O Caminho para Wigan Pier

O Caminho para Wigan Pier George Orwell




Resenhas - A Caminho de Wigan


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Jeff Ettore 19/05/2014

Sem palavras...
Jorjão ficou profundamente impressionado com o que viu, e eu também. Suas descrições da miséria, do cheiro e das condições de vida dos mineradores e das suas famílias atingem em cheio o leitor. Orwell simplesmente não observou essa realidade, ele pegou sua mala, lápis e papel e realmente viveu entre esses mineiros, ele entrou em diversas minas para fazer da sua obra autentica e verdadeira, ele fez o jornalismo verdadeiro e escreveu com a alma, coisa bem diferente do que vemos hoje, com repórteres explorando o sofrimento das pessoas ao mesmo tempo em que estão preocupados em como estão se saindo diante da câmera. A segunda parte é uma dura crítica em tom confessional sobre a estrutura social da Inglaterra e o preconceito de classes. Também faz críticas com uma boa dose de ironia aos socialistas ingleses cada vez mais distantes dos trabalhadores . O livro conta com boas ilustrações que melhoram ainda mais a obra. Para se tornar fã de Jorjão basta apenas ler uma única página desse grande autor.


site: alicenascorrentes.blogspot.com.br
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Vitor J. 08/09/2020

O livro que procurava
De certo, este livro me entregou o que eu procurava a um bom tempo, sem ter nenhuma referência literária, tive a curiosidade de conhecer o autor George Orwell que tanto é elogiado na Revolução dos Bichos. Neste que li conta as experiências de Orwell convivendo e descrevendo a vida dos trabalhadores de uma região mais pobre da Inglaterra dos anos 30. Além da segunda parte que conta com críticas ao preconceito de classes e aos socialistas ingleses da época. Uma maravilha de livro recomendo muito !
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Eloisa 30/08/2021

Mais uma vez, encantada por esse homem
Em 1936, George Orwell aceitou a encomenda para escrever um livro sobre a situação dos mineiros de carvão e da classe trabalhadora do norte da Inglaterra.

Dessa empreitada de dois meses vivendo nos bairros operários temos O Caminho para Wigan Pier que está dividido em duas partes. A primeira é uma descrição do que viu, ouviu e sentiu, dos principais problemas enfrentados pelos mineiros e suas famílias. A segunda parte é um grande ensaio sobre o desemprego na Inglaterra, o socialismo e a ameaça do fascismo e de uma próxima guerra.

Admiro muito o poder descritivo de Orwell e aqui podemos apreciar essa potência como em poucas outras obras dele. Em uma linguagem crua, dura e envolvente, ele te transporta para dentro dos lares e pensões ou para as profundezas das minas de carvão, onde tudo ganha vida. Os cheiros, os barulhos e a umidade dentro daquelas construções em ruínas, dos barracões e das carroças onde vivem famílias de até onze pessoas. Nas minas, ele te leva em um elevador lotado para experimentar a escuridão, o calor, o ar sufocante. Tudo fica muito nítido. Algumas vezes precisei parar a leitura no meio do capítulo, é difícil não se sentir o peso da miséria daquelas pessoas.

Em seguida, de forma abrupta, ele inicia um texto ensaístico em tom quase que didático e muito polêmico. Apreciar Orwell discorrendo sobre a divisão de classes na Inglaterra, a impossibilidade delas desaparecem no país e a sequência de críticas a vários grupos é bem interessante e, em certos momentos, engraçada. A classe média é analisada de forma muito irônica, os socialistas ingleses são colocados como os culpados pelo socialismo não vingar no país e o imperialismo também não passa desapercebido.

Apesar de ser um livro muito inglês, há análises e questionamentos que se encaixam em qualquer lugar. A visão que George Orwell traça do seu próprio tempo e da sua própria ideologia é certeira em muitos pontos, ele consegue traçar um certo distanciamento de tudo isso e fazer prospectivas que realmente se cumpriram.

O tom de urgência em um posicionamento da Inglaterra contra o fascismo e o medo da destruição da Europa por uma nova guerra, que era praticamente certa, também estão no livro.

