As vinhas da ira

As vinhas da ira John Steinbeck




Resenhas - As Vinhas da Ira


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Bookster Pedro Pacifico 25/10/2022

As Vinhas da Ira, de John Steinbeck
“Assolada por uma forte crise econômica, a década de 1930 no sul dos Estados Unidos foi o cenário escolhido por John Steinbeck para construir um romance que deixou uma profunda marca na literatura norte-americana. Premiado com o Pulitzer, As vinhas da ira é, acima de tudo, a narrativa de uma fuga.

Assim como milhares de famílias, os Joad são forçados a deixar suas terras, que foram seu lar por décadas, para fugir da fome e da miséria. São descartados para dar lugar às inovações tecnológicas de um sistema voraz, que não sente pena de suas vítimas. E é nesse contexto que, para esses moradores de Oklahoma, o Oeste se mostra como a promessa de uma vida melhor, com emprego e comida na mesa.

Deixando a cidade natal, os Joad iniciam uma travessia que compõe a maior parte da obra. O autor nos leva junto e nos permite acompanhar as dificuldades próprias de cada integrante da família. O ritmo dessa travessia é lento, marcado por uma escrita descritiva e que toca em temas de extrema relevância, como a desigualdade social, as precárias condições de trabalho e a sensação de não ter uma terra, de não pertencer. Ao mesmo tempo que tece críticas sociais, Steinbeck também se aprofunda nos conflitos dos personagens e na dinâmica familiar, com destaque para uma personagem que funciona como um elemento unificador: a mãe. (…)”

Para quem quiser continuar a leitura da resenha, estampada na orelha dessa edição, corre e já garante a sua!


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Rosangela Max 12/12/2022

Marcante.
É uma história maravilhosa, mas que exige um pouco de paciência, pois leva a palavra ?descrição ? a outro nível.
Foram dedicadas páginas e páginas para descrever cenários e paisagens de uma forma tão detalhada que, por muitas vezes, cheguei a perder o foco. Mas esta perda de foco aconteceu mais no começo do livro. Depois a história foi crescendo de tal forma que nada mais me desviava a atenção.
Os personagens, a escolha do tema e a forma que cada ponto foi abordado, o desenvolvimento do enredo? tudo foi conduzido com maestria pelo autor.
A personagem que mais gostei foi a Sra. Joad. Uma mulher de fibra, dura na queda, que fazia de tudo para manter a família unida e lutando em uma vida cheia de miséria, descaso e exploração.
Gostaria que tivesse um final diferente, mas, de certa forma, o final condiz com a mensagem passada. A luta nunca termina.
Leitura super recomendada.
Paulo Vitor 12/12/2022minha estante
Um dos melhores livros que já li. Muito impactante este livro.


Livia Barini 13/12/2022minha estante
É o livro que deu origem ao filme?


Rosangela Max 13/12/2022minha estante
Sei que tem um filme bem antigo baseado nesse livro, mas não assisti.


Flavia Flavitchia 13/12/2022minha estante
Um dos meus favoritos da vida, mas confesso que abandonei logo no começo pelo menos duas vezes pq eu me perdia ?




Ronnie K. 31/12/2009

Legítima (e atordoante) Odisséia rural
A leitura de "As Vinhas da Ira" tanto diverte quanto dilacera a alma. Ou seja, mexe profundamente com as bases emocionais do leitor. Oscila bruscamente do humor, seja ele leve ou escancarado, para o melancólico ou o trágico. Às vezes numa mesma cena! Portanto é romance que cativa de imediato, desde a primeira à última página. Impossível não se 'apegar' ao drama e aos sonhos da família de pequenos agircultores, os Joad, que, à epoca da Grande Depressão americana, e devido a uma imensa seca e à modernização da agricultura e de suas respectivas práticas comerciais, é obrigada a ser retirar, junto a milhares de famílias em condições análogas, e cair na estrada rumo à melhores condiçoes de vida do outro lado do país.

Então temos a grande travessia. Multidões de sem-terra em êxodo que se agrupam em acampamentos de beira de estrada, construindo e descontruindo acampamentos, lutando pela sobrevivência diária, pulando de colheita em colheita, trabalhando em regime de semi-escravidão. Porém, o romance jamais descamba para o panfletário ou para a pieguice. Mantém, ao contrário, um impressionante e sóbrio equilíbrio em sua narrativa, como deve ser, afinal, Obra-mestra que é. Romance de corte clássico, sem invencionices formais, sustenta-se simplesmente em suas descrições precisas e poéticas e nos seus diálogos enxutos, graciosos e comoventes! E em suas diversas "cenas de ação", seus episódios. Definitivamente Steinbeck sabe narrar, é um autêntico contador de histórias! O capítulo final de "As vinnhas da Ira" é um primor. Dificilmente se lerá algo tão melodramático, pungente, absurdamente engraçado e emocionante. Só chegando nele pra saber.

