Karamaru 24/01/2019
O PREÇO DA AMBIÇÃO
Se há uma palavra para justificar as ações dos personagens dos contos desse livro de Arlt, ela é, sem dúvida, "ambição". Movidos por uma incisiva ganância material, são capazes de tramar e cometer crimes sórdidos, os quais, todavia, não ficam impunes.
Chama a atenção o estilo do autor: direto, pragmático, econômico; ele não dá espaço para divagações sentimentais. As ações são rápidas e há uma urgência em narrar.
Os personagens centrais, por exemplo, são apresentados já na primeira linha: "Antônio Fligtebaud assassinava, em média, um homem por ano" (primeiro parágrafo do conto "A vingança do macaco").
Outro exemplo interessante é que, nas marcações temporais, um parágrafo contendo uma única palavra - Noite. - às vezes é suficiente para indicar a mudança temporal.
Essa concisão talvez seja uma herança do seu ofício nas redações de jornais argentinos. Inclusive, Pablo Rocca, que assina o posfácio, reproduz a seguinte declaração do autor: "Escrevi sempre em redações barulhentas, acossado pela obrigação da coluna diária".
Os sete contos da coletânea reforçam uma das máximas das narrativas policiais: "ninguém é suficientemente esperto o quanto pensa". Haverá sempre um vestígio denunciador que, seja por descuido ou limitação imaginativa, contribuirá para que a verdade venha à lume.
Nessa toada, destaco os dois contos, para mim, mais interessantes: "A pista dos dentes de ouro" - o mais diferente do conjunto, por explorar o anticlímax -, e "A vingança do macaco" - cruel, irônico e carregado de simbologia, uma pequena obra-prima.
Um livro gostoso de ler, fluido e instigante, mas que, apesar das qualidades do autor, não traz consideráveis inovações ao gênero. Com certeza, uma obra que prenuncia as grandes obras de Roberto Arlt.