Afirmo que explorar o modo de vida dos mineiros ingleses e o período entre guerras com Orwell vale muito à pena.
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Fernanda 21/09/2023

O Caminho para Wigan Pier
O Caminho para Wigan Pier ou o Manifesto do Partido Socialista, para mim esse livro poderia carregar ambos os nomes.
Acho que diferente de muita gente, eu conheci (e comecei a adorar) Orwell com ?Na Pior em Paris e Londres? e para mim continua sendo uma das minhas obras preferidas, pois, à época, foi algo muito diferente do que eu costumava ler, e o choque abriu caminho para admiração.
Pelo texto de apoio, parece que O Caminho para Wigan Pier seria uma evolução de Orwell daquilo que ele começou em Na Pior, contudo, especialmente por causa da segunda parte do livro, a leitura foi muito maçante. Obviamente, algumas observações de Orwell ?didn?t aged well?, mas eu entendo a ânsia dele de consertar o mundo com uma revolução socialista. De qualquer forma, foi um livro OK.
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Dalmo 29/04/2021

Um Orwell que poucos conhecem
Escrever resenhas de certos autores e temas não é uma tarefa nada fácil, mas não deixa de ser prazerosa. Com George Orwell não poderia ser diferente. Escritor memorável e mundialmente famoso, principalmente por causa de dois grandes livros - "A Revolução dos Bichos" (1945) e "1984" (1949), Orwell possui uma rica e tortuosa história de vida. Socialista, mas anti-stalinista e defensor da justiça e da liberdade (sic), aparentava possuir uma genuína preocupação com as condições de vida da classe operária inglesa e com o avanço do fascismo e do autoritarismo.


"O Caminho para Wigan Pier", segundo dos três livros de não-ficção que ele escreveu nos anos 30, foi encomendado pelo editor britânico, e simpatizante das causas da esquerda, Victor Gollancz em janeiro de 1936. Na época, estimulado pelos trabalhos anteriores de Orwell, especialmente "Na Pior em Paris e Londres", Gollancz pediu a ele que contribuísse para uma série de publicações sobre as condições de vida na Inglaterra, mas não esperava que recebesse um texto tão provocativo e pouco afeito à pureza ideológica do seu Left Book Club (Clube do Livro de Esquerda). Tanto é que o livro só publicado na íntegra pela insistência da esposa e do seu agente, dado que o autor partira para lutar na Espanha pouco depois de concluir a obra.

(leia a continuação em redumbrella.me)

site: https://www.redumbrella.me/post/um-orwell-que-poucos-conhecem
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Roberta.Chamberlain 22/09/2021

?É apenas quando encontramos alguém de uma cultura diferente da nossa que começamos a perceber quais são, realmente, as nossas próprias convicções.?

Foi uma leitura bem fora da minha zona de conforto, mas valeu a pena. Em história estamos aprendendo sobre antecedentes da primeira guerra, imperialismo e socialismo, portanto esse livro veio em ótima hora. A primeira parte eu achei mais interessante que a segunda, que em vários momentos se tornou maçante.

George Orwell vai descrever como era a vida das pessoas na Inglaterra, mas apenas as pessoas que viviam na pobreza e miséria, que ele inclusive fez parte por algum tempo para contribuir para o livro.

?A maior parte das pessoas aprova a pena de morte, mas a maior parte não faria o trabalho do carrasco.?
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V_______ 27/06/2022

Desigualdade social e socialismo.
O Caminho para Wigan Pier é um livro que pode ser dividido em duas partes, na primeira Orwell relata as condições em que vivem os trabalhadores das minas de carvão do norte da Inglaterra na década de 30, tratando das mais amplas questões, desde as precárias condições de trabalho, à questão da moradia, saneamento, segurança e até mesmo higiene pessoal, mostrando o que esse sistema de "castas" capitalista, sempre pende a balança a um só lado.
A segunda parte do livro ele irá tratar sobre questões pertinentes ao socialismo, fazendo uma crítica a alguns pontos, em especial em como o socialismo acaba sendo pregado de forma incorreta muitas vezes, o que acaba afastando novos adeptos, e na hipocrisia em parcela dos "intelectuais" que vestem a bandeira. Curiosamente esse livro foi encomendado por intelectuais da esquerda. Vale ressaltar que Orwell deixa claro que seu posicionamento é a favor do socialismo, e por isso mesmo faz essa crítica, inclusive uma auto crítica, já que ele mesmo se classifica como parte da burguesia.
Uma vez mais digo, Orwell é muito mais que A Revolução dos Bichos e 1984, clássicos, seus textos contêm verdades, sempre com denúncias a injustiças sociais e políticas, e de uma atualidade estarrecedora.
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nicorobin 17/03/2023

? Primeira parte

"A cada década, declaramos, cheios de astúcia, que já enterramos as divisões de classe; e a cada década o caixão continua vazio."

