spoiler visualizarRony 28/04/2023
O fim de tudo
Essa série - literalmente - me acompanhou por metade da minha vida. Encerrá-la é agridoce num nível pessoal. E queria eu que Garth Nix tivesse escrito um encerramento igualmente agridoce.
O livro tem momentos bem melancólicos em sua primeira metade que me agradam muitíssimo: a transformação final de Arthur em um Denizen, Folha assumindo o posto de Guardiã da Porta da Frente da Casa, Arthur criando um ser a partir do Nada. Há amadurecimento e consequências. Além desse espaço análogo ao Jardim do Éden ser uma ótima escolha de cenário para o grande final dessa aventura.
No entanto o autor não se arrisca. Ele desperdiça alguns capítulos com redundâncias (eu precisava mesmo ver a chegada da Folha na Middle House pela perspectiva dela e da Suzy?) e estica certas sequências para além do necessário (eu precisava acompanhar mesmo cada etapa da jornada de Folha e Suzy até a chegada ao Elysium se não há revelações significativas no caminho?). Em vez disso, Arthur poderia ter que enfrentar embates morais. Imagina se Lord Sunday tivesse revelado o que aconteceria se todas as partes do Testamento se unissem e Arthur tivesse que tomar uma decisão consciente entre obter todas as Chaves ou abdicá-las? Ou mesmo se ele tivesse refletido mais a fundo sobre o peso real entre criar um novo universo do zero ou manter o seu próprio com todas as coisas desfuncionais que existem nele?
Infelizmente Nix não investe em dilemas que poderiam tornar sua obra um grande marco da fantasia. Parece que ele decide ativamente subestimar seu público alvo ao entregar apenas a emoção da aventura.
Ele nem ao menos investe nas relações humanas. Arthur perdeu a mãe, mas... Nunca tivemos uma cena relevante dos dois ao longo dos sete livros para realmente nos importarmos com isso. E nem presenciamos seu luto com o fato. É uma morte vazia de significado, assim como os amigos que Arthur fez e que nem sequer são mencionados: os Raised Rats, os Denizens que deixou como Noon, Dusk e Dawn de diferentes partes da Casa etc.
Mesmo a conexão da Arquiteta com qualquer um de seus três filhos (uma reunião que aguardei muito ansiosamente) é irrelevante.
Se nada tem dimensão, complexidade ou carga emocional, talvez o mundo possa mesmo acabar que não fará muita diferença.