Manuela do Prado 08/07/2020"Em algum lugar no tempo nós ainda estamos juntos..."Vivendo em um espaço-tempo de 75 anos distantes, um jovem casal trava uma luta contra um inimigo invicto para viverem juntos: O tempo. Escrito em formato de autobiografia fictícia "Em algum lugar do passado" narra os relatos do personagem Richard Collier, um jovem teatrólogo de 36 anos que, ao descobrir-se portador de um tumor inoperável, em 1971, resolve abandonar tudo quanto constitui a sua vida pregressa para lançar-se em uma viagem sem rumo, com o objetivo apenas de vivenciar de modo idílico o pouco tempo de vida que lhe resta; em uma parada no seu itinerário, Richard hospeda-se no Hotel Coronado, onde depara-se com a imagem de Elise Mackena, uma atriz que viveu em 1896. Completamente encantando por sua beleza, Richard faz uma imersiva pesquisa sobre a vida de Elise, descobrindo uma série de características em comum com a atriz, apaixonando-se assim não somente pelo seu exterior mas também pela ideia da mulher que ela fora a partir de todos os escritos sobre sua vida de que se tem relato. Empenhado em voltar ao passado para conhece-la o personagem navega em uma busca acerca de técnicas de viagem no tempo, submetendo-se assim a um processo árduo de auto-hipinose, de onde não somente é bem sucedido, como encontra Elise, sendo ainda correspondido em seu amor por ela.
Para mim, o livro soou de forma muito arrastada; existe um certo exagero nos detalhes quanto as etapas do seu empreendimento em viajar no tempo, e, com isso, vai-se um terço do livro! Richard aluga fantasias em seu tempo presente para estar adequadamente vestido no séc. 19, faz trocas bancárias por dinheiro da época e busca representar mesmo o modo de fala da "nova" sociedade em que se encontrará, e, se isso tudo é interessante no processo, por outro lado o casal só chega a conhecer-se corridas mais da metade do livro, o que acredito que pode decepcionar quem procura um grande romance em ao menos, maior parte da obra. Elise é uma personagem tão bem construída, em sua conjuntura física e personalística, de "doçura" tão bem pautada, que torna-se impossível não ser cativado pela personagem; para minha surpresa, embora seja uma mulher com seus 29 anos em 1896, tem ideias feministas bem consolidadas e uma firme postura em suas decisões profissionais e pessoais. Além dos pormenores da viagem ao passado, Richard tem ainda de enfrentar o temperamento ciumento e possessivo do empresário de Elise que, por ama-la de forma fervorosa, chega mesmo a ameaçar a vida de Collier.
De muitos aspectos interessantes, o fato do livro conter um prólogo do irmão de Richard informando ao leitor que não era objetivo do mesmo publicar seus relatos e que todo o ocorrido fora de fato real para o personagem, foi o ponto que tornou o livro mais imersivo e verdadeiro para mim. Em suma, uma história original, embora não das melhores ou mesmo marcante em meu trajeto literário.