George Orwell fez um incrível trabalho jornalístico ao se infiltrar nas margens da sociedade e relatar detalhadamente a vida dura daquelas pessoas. Suas descrições são tão pessoais e vívidas que te fazem sentir como se viajasse no tempo, mas claro, para quem está familiarizado com a situação econômica do Brasil, não é preciso se esforçar muito para sentir o que acontecia naquela Inglaterra. A verdade é que a maioria dos problemas vivenciados pelos ingleses daquela época até agora são, infelizmente, comuns em todo o mundo e não há sinal de que isso vá acabar tão cedo. Além de falar sobre a insalubridade, os trabalhos análogos à escravidão e o desemprego, Orwell ainda comenta sobre a situação feminina diante de tudo isso e, por fim, condena o industrialismo pela degeneração humana e apresenta duras críticas a xenofobia, ao classismo e ao nacionalimo.



? Segunda parte

"As pessoas que precisam agir juntas são todas aquelas que se encolhem de medo do patrão e todas as que estremecem ao pensar no aluguel."


O principal propósito de Orwell nestes capítulos é criticar a forma com que os socialistas de sua época falhavam ao tentar unir a população geral contra a onda de fascismo crescente.
Para ele, é um desserviço classificar o fascismo apenas como "sadismo de massas" e ele alerta sobre os perigos de se confortar com essa falsa sensação de segurança. Então afirma que, para derrotar o fascismo, é preciso analisá-lo e reconhecer que, nele, há algo de bom (ou pelo menos há algo que pessoas desesperadas e bem-intencionadas veem como uma esperança para o futuro) e convencer seus apoiadores comuns que, seja lá qual for o bem que o fascismo contenha, o socialismo também pode oferecer (e é claro que aqui ele está falando sobre esse "futuro melhor" que as pessoas tanto ansiavam).
Ele também fala de como foi ensinado a tratar a classe operária quando ainda era criança:
"Era o que nos ensinavam: a classe baixa fede. (...) O ódio racial, o ódio religioso, as diferenças de educação, temperamento, intelecto, até as diferenças nos códigos morais, tudo isso pode ser superado, mas não a repugnância física."
de sua experiência como policial na antiga Birmânia:
"Nunca entrei em uma prisão sem sentir que meu lugar era do outro lado das grades."
e apresenta críticas a respeito do progresso mecânico, culpando-o, mais uma vez, pela degeneração humana:
"Quando tivermos este nosso planeta perfeitamente ajustado, iniciaremos a tarefa de alcançar e colonizar outro planeta.(...) Ao se vincular ao ideal de eficiência mecânica, você se vincula ao ideal da suavidade, da maciez. Mas tudo que é mole e frouxo é repulsivo; e assim, todo o progresso é visto como uma luta frenética rumo a um objetivo que você espera que jamais seja alcançado."
E é importante destacar aqui que toda essa repulsa dele pela tecnologia não é apenas conservadorismo e saudosismo cego, é necessário reconhecer que seus receios tinham fundamento, pois estamos falando de um Inglaterra poluída que praticamente escraviza sua população e está prestes a entrar em uma guerra, mas claro que isso também não significa que ele estava necessariamente certo sobre essa questão.
Orwell ainda aponta a necessidade de se criar novos socialistas e unir a classe média à luta ao invés de afastá-la ainda mais ? pois do contrário estariam apenas produzindo novos fascistas ? e encerra reforçando que os verdadeiros socialistas não devem apenas conceber ver a tirania derrubada como algo desejável, mas que o devem desejar ativamente.
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Leonardo Robert 08/03/2009

