Magister Ludi, supremo Mestre do Jogo das Contas de Vidro. O seu percurso de vida é deveras singular, permitindo que Knecht confronte e complemente os seus conhecimentos e crescente sabedoria com vários sábios representantes de diferentes apologias face à vida.
Nos seus primeiros tempos em Castália é nomeado para ser seu representante nas discussões com Designori, pessoa do mundo secular que defende a vida do homem fora de elitismos de sabedoria tais como são vividos em Castália, com constantes críticas à mesma, mas amigavelmente rebatidas por Knecht. Após a sua formação, Knecht parte em viagem pelo reino de Castália (cuja Ordem tem instalações em várias partes da nação), aprofundando os seus conhecimentos, tomando contato com um sábio expulso de Castália pelo seu excesso de misticismo, a quem chamam “O Irmão Mais Velho”, aprendendo com ele novas perspectivas sobre o conhecimento e a sabedoria.
Pouco depois, é designado para passar alguns anos num Mosteiro, para uma aproximação maior de Castália à Igreja, onde encontra Frei Jakob, outro grande sábio, desta feita na vertente histórica/religiosa, com quem aprende muito e trava discussões bastante interessantes.
Fruto de todas estas experiências, Knecht cria uma aura de calma, serena e ampla sabedoria que o torna o candidato preferencial para o lugar de Mestre do Jogo das Contas de Vidro, quando este falece.
Mas não para por aqui a fantástica aprendizagem de Knecht. No declínio da velhice do Mestre da Música (o seu tutor na juventude) constata nele a silenciosa sabedoria de quem tudo compreendeu. E, com Tegularius, seu colega em Castália e maior admirador, as desvantagens de uma postura rígida face à necessidade de flexibilidade quer em relação às instituições, quer em relação a conhecimentos opostos aos seus (de Castália). Interiormente, é cada vez maior a constatação da existência dos dois polos, por Knecht: o aprofundamento ou a diversidade, representando esta última o eterno recomeço e a verdadeira apetência do ser humano na busca da sabedoria.
O reencontro com Designori se dá muitos anos depois dos seus confrontos de juventude, ambos desiludidos com a sua vida atual, mas que desperta em Knecht o rumo a seguir nos anos seguintes.
Todo este percurso, conforme previsto desde o início do livro, vai ter um final inevitável: embriagado por um constante aumento de sabedoria, Castália já não pode satisfazer Knecht, que, após uma brilhante troca de cartas e discussão com o presidente Mestre Alexander, vai sair de Castália e voltar à vida secular, seguindo a sua intuição que, até aí, lhe tinha sido sempre preciosa na sua busca pela sabedoria, mas que, depois, lhe vai proporcionar um final inglório embora comovente e revelador.
Por tudo aquilo que eu disse acima, posso considerar este romance como um romance de ideias, apesar do forte enfoque na personalidade de Joseph Knecht, símbolo irreal de um homem completamente aberto a todo o tipo de conhecimentos e sabedoria, que tudo absorve e potencia na sua visão sobre a vida, cumprindo sem limites o potencial maximizado do ser humano na sua busca da compreensão do mundo.