Makan 02/05/2015
Algo além dos combates
Livros voltados a relatarem os acontecimentos decorridos na Guerra do Paraguai, de praxe, versam sobre: o Imperador D. Pedro II, o Presidente do Paraguai Solano López, os heróis da tropa aliada, os generais, almirantes, coronéis. Nesse ponto, Homens e Mulheres na Guerra do Paraguai, apresenta uma proposta diferente, nos permitindo vislumbrar figuras que costumeiramente são alijados dos anais da história, os soldados, cidadãos comuns e escravos, alforriados ou não, nos permite, ainda, voltarmos o olhar às mulheres que acompanhavam as colunas dos exércitos, sejam amasiadas de militares de baixa patente, auxiliares dos hospitais, lavadeiras, prostitutas da tropa e todas as que atendiam pela alcunha de “vivandeiras”.
O livro não está comprometido com a descrição histórica precisa, então, com a liberdade do uso da ficção e de forma romantizada, os combates e avanços militares servem apenas de pano de fundo, para a apresentação de uma visão minimalista e humana do tétrico período que durou a Guerra do Paraguai. Conforme avançamos na narrativa nos é exposto os sonhos e aspirações das camadas mais simplórias da população envolvida no embate, como exemplo, um dos voluntários da pátria economizava seu soldo, por acreditar que ao retornar na condição de herói, seu patrão venderia a alforria de sua mãe a preço módico. Os pormenores não se limitam ao lado aliado, trazendo a lume as agruras do povo paraguaio, como o terrível destino das famílias daqueles que naquele país contrariavam López.
Não só dos anônimos se ocupam os autores, nomes de vulto como o Duque de Caxias, o General Osório, o Presidente argentino Bartolomeu Mitre e o Almirante Tamandaré, são comentados, porém de forma comedida. Na menção dos notáveis é que um ponto chama a atenção, a companheira de Solano López, a irlandesa Elisa Alicia Lynch, é alçada a condição de grande vilã e orientadora dos cruéis eventos, desencadeados pelo comando paraguaio contra sua própria gente.
Essa leitura é válida como um viés alternativo às leituras sobre o tema, os quais ou voltam-se apenas a dados técnico militares, ou a exposição dos fatos de forma parcial obscurecendo o outro lado dos acontecimentos, os autores ao nos possibilitar, mesmo com emprego de fatos ficcionais, contemplarmos o esforço da tropa brasileira e a abnegação suicida do povo paraguaio e assim, sem condenarmos os acontecimentos com os olhos de hoje, distinguir a evidência de que a guerra não é benéfica aos vencedores e arrasadora com os vencidos.