Vale a leitura...
Agora traduzido por 'O caminho de Wigan Pier', o livro está bem longe de ser um '1984'; entretanto, é também um livro de cunho político. A narrativa fala dos carvoeiros e proletários de uma Inglaterra pobre. Muito tempo depois de ler esse livro, vi em Billy Elliot o cenário daqueles conjuntos habitacionais paupérrimos descritos no livro. Em suma, é um belo livro, mas certamente um clássico típico de um bom livro na sombra de uma obra-prima do mesmo autor. Comparações são inevitáveis.
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Paulo Silas 27/01/2014

Dividido em duas partes, o livro traz uma análise do autor sobre os aspectos sociais em consequência de uma economia capitalista.

Na primeira parte, que foi encomendada por um editor socialista para integrar uma publicação voltada para tal público, o autor narra a sua experiência de convívio com os mineradores de carvão, vez que passou algumas semanas vivendo em casas e pensões de favelas, visitando minas de carvão e dialogando com "o proletariado" para enriquecer a sua experiência e narrar na obra.
Pobreza extrema, trabalho sofrido e desgastante, maus hábitos dos "favelados" e outras particularidades desta experiência são narradas pelo autor sob um viés político, pavimentando o caminho para a análise mais pessoal da segunda parte do livro.

E é justamente na outra metade da obra que George Orwell esmiúça sua análise e crítica num ensaio jornalístico cobre o socialismo.
Crítico feroz e sarcástico algoz, George Orwell faz a defesa por meio de um ataque ao socialismo, argumentando as razões pelas quais entende que o socialismo estaria fadado ao fracasso se a luta por tal ideologia permanecesse nos mesmos trilhas que se encontravam. Por exemplo, com a crítica dirigida também ao próprio autor, escarnece os "socialistas da elite", os quais defendem seus ideais somente com base em "textos chavões" de Marx, mas que não possuem o conhecimento da causa na pele. Em contrapartida, os trabalhadores "oprimidos" possuiriam o verdadeiro espírito para a luta de tal ideal, porém, lhes faltaria o fator "inteligência".

Mesmo eu sendo avesso à ideologia defendida pelo autor, Orwell merece aplausos pelo modo que defende o socialismo, reconhecendo fatores intransponíveis e propondo mudanças que, no seu ver, possibilitariam o sucesso de tal sistema.

Recomendo!
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eriksonsr 13/01/2018

Pra variar, mas um ótimo livro do George Orwell.

Apesar de não ser adepto da ideologia do Orwell, é sempre bom ler os livros dele, pois assim como ele segue uma via criticando e demonstrando algumas das coisas erradas do industrialismo e do imperialismo, ele também consegue seguir uma via contrária e criticar e demonstras algumas coisas erradas nos socialistas e no socialismo.

Nessa obra, a primeira parte do livro ele mostra as dificuldades dos mineiros durante a primeira metade do século XX na Inglaterra, mostrando o quão duro era o trabalho e as péssimas condições em que viviam. Já a segunda parte do livro é uma critica aos socialistas de sua época, que criticavam as diferentes castas existentes na sua época, mas que não eram capazes de viver sem benefícios da sua casta, além de falar sobre desserviço que estes socialistas/comunistas prestam a causa com sua arrogância e falta de empatia para com pessoas de ideias contrárias.

Um ponto que achei bem interessante foi quando ele fala sobre o avanço do fascismo e como a esquerda estava falhando miseravelmente nisso, ao não conseguir compreender o que leva as pessoas a seguirem por esse caminho, em como não entender como a religião e os costumes são importantes para as pessoas estava prejudicando a causa e etc.