Por fim, temos a grande personagem do romance, a senhora Joad, esteio e autêntica líder da família. Criatura rude e sensível a um tempo, que não poupa sacrifícios pela união dos seus membros e cujo desamparo diante da inevitável desintegração e dispersão dos mesmos (muitos vão ficando pelo caminho), é de cortar o coração na prosa precisa e perfeita desse grande mestre da Literatura de todos os tempos. Romance totalmente recomendado sem absolutamente nenhuma restrição a toda espécie de leitor. O que, convenhamos, é muito raro!
Gersonita Paula 30/05/2012minha estante
Ronnie K.

Tenho esse livro, AS VINHAS DA IRA. Encontra-se emprestado. Tua resenha me fez apaixonar-me por ele. Eu que já vinha enamorando-me desse livro a quase um ano. Agora com tudo que li escrito por vc , vou torçer fortemente psrs minhas mão e descobrir lentamente a mágica deste inesquecível livro
2 \brigsdo




Li tua resenha. Estou encantada,esse livro sempre me hipnotizou. Me chamou para fora, mexeu comigo... Hoje lendo tua resenha , agradeço a oportunidade de encontra-lo em meu caminho. VocÊ me enriqueceu te serei eternamente grata, beijos em seu coração






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kate_cris 27/02/2016minha estante
Fiquei sem fôlego, não preciso de outra resenha pra me despertar o desejo ansioso da leitura.


Marcelo.Duty 15/03/2020minha estante
Eu tenho certeza que não há melhores palavras para o descrever, eles são minhas raridades .




Michela Wakami 27/07/2022

Uma história inesquecível.
Iniciei a leitura sem saber quais caminhos seriam percorridos, fui totalmente a cegas e me deparei com a jornada de uma família guerreira e unida.
Em meio a tantos sofrimentos, encontraram pessoas que se compadeceram deles e vice versa.
Apesar do escritor ser muito prolixo, deixando a leitura arrastada, eu amei ter feito essa leitura.
Vanessa 27/07/2022minha estante
Uhuuuuuu! Que legal! Que bom que vc gostou no fim das contas, espero lê-lo em breve.


Michela Wakami 27/07/2022minha estante
Sim.????????




Eduardo 28/09/2018

"Caminhamos porque somos obrigados a caminhar"
O que torna uma obra singular não é apenas a história que ela abrange, mas, acima de tudo, a maestria com que é descrita e esmiuçada. Steinbeck não considerava As Vinhas da Ira um grande livro, mas, quanto a isso, fosse por autocrítica ou modéstia, ele estava completamente errado.

Em meio às consequências econômicas da Grande Depressão e também do devastador cenário agrícola da época, a família Joad é obrigada a abandonar os campos de Oklahoma e partir rumo à Califórnia. A ascensão das máquinas agrícolas, as dívidas de grandes fazendeiros, o domínio bancário sobre as propriedades, a crise que devastava o país e a crescente disparidade de classes fizeram com que milhares de famílias como essa abandonassem suas terras em busca de um novo rumo, de trabalho, de sustento, condicionando suas vidas a um destino ainda incerto, a uma terra onde a promessa de uma vida melhor era quase o esboço do paraíso. O que fazer? Esperar pela fome, pela desgraça iminente, em meio a terras devastadas, cobertas de poeira, desalento e morte, ou arriscar-se em uma viagem longa e cansativa não para viver, mas para sobreviver?

É nesse panorama que somos apresentados a Tom Joad, que ganha sua liberdade condicional por bom comportamento depois de ter sido preso por homicídio em legítima defesa. Livre, ruma então às terras da família, não sem antes encontrar, nesse percurso, o ex-reverendo Tim Casy, antigo conhecido da família, que agora, desacreditado em sua fé, tenta encontrar algum sentido na vida.

Ao chegar às terras da família, ambos são informados de que os Joad haviam abandonado sua casa e preparavam-se, agora na casa de tio John, para uma grande viagem rumo a terras californianas. Incitados pela incessante propaganda de trabalho em abundância na costa oeste, e diante da falta de qualquer outra alternativa, a família – composta por Tom, seus cinco irmãos (incluindo Rosa de Sharon, grávida), seu cunhado, seu pai, sua mãe, seu tio, seu avô e sua avó – junta suas poucas economias e compra um velho caminhão, em cima do qual também se juntam o reverendo Casy, convidado a seguir viagem com os Joad, um dos cachorros da família e os poucos pertences e a parca comida que lhe restavam.

Em As Vinhas da Ira acompanhamos não apenas a trajetória dos Joad rumo a sua única esperança, mas o esmiuçar das relações humanas, dos grandes fracassos e das pequenas vitórias, dos imprevistos e da desesperança, e também da força atrelada ao coletivo, àquilo que se faz em companhia de seu próprio povo, àquilo que se faz pelo outro, àquilo que acalenta o acudido e seu benfeitor, provavelmente um dos poucos motivos que ainda os mantêm de pé.

A trajetória não é fácil e as consequências não são tênues. A cada milha percorrida a esperança adquire outro significado. Primeiro é um pneu, depois um pouco de carne e, milhas e milhas além, depois de experimentarem a acidez de uma força controladora brutal, de uma realidade desigual e do pouco caso do Estado, talvez seja um pouco de farinha. Até que, então, ela não é mais esperança, é desalento, é inconformismo, é ira, e essa mistura de percepções traz consequências brutais: há aqueles que perdem a vida na viagem e há aqueles que se perdem em suas próprias elucubrações e decidem tomar outros rumos pelo caminho. Perdem o que mais temiam perder: a dignidade.

