Alê | @alexandrejjr 05/01/2021
O homem que sempre esteve lá
Eis aqui o difícil desafio de escrever, concisamente, um texto sobre um livro com mais de 600 páginas. Difícil abordar todas as possibilidades, mas não impossível.
Para tentar falar sobre “Poesia” é preciso informar que essa compilação da Companhia das Letras reúne, em edição bilíngue, os últimos sete livros do mestre dos textos curtos (sim, isso mesmo: Borges não deixou em seu legado nenhum romance). Os leitores que por ventura desejem encarar esse tijolo irão encontrar a mente expansiva do escritor, com suas inquietações existenciais e filosóficas, a famosa erudição e uma certa acessibilidade. Aliás, sobre isso fica aqui a indicação para ler “Poesia” acompanhado, se possível, de “Borges babilônico”, livro de verbetes organizado por Jorge Schwartz, uma obra essencial - e salvadora - para qualquer um que pretenda ler o argentino.
Agora, preciso compartilhar algo com vocês. Para mim, Jorge Luis Borges é o homem que sempre esteve lá, simples assim. Lá onde, cara pálida? Respondo. No indefinido, no desconhecido. Borges é o escritor que cruzou, de corpo e alma, a linha limítrofe entre a realidade e a imaginação. Talvez por isso muitos continuem a dizer, ainda hoje, que ele foi uma pessoa muito desligada. Mas isso é autoexplicativo, basta permitir-se entrar no mundo borgeano.
Borges, como todos os pecadores, tinha suas obsessões. As dele eram, a grosso modo, a incógnita do tempo, os incompreensíveis espelhos e os tortuosos labirintos, sendo estes últimos a metáfora perfeita para alguém como ele, que era amante das incertezas. Sim, eu sei, são palavras chaves de qualquer um que entra para o fã clube deste que figura entre os principais escritores do século XX, mas a verdade é que em algum momento vamos esbarrar nesses três temas principais.
Seria injusto da minha parte escolher os poemas preferidos que compõem o livro. Eu também não sei dizer se gostei mais deles traduzidos ou no original, mesmo entendendo porcamente espanhol. A única afirmação que posso fazer é que a poesia de Borges é triunfante, pois após a leitura, mesmo daqueles versos em que não entendemos nada ou pouca coisa, sentimos algo acontecer conosco, mesmo que seja somente por um momento e talvez fosse exatamente isso que Borges sentia: o momento.