Alguns trechos que achei interessante:
"Já notei que as pessoas que alugam quartos quase sempre odeiam seus inquilinos. Elas querem o dinheiro, mas os consideram intrusos, e tem uma atitude curiosa, sempre alerta e chei de ciúmes, que no fundo é a determinação de não deixar o inquiline se sentir muito à vontade em casa. É o resultado inevitável de um mau sistema, que obriga o inquilino a viver na casa de outra pessoa, sem ser da família.";

"O fato é que existem dezenas delas, centenas de milhares; são um dos subprodutos típicos do mundo moderno. Não se pode desconsiderá-las, se aceitarmos a civilização que as produziu. Pois isso também é parte do que o industrialismo fez por nós. Colombo atravessou o Atlântico, as primeiras locomotivas a vapor entraram em movimento, os ingleses resistiram firmes sob as espingardas francesas em Waterloo, os salafrários de um olho só do século XIX louvavam a Deus e enchiam o bolso; e, assim, tudo aquilo veio dar nisto, nestas favelas labirínticas, com cozinhas escuras lá no fundo e gente velha e doente rondando como um bando de besouros negros. É uma espécie de dever ir a esses lugares, vê-los e cheirá-los de vem quando, especialmente sentir o cheiro deles, para não nos esquecermos de que existem; embora talvez seja melhor não nos demorarmos muito tmepo por lá."

"Veja, por exemplo, a questão da superlotação. Com muita frequência há oito ou mesmo dez pessoas morando em uma casa de três cômodos. Um deles é uma sala de estar com cerca de 3,50 metros de lado, que contém, além do fogão e da pia, uma mesa, algumas cadeiras e uma cômoda; ali não há lugar para uma cama. Assim, há oitro ou dez pessoas dormindo em dois quartinhos, provavelmente em quatro camas no máximo. Se algumas delas são adultos e têm que trabalhar, pior ainda. Lembro-me de uma casa onde três moças dormiam na mesma cama e cada uma trabalhava em horários diferentes, perturbando as outras quando se levantava ou voltava do trabalho."

"Ao longo das margens do canal lamacento de Wigan, há terrenos baldios onde esses carroções foram despejados como lixo jogado de um balde. Alguns são realmente carroções de ciganos, mas muito velhos e em mau estado. A maioria é de velhos ônibus de um andar (os ônibus menores, de dez anos atrás) sem as rodas, apoiados em vigas de maderia. Alguns são simplesmente carroças com aros semicirculares em cima, sobre os quais se estende uma lona, de modo que os moradores não têm nada além de uma lona separando-os do ar gelado lá fora."

"A água vem de um único hidrante para toda a colônia, de modo que alguns moradores dos carroções têm que caminhar de 150 a duzentos metros para cada balde de água. Não há instalações sanitárias de espécie de alguma. A maioria das pessoas constrói uma cabaninha para servir de banheiro no minúsculo terreno em volta do seu carroção, e uma vez por semana cavam um buraco profundo para enterrar os dejetos."

"Mas vale a pena notar que os moradores dos carroções nem sequer economizam dinheiro morando ali, pois pagam mais ou menos o mesmo aluguel que pagariam por uma casa. Não fiquei sabendo de nehum aluguel inferior a cinco xelins por semana (cinco xelins por cinco metros cúbicos de espaço!), e há casos em que o aluguel chega a dez xelins. Alguém deve estar fazendo ótimos negócios com esses carroções! Mas não há dúvida que sua continuada existência se deve à falta de moradias, e não diretamente à pobreza."

"Uma coisa que me impressiona, e que não consigo compreender, é que tantas cidades do Norte achem correto construir edifícios públicos imensos e luxuosos, ao mesmo tempo que precisam desesperadamente de imóveis para moradia."

"Quanto ao comércio, depois da guerra precisou se adaptar para satisfazer à demanda das pessoas mal pagas e subnutridas, e o resultado é que hoje um luxo é quase sempre mais barato do que uma necessidade. Um par de sapatos simples e resistentes custa o mesmo que dois pares de sapatos chiques. Pelo preço de uma refeição decente se pode compar um quilo de doces baratos. Não se pode comprar muita carne por três pence, mas dá para comprar várias porções de fish and chips. O leite custa três pence e mesmo uma cerveja mais fraca custa quatro, mas as aspírinas custam sete por um pêni, e é possível fazer quarenta xícaras de chá com um pacote de cem gramas. E, acima de tudo, há os jogos de azar, o mais barato de todos os luxos. Mesmo quem está morrendo à míngua pode comprar alguns dias de esperança. Vinte milhões de pessoas estão subnutridas, mas praticmaente todo mundo na Inglattera tem acesso a um rádio. O que perdemos em comida ganhamos em eletricidade. Fatias inteiras da classe operária que foram saqueadas e roubas de tudo de que realmente necessitam estão sendo compensadas, em parte, pelo luxos baratos que vêm mitigar a superfície da vida."