Deparar-se com o fracasso e a desilusão são atenuantes irreparáveis para alguns personagens do livro, atenuantes que os separam do "coletivo", ideia que Steinbeck tanto defende nessa obra. O homem só é verdadeiramente humano se cercado de seus semelhantes, e só consegue assim se manter se estiver com os seus onde eles estiverem. Partindo desse ponto, quando um abandona o coletivo, abandona a si mesmo, não obstante a importância de sua história.

São nos momentos mais difíceis que percebemos o que essa coletividade em meio às dificuldades realmente significa. A essência desse pensamento está às vezes nas pequenas cenas, como nas batatas dos Wilson, na carne de porco salgada pelo reverendo Casy, na tartaruguinha recolhida por Tom (dona de um único capítulo, uma analogia ao êxodo retratado pelo livro), no lençol de Sairy, no guisado da "mãe". Ah, a mãe…

A "mãe" merece um parágrafo à parte. A figura feminina aqui é colocada em absoluto destaque, e não apenas uma vez, e não apenas por "uma mãe". A força, a coragem, a determinação e a esperança, ainda que cansadas e surradas, repousam em uma pessoa mais do que em qualquer outra: a "mãe". Assim como a poeira da estrada, a "mãe" é personagem onipresente, ainda que, em parte das vezes, simplesmente por consequência de atos alheios. É ela quem dá força à família, é ela quem sustenta a pouca expectativa que vai ficando para trás com a travessia. Sem a "mãe", os Joad não teriam adentrado terras tão longínquas.

Durante sua ida, os Joad se deparam com quem volta, e as notícias não são nada animadoras do lado de lá. Procurando incessantemente por trabalho, agora apenas para matar a fome, passam dias e noites em acampamentos improvisados pelo governo, se submetem a trabalhos com retornos ínfimos e, como se tudo ainda não fosse degradante o suficiente, aproxima-se o nascimento do bebê de Rosa de Sharon ao mesmo tempo em que Tom tem que se abster de lidar com as injustiças e truculências das forças policiais devido a seu estado de liberdade condicional.

Partindo agora para uma análise mais estrutural, Steinbeck nos entrega um texto genuinamente transparente, não apenas por suas explícitas críticas sociais, econômicas e políticas, mas também porque o autor havia vivido na região retratada, havia testemunhado todos os efeitos dos movimentos econômicos e trabalhistas do período. Isso, consequentemente, deixa sua narrativa mais expressiva, faz com que o leitor seja inserido nessa jornada sem brechas para escape. Sua prosa, às vezes poética, é causa de uma comoção ímpar, não somente nos trechos em que a história dos Joad nos é narrada, mas igualmente nos capítulos em que Steinbeck nos expõe um panorama ainda mais abrangente do contexto de sua narrativa, inserindo personagens paralelos, diálogos capturados aqui e acolá, cenas corriqueiras de uma ou outra família que, assim como os Joad, também tem sua história, também tem sua cruz para carregar.

Os capítulos usados pelo autor para evidenciar o contexto de sua história não ouso chamar de digressivos, porque, por mais que se distanciem momentaneamente do núcleo protagonista, ainda assim compõem o macrocenário dentro do qual todos os personagens estão inseridos, não como meramente uma descrição do meio geográfico, histórico e social, mas como uma forma de acolher todas as outras famílias e histórias, um meio de deixar o leitor mais próximo da tal realidade coletiva.

O final da obra talvez seja estranho à primeira vista; é assolador, mas ao mesmo tempo é belo, é sublime. Resume talvez tudo o que Steinbeck tenha focado em seu texto: ao final, ao povo só resta seu povo. Se alguém leu esse livro e não o levou para a vida, se esqueceu de ser humano.

"Nos olhos dos homens reflete-se o fracasso. Nos olhos dos esfaimados cresce a ira. Na alma do povo, as vinhas da ira diluem-se e espraiam-se com ímpeto, amadurecem com ímpeto para a vindima."

site: https://alemdoslivros.com/as-vinhas-da-ira-john-steinbeck/
Henrique_ 28/09/2018minha estante
Depois da maestria com que escreveu sobre este livro, só tenho a parabenizá-lo pela excelente leitura e por ajudar a avivar a minha memória e estimular a tantas outras pessoas a conhecerem essa genialidade de obra. Excelente resenha!


Eduardo 28/09/2018minha estante
Assim você me deixa acanhado, Rique hahaha. Muito obrigado :) Esse livro me despertou uma vontade muito grande de escrever. É uma obra genial mesmo, preciosa. Mas quem tem que agradecer sou eu, porque, se o li, foi por culpa sua kkk. Aliás, culpa inclusive da sua maravilhosa resenha, da qual me lembro muito bem! Muito muito muito obrigado sempre pelas maravilhosas indicações, Rique! Livro para a vida!


Gabriel.Silva 29/09/2018minha estante
A sua resenha está excelente e desperta o interesse pela leitura dessa obra, esse livro está na minha lista para ser lido.


