Leila de Carvalho e Gonçalves 11/07/2018
Cruzada Contra As Tentações Mundanas
Após cento e cinquenta anos de sua morte, Alexandre Dumas continua sendo um dos mais aclamados escritores franceses. Afinal, quem nunca ouviu falar das aventuras de Athos, Porthos e Aramis ou acompanhou a impiedosa vingança de Edmond Dantès?
No entanto, se você quiser fugir do óbvio, o escritor possui boas opções de leitura dentre seus livros menos conhecidos. Uma delas é "O Colar de Veludo", um romance com aproximadamente de 200 páginas que apresenta escrita elegante e estilo folhetinesco numa curiosa narrativa que reúne fatos históricos e ficção.
Publicado em 1850, seu protagonista é um jovem artista chamado Hoffmann (uma homenagem ao compositor e escritor homônimo) que deixa a pequena cidade de Mannheim para realizar o sonho de conhecer Paris. Noivo da bela Antonia, antes de partir ele faz um pacto de fidelidade, prometendo regressar em poucos meses. No entanto, ele se apaixona por Arsène, uma misteriosa bailarina do Théàtre de Saint Martin, e quebra a promessa.
Essa jovem é a dona do tal colar e amante de Danton, famoso estadista e contra-revolucionário francês. Com relação a joia, ela sempre atraiu meu interesse e trata-se de uma faixa de veludo negro com fecho no formato de guilhotina e um broche de diamantes no centro.
Enfim, como já deve ter dado para perceber, o fio condutor do romance é a difícil cruzada de Hoffmann contra as tentações mundanas. Além do desejo carnal, ele tem de enfrentar o vício pelos jogos de azar. Todavia, essa é sua única chance para arrumar dinheiro suficiente para conquistar o coração de Arsène, habituada com uma vida de luxo e prazeres.
Para quem é menos afeito aos romances de Dumas, o maior desafio está no preciosismo da linguagem e no estilo descritivo. À primeira vista, esses seriam seus maiores defeitos, entretanto, mediante um olhar mais acurado, na verdade, são suas maiores qualidades, afinal, sua recriação de cenários e personagens é simplesmente primorosa, aliás, diferente da concisão que marca a literatura contemporânea.
Sondando a loucura e até mesmo flertando com o sobrenatural, confesso que estranhei a temática e o desfecho. Aliás, acredito que esse livro daria um filme incrível nas mãos de Tim Burton. Todavia, ao ler o posfácio, uma homenagem ao amigo e escritor Charles Nodier, recém-falecido na época, tive uma surpresa. Essa história foi apresentado por Nodier a Dumas, quando ele estava à beira da morte. Dúvida esclarecida, não deixe de ler, é outra joia que faz parte do livro.