"É claro que esse fato novo dos luxos do pós-guerra é algo muito favorável para nossos governantes. É bem provável que o fish and chips, as meias de seda sintética, o salmão em lata, o chocolate barato (cinco barras de cinquenta gramas por seis pence), o cinema o rádio, o chá forte, a loteria esportiva, tudo isso, em conjunto, já tenha evitado a revolução. Portanto, ás vezes nos dizem quq tudo isso é uma manobra astuta da classe governante, uma espécie de "pão e circo" para controlar e subjugar os desempregados. O que já vi da nosssa classe governante não me convence de que eles tenham tanta inteligência assim. A coisa aconteceu, mas por um proncesso inconsciente, a interção natural entre a necessidade dos fabricantes de ter mercado e a necessidade dos famintos de ter paliativos baratos."

"Mas até mesmo Wigan é bela se comparada com Sheffield. Creio que Sheffield pode reinvidicar o título de cidade mais feia do Velho Mundo; creio que seus habitante, que querem que ela se destaque em tudo, devem afirmar isso mesmo. Possui uma população de meio milhão de habitantes, mas contém menos casas decentes do que um vilarejo médio do Sudeste do país com quinhentos habitantes. E o fedor! Se em raros momentos você para de sentir o cheiro de enxofre, é porque começou a sentir cheiro de gás. Até o rio que corta a cidade é de um amarelo-vivo, por causa desse ou daquele produtos químico. Certa vez parei na rua para contar quantas chaminés de fábrica eu conseguia ver; contei 33, mas teria visto muito mais se o ar não estivesse tão escuro de fumaça."

"Quando o nacionalismo começou a se tornar uma religião, o inglês olhou para o mapa e, notando que sua ilha fica bem ao norte no Hemisfério Norte, criou a agradável teoria e que quanto mais ao norte você vive, mais virtuoso se torna. As histórias que me contavam quando eu era pequena em geral começavam explicando, da maneira mais ingênua que o clima frio torna as pessoas cheias de energia, enquanto o clima quente as torna preguiçosas, e vem daí a derrota da Invencível Armada. Esses absurdos sobre energia superior dos ingleses."

"Se o ódio de classe parece estar diminuindo, é porque hoje ele raramente se expressa por escrito, em parte devido à hipocrisia reinante, em parte porque os jornais de hoje, e até os livros, precisam atrair o publico de classe operária."

"Segundo Saintsbur, o seguro-desemprego era simplesmente "contribuir... para manutenção dos vaganundos", e todo o movimento sindical não passava de uma espécie de mendicância organizada."

"No sistema capitalista, para que a Inglaterra possa viver em relativo conforto, 100 milhões de indianos têm que viver à beira da inanição, um estado de coisas perverso, mas você consente com tudo isso cada vez que entra num táxi ou come morangos com creme. A alternativa é jogar fora o Império e reduzir a Inglatera a uma pequena ilha gélida e sem importância, onde todos teríamos que trabalahr muito duro e sobreviver, basicamente, à base de arenque com batatas. Essa é a última coisa que qualquer esquerdista deseja. E, contudo, o esquerdista continua sentindo que não tem nenhuma responsabilidade moral pelo imperialismo."

"O fato que precisa ser encarado é que abolir as divisões de classe significa abolir uma parte de você mesmo. Aqui estou eu, um membro típico da classe média. Para mim é fácil dizer que desejo que as disntições de classe desapareçam, mas quase tudo que penso e faço é resultado das distinções de classe. Todas as minhas ideias, meus conceitos sobre o bem e o mal, o agradável e o desagradável, o engraçado e o sério, o feito e o bonito, são essencialmente, conceitos de classe média; meu gosto para livros, comida, roupas, meu senso de honra, minhas boas maneiras à mesa, as expressões que uso ao falar, meu sotque, até mesmo os movimentos característicos do meu corpo, são produtos de certo tipo de educação e de certo nicho que fica mais ou menos na metade da hierarquia social. Quando meu dou conta disso, percebo que não adianta dar tapinahs nas costas de um proletário e dizer que ele é um bom homem, tanto quanto eu; se eu desejar ter contato real com ele, tenho que fazer um esforço para o qual, muitos provavelmente, estou despreparado. Pois para sair do esquema de classes eu teria que suprimir não apenas meu esnobismo particular, mas tmabém a maior parte dos meus demais gostos e preconceitos. Tenho que modificar a mim mesmo tão completamente que no fim mal serei reconhecido como a mesma pessoa. O que está implícito aí não é simplesmente melhorar as condições da classe proletária nem evitar as formas mais estúpidas de esnobismo, esim abandonar por compelto as atitudes da classe superior e da classe média em relação à vida."