Eduardo 30/09/2018minha estante
Muito obrigado, Gabriel :) Recomendo muito, viu? Eu devia ter lido mais cedo hahaha


Emanuell K. 03/10/2018minha estante
Você já leu a leste do Éden?


Eduardo 03/10/2018minha estante
Ainda não, mas depois que conheci essa obra, quero ler todas hahaha. Você já leu? Gostou?


Emanuell K. 04/10/2018minha estante
Prefeito! Não sei qual dos dois é meu preferido?!


Eduardo 04/10/2018minha estante
Fiquei bem curioso pra ler hahaha


Vanessa 09/10/2018minha estante
Que inveja branca dessa resenha! Parabéns!!!


Eduardo 10/10/2018minha estante
Hahaha muito obrigado, Vanessa :D


Beatriz3345 13/11/2018minha estante
Um dos meus livros preferidos :)


Eduardo 13/11/2018minha estante
Um dos meus preferidos também, Ana! Me conquistou logo de cara :)




Rafa 21/04/2021

Sobrevivência
A obra é revestida de dor, tristeza e compaixão. Acompanhar a árdua jornada da família Joad é uma experiência transformadora, o que nos transporta para os problemas sociais ainda hoje vivenciados.
Caroline 21/04/2021minha estante
Estou querendo ler esse livro há um tempão, mas tenho medo de ser uma narrativa parada


Rafa 21/04/2021minha estante
Oi Caroline.
A narrativa não é parada, pelo contrário, a cada página vc sofre junto com a família ???


suellen 21/04/2021minha estante
Sofre mesmo, principalmente na parte do finalzinho. ?


Rafa 21/04/2021minha estante
Vdd Suellen. Angustiante rs


Nessa 14/11/2021minha estante
Está na minha lista de leitura ?




Vania.Cristina 29/01/2024

Ode à resiliência, à determinação e à solidariedade
Que livro impressionante! No começo achei muito descritivo e estranhei a narrativa diferentona, mas ele foi me ganhando cada vez mais, e não vai sair nunca da minha cabeça.

Trata-se da história da família Joad, pequenos agricultores que viviam em Oklahoma nos anos 30, tempos históricos da grande depressão norte-americana. Primeiro somos apresentados ao jovem Tom Joad que acaba de sair da prisão e está em liberdade condicional, retornando para a casa dos pais. Ao chegar, não encontra o cenário que esperava. Sua fazenda está abandonada. Um fenômeno climático trouxe seca e poeira para a região, dificultando as lavouras. Os bancos, verdadeiros donos das terras, expulsaram centenas de famílias para substuí-las por tratores, mais baratos

A família Joad está prestes a subir num caminhão velho com todos os pertences e seguir rumo à Califórnia, terra que promete trabalho e fartura. Da mesma forma que milhares de outras pessoas que também perderam suas terras, (terra que seus antepassados tinham tomado dos índios). Tom, mesmo sem autorização para sair do Estado, junta-se a sua família. Eles precisam estar unidos agora, contando com os esforços de todos, se quiserem sobreviver a essa jornada: Tom, seu pai, sua mãe, seu avô e sua avó, seu irmão mais velho (Noah)seu irmão de 16 anos que entendia de carros e motores (Al), seu tio viúvo (John), seus irmãos de 12 e 10 anos, (Ruthie e Winfield), sua irmã grávida (Rosa) e o marido (Connie). Junto também vai o ex reverendo Jim Casey. O caminho do êxodo é pela Rota 66.

Toda a família num único e velho caminhão entulhado. A casa, a terra, o passado... tudo é deixado para trás, e o centro vital da família passa a ser aquele caminhão. Dele tudo depende.

O livro intercala a jornada da família Joad com capítulos que procuram uma visão mais abrangente e jornalística. São praticamente pequenos ensaios que procuram falar das pessoas mas também dos contextos sociais, políticos, históricos e econômicos que estavam vivendo.

A crise no sistema capitalista, pós queda da bolsa em 1929, provocou mudanças radicais que afetaram a vida de milhares de pessoas. Se antes tínhamos um núcleo familiar rural, pratiarcal, baseado no trabalho árduo de todos com a terra, onde cada um tinha seu papel, agora as mudanças foram bruscas e desestruturantes.

É preciso uma enorme capacidade de resiliência para sobreviver às novas e extremas adversidades que a família Joad vai encontrar. As mudanças levam as mulheres, em especial a mãe de Tom, a assumir o protagonismo da família.

Não é possível encontrar lógica e sentido na situação, mas é profundamente sentida a necessidade de luta e justiça. No entanto, acima de tudo está a urgência em garantir a sobrevivência da coletividade.Toda a obra faz um apelo gritante pela empatia e pela solidariedade.

Há um sentimento de grandiosidade, de épico, em toda a jornada, e paralelos com textos bíblicos: o êxodo dos judeus no deserto em busca da terra prometida, as vinhas da ira de Deus citada no Apocalipse... A natureza também se revela com tons épicos e extremos: o fenômeno das tempestades de areia, a seca, o calor, as enchentes...

O próprio ciclo da vida tem o simbólico capítulo da tartaruga dedicado só a ele, um ode à resiliência, ao esforço árduo, ao seguir em frente, em movimento, não importa para onde. Quando estamos em movimento, espalhamos sementes. E elas brotam. A gente pode não estar por perto para assistir, mas elas silenciosamente brotam.
Carla.Floores 29/01/2024minha estante
Um bichinho entrou no meu olho aqui, de repente.
Eu tava esperando por essa resenha e ela veio como o bebê na caixa.
Parabéns, Vânia! E obrigada!
Essa resiliência e movimento é que dá o equilíbrio à tudo que existe, como andar de bicicleta. Livro belíssimo, como tudo que o Steinbeck nos deixou.


Vania.Cristina 29/01/2024minha estante
Obrigada Carla! Equilíbrio... sim, essa é também uma palavra importante na obra. Esse livro tem tanto a dizer né. Parei de escrever sentindo que tinha muito mais a ser dito.


Vania.Cristina 29/01/2024minha estante
E o final heim! Que final!!!


Yasmin V. 30/01/2024minha estante
?? Amei a resenha!! Esse livro é espetacular! Um dos finais mais impactantes que já li!


Vania.Cristina 30/01/2024minha estante
Obrigada Yasmin! Sim. Espetacular e impactante.


Carla.Floores 30/01/2024minha estante
O final é típico do Steinbeck, ele tem outros assim tão impactantes quanto. Sempre aberto, deixando a gente boquiaberto e digerindo. É uma delícia. Ficou com vontade de ler mais algum dele? Depois de Vinhas da Ira eu li "Luta Incerta" porque fica aquela sensação ali de que eles iriam se rebelar.


Vania.Cristina 30/01/2024minha estante
Fiquei sim Carla. Vamos ver qual consigo pegar. Saiu agora nova edição de A leste do Eden né


Cleber 01/02/2024minha estante
Que resenha incrível! Tenho que ler o livro tbm ????????


Carla.Floores 01/02/2024minha estante
Saiu, Vânia. Achei a capa um pouco sem conexão com a história. Mas comprei a minha edição num sebo e é do finado Círculo do Livro, que fez a mesma capa pra vaaaarios livros, então...
É um calhamaço pra ler em uma semana. De tão imerso na história que a gente fica. Tô lendo ele pela segunda vez.


Vania.Cristina 01/02/2024minha estante
Obrigada Cleber! ?


CPF1964 03/02/2024minha estante
Linda Resenha, Vânia. O final foi .....


Vania.Cristina 03/02/2024minha estante
Obrigada Cassius! ?




Victor Dantas 17/08/2021

As Vinhas da Ira: o romance social e sua atemporalidade. #46
Publicado em 1939, "As Vinhas da Ira" é um romance do escritor norte-americano John Steinbeck, ganhador do Nobel de literatura em 1962.

A publicação de "As Vinhas da Ira", foi marcada por intensos movimentos de censura, tanto pelos críticos literários da época, quanto pela população norte-americana, especificamente a elite latifundiária e bancária dos EUA.

Evidentemente, que esses fatos só fazem elevar ainda mais a importância da obra, bem como a curiosidade de nós leitores em conhecer a obra. Afinal, toda censura é baseada em uma ideologia dominante. E é essa ideologia dominante, a qual John Steinbeck questiona, aponta, ironiza, coloca em cheque, durante todo o seu texto, seja nas cenas que são descritas, nos diálogos, até mesmo no posicionamento do nosso narrador observador.

ENREDO:

O contexto histórico que a obra retrata é o seguinte: estamos em plena crise econômica de 1929 que eclodiu na terra do tio San, após a quebra da bolsa de valores de Nova York. Obviamente que como ocorre em toda crise econômica mundial os efeitos não são restritos a um Estado, um território, uma sociedade, mas sim, os efeitos são mundiais, em outras palavras, efeito dominó.

Diante da crise instaurada o sistema capital financeiro (bancos+industrial) norte-americano se viu em um cenário que anunciava a ruína dos grandes donos de meios de produção, banqueiros, latifundiários, rentistas e outros agentes que compõe a pequena parcela da população que explora todo o resto dos cidadãos comuns, o proletariado.

Concomitantemente, a terra do tio San desde a década de 1920, vinha sofrendo com os desastres naturais que estavam se manifestando na região sul do país, região que até hoje, apresenta uma economia pautada no agronegócio. Os estados de Oklahoma, Kansas e Arizona foram os mais afetados. O fenômeno provocou uma intensa seca e o desgaste do solo nas regiões onde era então praticada a produção agrícola.

Evidentemente, quem fazia o trabalho pesado era o proletariado, que nesse contexto, viviam na condição de meeiros. E o que são meeiros? Eram os trabalhadores, que trabalhavam na terra dos latifundiários, plantavam, cultivavam, sendo que a maior parte ia pro latifundiário, enquanto os meeiros só tinham os suficiente para comer.
E o mais importante, eles não eram donos da terra, apenas moravam a favores.

Tudo muda com o advento da crise econômica e a seca agressiva. O capital financeiro invade as terras agrícolas praticando a expropriação de terras de camponeses, e com isso, as consequências são sentidas. Miséria, fome e morte.
A principal estratégia para tal? Coerção e violência.