"Nenhum argumento pode ser rebatido se não tiver a justa oportunidade de ser ouvido. Portanto, de forma um tanto paradoxal, para defender o socialismo é necessário começar por atacá-lo"

"Tal como acontece com a religião cristã, a pior propagando para o socialismo são seus adeptos."

"Pois é preciso acrescentar o fato muito desegradável de que a maioria dos socialsitas de classe média, embora em teoria almeje uma sociedade sem classes, se agarra como cola-tudo aos seus miseráveis fragmentos de prestígio social."

"A verdade é que para muita gente que se definde como socialista, a revolução não significa um movimento de massa ao qual eles esperam se associar; significa um conjunto de reformas que "nós", os inteligentes, vamos impor a "eles", a sordens inferiores."

"Mas neste momento estou pesnado no efeito de um livro como esse sobre o público inglês. O que se vê é um literato de origem aristocrática, um homem que provalvmente jamais na vida havia falado com um operário de igual para igual, nem de longe, gritando calúnias venesoas contra seus colegas "burgueses". E por quê? Aparentemente, por puro espírito maligno. Ele está lutando contra a inteligentsia britânica, mas está lutando a favor de quê? No livro não há nenhuma indicação. Por aí se vê que o efeito de livros assim é dar a quem está de fora a impressão de que não há nada no comunismo senão ódio."

"A pessoa decente normal, que tem simpatia pelos objetivos essenciais do socialismo, fica com a impressão de que não há lugar para um teipo como o seu em nenuum partido socialista sério."

"... marxistas não costumam ser muito bons quando se trata de ler os pensamentos de seus adversários; "

"E o que dizer dos milhões de pessoas que não são capitalistas, que no sentido material não têm nada a ganhar com o fascismo, e muitas vezes têm consciência disso, e mesmo assim são fascistas? É óbvio que elas se aproximaram puramente pela linha ideológica. Só foi possível empurrá-las para o fascismo porque o comunismo atacava, ou parecia atacar, certas coisas (patriotismo, religião, etc) que ficam numa camada mais profunda do que o motivo econômico; e nesse sentido é a mais pura verdade que o comunismo leva ao fascismo."

"A primeira coisa a se notar é que a ideia do socialismo está ligada, de forma mais ou menos inextrincável, à ideia de produção mecanizada. O socialismo é essencialmente um credo urbano. Ele cresceu de maneira mais ou menos simultânea com o industrialismo, sempre teve raízes no proletariado da cidade e no intelectual da cidade, e é duvidoso que pudesse ter surgido em qualquer sociedade que não fosse uma sociedade industrial. Uma vez admitido o industrialismo, a ideia do socialismo se apresenta naturalmente, pois a propriedade privada só é tolerável quando cada indivíduo (ou família, ou alguma outra unidade) é autossuficiente, pelo menos em grau moderado; mas o efeito do industrialismo é tornar impossível para qualquer pessoa sustentar a si mesma, ainda que apenas por um momento."

"Com certeza se poderia instalar alguma geringonça de aço e borracha nos ombros, e deixar os braços definharem até virar sacos de pele e osso. E o mesmo com todos os órgãos e todas as faculdade. Realmente não há razão para o ser humano fazer mais do que comer, beber, dormir, respirar e procriar ; tudo o mais poderia ser feito em seu lugar pelas máquinas. Assim, o fim lógico do progresso mecânico é reduzir o ser humano a algo parecido com um cérebro dentro de uma garrafa. Esse é o objetivo para o qual já estamos caminhando, embora, é claro, não tenhamos a menor intenção de chegar lá."