Diante desse cenário, intensifica-se o fenômeno de mecanização da produção agrícola na referida região sul dos EUA. Os meeiros são expulsos. Êxodo forçado.

Nessa mesma época, em meio a toda essas incertezas e desesperanças provocadas pela crise, outro movimento está ocorrendo na terra do tio San. A urbanização e industrialização do estado da Califórnia, que deixa a população norte-americana eufórica com essa nova terra de oportunidades, o estado do futuro, a Califórnia da liberdade. Uma luz no fim do túnel.

Terra fértil. Empregos para todos. A terra dos anjos.

Para todos mesmo?
Isso é o que iremos descobrir nas páginas dessa magnífica obra.

Feitas as considerações sobre o espaço e tempo em que o enredo ganha forma, passo agora para a apresentação breve do núcleo dos personagens e minhas impressões pessoais sobre a obra como um todo.

PERSONAGENS:

O nosso núcleo de personagens é formado pela família Joad: Tom, o filho mais velho, e o protagonista; Tom, o pai; Ma, a Mãe; Rosasharwn, Noah e Al, também filhos, os caçulas, Ruthie e Winfield, o tio John, e o avô e avó. Além desses, temos o pregador Casy.
Outros personagens secundários são introduzidos na trama ao longo do desenvolvimento do enredo.

Iniciamos a história, com Tom, sendo colocado em liberdade condicional, após passar 4 anos na prisão estadual de Oklahoma, devido a um crime de homicídio. Ele então está voltando para sua casa. As expectativas e os planos para o futuro tomam conta dele. No entanto, ao chegar nas terras onde vive sua família, ele percebe a bagunça que tomou conta de tudo, a paisagem de sombras, desesperança, destruição lhe é revelada.

Quando finalmente chega em casa, Tom se depara com sua família eufórica, montando um caminhão com todos os seus pertences essenciais e de partida para a Califórnia. Foram avisados para deixarem sua casa o quanto antes, e assim evitar que os tratores a mando dos latifundiários lhe causem mais danos, além da casa destruída.

Nesse momento, inicia-se, portanto, a jornada da família Joad em busca da esperança, do futuro melhor, em busca de emprego, comida, lar, o sonho americano que a Califórnia supostamente irá ser capaz de realizar.

IMPRESSÕES PESSOAIS:

Acompanhamos de perto os perrengues da família Joad por toda estrada do sul dos EUA, atravessando os estados da terra vermelha do místico oeste americano em direção a terra dos anjos.

Uma jornada marcada pelas mais distintas adversidades que possamos imaginar, adversidades que provocam no leitor reflexões sobre diversos temas e/ou questões da vida como a importância da família, a importância de se ter um lar, amizade, justiça, fome, reconhecimento de classe entre outras.

Em "As Vinhas da Ira", John Streinbeck nos presenteia com uma aula sobre a formação territorial do oeste norte-americano; geografia agrária; luta de classes; geografia econômica entre outros conteúdos que são muito bem articulados e incorporados a sua narrativa objetiva e circular, com descrições bastantes visuais que transportam o leitor para a década de 1930 facilmente.

Para mim, essa é uma das poucas obras que dispensam "pontos negativos".
Todo o seu conjunto é positivo (pelo menos na minha experiência de leitura), o que garante sua posição de clássico, leitura essencial para qualquer pessoa, e claro, uma obra atemporal.

Se quiser fazer um bem a si mesmo, leia "As Vinhas da Ira"!
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Flávia Menezes 24/10/2022

NINGUÉM FAZ GOL SOZINHO, MAS QUANDO RECEBE O PASSE DO OUTRO.
?As Vinhas da Ira?, do autor estadunidense John Steinbeck, foi publicado em 1939 e rapidamente foi considerado um fenômeno de acontecimento nacional, a ser premiado com o National Book Award, o Pulitzer e o Prêmio Nobel de Literatura, em 1962.

Apesar de toda a magnitude da obra, o autor foi fortemente atacado pela sua visão social e política, tendo seu livro sido proibido e queimado, especialmente por aqueles que se sentiram degradados com a forma como sua obra denunciava as atitudes e condutas que os fazendeiros da Califórnia tinham com os migrantes.

Por outro lado, sua recepção também causou ampla discussão em programas de rádio nacional, que acabou lhe trazendo visibilidade o suficiente para colocá-lo no lugar de grande romance americano, e que ainda nos dias de hoje é fonte de grandes debates nas universidades dos Estados Unidos devido ao seu contexto histórico e ao seu legado perdurável.

Com uma narrativa encantadoramente poética, o livro intercala capítulos curtos com outros bastante extensos, porém sem prejudicar a leitura, deixando-a mais lenta ou exaustiva. Ao contrário! Enquanto os capítulos curtos nos dão uma visão mais geral das irregularidades e injustiças vividas durante o período da Depressão na Califórnia, os capítulos longos são exclusivamente voltados à família Joad, nos possibilitando acompanhar suas vidas desde o momento em que deixam a sua vida em Oklahoma, até a sua partida em busca pela promessa de uma vida melhor no Estado Dourado.

E eu tenho que dizer que, acompanhar a vida dos Joad, não é uma tarefa nada fácil. Deixar a sua terra, seu lar, que você conhece tão bem, com todas as lembranças de momentos importantes vividos em família, para mudar para um estado novo que, apesar de falar a mesma língua que você, te trata com tamanha indiferença, preconceito, como se você fosse um estrangeiro. Algo que muito me fez pensar nas migrações que muitos nordestinos brasileiros já vivenciaram, em busca das promessas de melhores oportunidades de trabalho na região sudeste.

Verdade seja dita, mas são em momentos de crise é que nos defrontamos com a triste realidade de que são os nossos iguais, os que na primeira oportunidade irão nos trair. De fato, quando nos vemos diante da necessidade de sobrevivência, é que os nossos instintos primitivos começam a falar mais alto, e, nessas horas, deixamos de lado qualquer ato de humanidade para dar vasão à nossa face mais cruel, egoísta e insensível.

Mas como diz a frase título dessa resenha, só é possível marcarmos um gol, quando recebemos a bola de alguém. De fato, ninguém vence sozinho. Até porque ninguém é uma ilha, que não precisa de mais ninguém. Mas para dar certo, para vencer junto, precisamos estar no mesmo time.

Para mim, essa é uma das mensagens mais tocantes dessa história. E era bonito ver como a família se unia para ajudar uns aos outros a todo custo, mas também se abria em atos de solidariedade aos demais. Os Joad podiam até ser pessoas simples, sem grande instrução, mas sabiam ser gentis. E como bem diz o ditado: gentileza gera gentileza, e assim como eles ajudavam, muitas vezes também eram ajudados.

Aliás, você já reparou como quem menos tem, é quem mais quer ajudar o outro? Porque verdade seja dita, só quem passa por dificuldades é que pode compreender o outro que se encontra nesse lugar. Falamos tanto sobre empatia, mas de fato, enquanto a pessoa não vivencia a realidade do outro, ela tem muita dificuldade de compreender algo que, para ela, é tão estranho.

E essa importância que temos na vida do outro, a ajuda que lhe damos, de fato é uma via de mão dupla, porque não se trata somente de fazer o bem, mas do bem que esse fazer proporciona a nós mesmos. Já reparou que quando você oferece algo a alguém (seja uma ajuda financeira, ou até mesmo aquele dia que você para tudo e dá um pouco de atenção aquele amigo que tanto precisa), a gratidão do outro nos faz sentir uma alegria sem medidas? Você já reparou como nos sentimos mais virtuosos (e até mais satisfeitos) quando damos, do que quando recebemos? É uma sensação tão gostosa, e que deixa o nosso coração tão quentinho, não é mesmo?

A missão da nossa vida não está somente nos bens que adquirimos, ou na posição que alcançamos, os nos aplausos que recebemos, mas no quanto nos colocamos a serviço do outro. Essa é a parte que mais me tocou na vida do Tom Joad, um homem tão cheio de marcas da vida, que mesmo com seu temperamento agressivo sabia como amar e servir a sua família.

E mais bonito ainda foi ver o quanto essas suas dores lhe abriram os olhos para que ele pudesse perceber que sua existência estava além de pertencer a sua família. Foi quando ele se viu completamente sozinho, é que ele percebeu que sua existência não seria nada se ele não pudesse fazer parte do todo. E foi aí que ele decidiu expandir a sua missão de vida para lutar por todos aqueles que assim como ele, eram igualmente injustiçados.

Em um mundo repleto de injustiças, onde as pessoas mais se traem do que se colocam ao lado uma das outras, de que mais pensam em si mesmas do que no fato de que os outros também tem sentimentos e necessidades, que a família Joad vem fazer a diferença, mostrando que a verdadeira beleza está em sermos mais honestos uns com outros, de sermos mais leais àqueles que estão ao nosso lado, e de continuarmos a acreditar na importância (e nobreza!) dos atos de caridade, de bondade, porque assim também se faz justiça.

Partindo dessa leitura com esse bonito senso de família e de solidariedade, eu termino com esse importante diálogo entre a mãe e o Tom Joad, que espero que assim como tocou tão fortemente no meu coração, que nesse momento, também possa tocar o seu:

?? Um dia ele citou um trecho das Escrituras, e a coisa não soava como se fosse mesmo das Escrituras. Duas vezes ele disse o trecho, e eu guardei ele na memória. Diss´que tinha tirado do Livro do Pregador.
? Como era ele, Tom?
? Era assim: ?Melhor é estarem dois juntos que estar um sozinho, porque eles receberão boa recompensa pelo seu trabalho. Se um cair, o outro o erguerá; ai do que está só, porque quando cair não tem quem o levante.? Este é só um pedacinho daquele trecho.?
Joao 24/10/2022minha estante
Preciso ler essa obra. Amo o filme dirigido pelo lendário Jonh Ford e com o mais lendário ainda, Henry Fonda. Quando vejo algo sobre esse universo, só me lembro da música de Bruce Springsteen, "The Ghost of Tom Joad".
Resenha maravilhosa mais uma vez, Flávia.