"Em uma civilização mecanizada, o processo de invenção e melhorias sempre vai continuar, enquanto a tendência do capitalismo é retardálo, pois no capitalismo qualquer invenção que não prometa lucros mais ou menos imediatos é negligenciada; e, aliás, algumas que ameaçam reduzir os luvros são suprimidas de maneira tão implacável como o vidro flexível mencionado por Petrônio. Mas basta estabelecer o socialismo, eliminar o princípio do lucro, e o inventor terá carta branca. A mecanização do mundo, que já é bastante rápida, poderia ser enormemente acelerada."

"O fascismo conseguiu se apresentar como o sustentáculo da tradição europeia e apelar às crenças cristãs, ao patriotismo e às virtudes militares."

"Cada pessoa que conehce o significado da pobreza, cada um que tenha um ódio genuíno pela tirania e pela gerra está, potencialmente, do lado socialista."

"Quem sabe poderíamos falar um pouco menos sobre "capitalistas" e "proletários" e um pouco mais sobre os que roubam e os que são roubados."

"George Orwell. Ele defendeu até 1943, que birmaneses e indianos não tinham condições de se governar sozinhos."

"... ainda que Engels tivesse um contato triplo com a classe operária: como pensador, líder político e patrão. Ele colaborou com Marx na elaboração da teoria comunista. Participou do movimento que criou a Internacional. E era filho de um industrial alemão que montou uma fábrica em Manchester, na Inglaterra, administrada por Engels durante décadas."

"Orwell defendeu: "Você consegue sentir afeto por um assassino ou um sodomita, porém não consegue sentir afeto por um homem de hálito pestilento", o que coloca assassinos e homossexuais numa mesma categoria, a de criminosos, e é pura homofobia."
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Fayetsho 16/05/2019

Tirando da zona de conforto
Parece que li dois livros: o primeiro sendo esta exposição sobre a situação dos mineradores de carvão do norte da Inglaterra, e como é trágica a situação deles. O autor descreve de forma bem nua e crua, com manchetes e registro de gastos, a vida desses trabalhadores, que iam a minas em condições super insalubres, jornadas de trabalho longas, e ainda voltavam pra suas casas também em nada adequadas. (Muito interessante que a edição da Companhia das Letras tem fotos).
O "outro livro", que é a parte 2, é uma discussão sobre o capitalismo, imperialismo e o futuro. Eu achei o escritor um tanto extremista na visão de que o caminho era ou socialismo ou fascismo. Mas, não vou cair em anacronismos, principalmente porque ele critica a atitude de esquerdistas da época, e também lembrar que o fascismo realmente floresceu.
Em suma, vejo que é um livro que vale muito a pena mais pela escrita do que pelo tema, Orwell faz o leitor questionar algumas coisas o passado e mesmo que chegue na mesma opinião, recomendo pra quem já leu outras obras dele.
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Eduardo 31/01/2021

Um autor socialista e crítico do socialismo que resolveu viajar pela Inglaterra durante o século XX para conhecer a realidade na que era ignorada por outros contemporâneos. Nesse livro ele retrata a dura vida dos mineiros nas minas de carvão, além de fazer uma crítica ao modo como esse modo de vida desgastante ao qual estavam delegados os pobres no capitalismo industrial.
Gustavo.Jaccottet 11/04/2021minha estante
Orwell não era socialista como ?conhecemos?. Era o que no diagrama de Nolan fica como leftlib, adequado ao conceito de ?liberal? nos EUA e no Reino Unido, conservador na economia e liberal nos costumes, especialmente no que diz respeito ao assistencialismo estatal. Quando li a primeira vez tive essa impressão, mas quando finalizei ?Dentro da Baleia e Outros Ensaios?, vi apenas um Autor crítico da aristocracia ?idiota?, formada por conservadores vindos de Eton e outras Prep. Schools. Em ?A Flor da Inglaterra? isto fica ainda mais aflorado ante o personagem Gordon Comstrock ser um idealista, home de um livro só, como os artistas norte-americanos em Paris nos anos 20 e 30.




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