Joao 24/10/2022minha estante
Flávia, a música reflete exatamente o que você disse. O espírito de Tom Joad tá sempre por aí enquanto houver injustiças sociais. Vou correr atrás do livro porque agora me empolguei mais ainda para ler.


Fabio 24/10/2022minha estante
Resenha maravilhosa, para um livro maravilhoso!
Como este livro tem o poder de nós trazer a reflexão do que se passa em nós e a nossa volta!?
Parabéns pela resenha!


Flávia Menezes 24/10/2022minha estante
Obrigada, Fábio!! Esse livro foi realmente uma leitura riquíssima!! Obrigada, meu querido, por ter me indicado um livro tão icônico! ?


Lu @gentequeamalivros 24/10/2022minha estante
Se eu já li uma resenha mais linda e tocante eu desconheço ??. Enquanto li sua resenha me lembrou Os quatros ventos que tbm retrata essa temática e mostra vários pontos que você pontuou, agora eu já quero fazer essa leitura também ?.


Flávia Menezes 24/10/2022minha estante
Ai, Lu! Que emoção ler as suas palavras. Obrigada mesmo! E esse livro da Kristin Hannah eu preciso mesmo ler urgente!!! Agora a gente troca: eu leio o que você leu, e você se aventura juntinho com os Joad! ??


Paulo 26/12/2022minha estante
Aquela cena do cachorro na estrada não sai da minha cabeça, foi como um mau presságio:(


Flávia Menezes 27/12/2022minha estante
Verdade, Paulo. Foi uma cena bem chocante mesmo.




Lista de Livros 23/12/2013

Lista de Livros: As vinhas da ira, de John Steinbeck
“Quando a gente se acostuma, até o barulho de uma serraria faz falta”.
*
“Eu nunca fiz uma coisa que não tivesse um pouco de pecado”.
*
“Como é que pode se incutir medo num homem que não sente fome apenas em seu estômago, mas também na barriga torturada dos filhos? Não se pode assustar um homem assim... ele já passou por todos os transes.”
*
Mais em:

site: https://listadelivros-doney.blogspot.com.br/2010/09/as-vinhas-da-ira-john-steinbeck.html
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Carolina.Gomes 09/07/2023

O Manifesto de Steinbeck
Caramba!! Como esse livro me pegou!!

Desde as primeiras linhas percebi que Steinbeck me nocautearia.

A história dos Joad, em êxodo, na depressão da década de 30 é de cortar o coração.

Muitas vezes lembrei de vidas secas do Graciliano e senti um nó na garganta.

O que Steinbeck retratou ainda é visto atualmente, embora pareça difícil acreditar que, tantos anos depois, seja tão real.

O aliciamento de mão de obra de trabalhadores, o trabalho em condições análogas a de escravo são aspectos que presencio frequentemente no meu trabalho.

A dor de precisar deixar sua casa em busca de condições de sobrevivência, a necessidade de se submeter a qualquer coisa para ter o que comer são abordados com maestria pelo autor.

Os capítulos que narram a história da família são intercalados com reflexões sobre o capitalismo, a exploração do homem pelo homem, a automação. O autor provocando o leitor.

A mãe é uma das personagens femininas mais fortes que já vi representada na literatura. Não à toa ela é A MÃE.

O pastor Casy também ganhou meu coração por suas reflexões humanas e sua relação com o divino.

Essa leitura me fez pensar na glamourização da vida nos EUA e o sonho de ficar rico ganhando em dólar.

Foi uma leitura forte, que me despertou profundos questionamentos. Compreendo agora porque o livro foi tão censurado e criticado.

Li alguns comentários sobre o exagero na narrativa e discordo. Nada aqui soa piegas. É tudo muito bem colocado e construído para fazer o leitor pensar, questionar suas convicções?

O final é perfeito e impactante. Um livro marcante e inesquecível!
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amandaleu 18/10/2023

Resenha de As Vinhas da Ira
A família Joad foi expulsa de onde morava, pois aquela terra agora pertencia aos bancos que a usariam como meio de lucro após as tempestades de areia. Aqui, acompanhamos a trajetória dos Joad após lerem em um folheto a promessa de trabalho na Califórnia. Em busca dessa terra prometida, onde as casas são belas, há muito trabalho, e até o cheiro e as frutas são diferentes do cheiro e das frutas de Oklahoma, o grupo enfrenta a escassez de recursos básicos dentro de um caminhão improvisado. Se aproveitando do desespero que a fome faz surgir, os proprietários ofereciam trabalho árduo e temporário por um salário ínfimo. Eles sabiam que pessoas assim aceitariam qualquer coisa em prol de sua sobrevivência e da vida daqueles que amam.

Nesta obra, John Steinbeck faz menção ao Dust Bowl (Tigela de Poeira), as grandes tempestades de areia, que atingiram em maior escala os estados americanos de planícies altas como Oklahoma, Texas, Kansas, Novo México, Colorado e Nebraska. O fenômeno provocou secas, pragas e, por consequência, fome.
Steinbeck, como jornalista, também pode acompanhar de perto a situação vivida pelas famílias atingidas não só pelo fenômeno poeirento, como também pela Grande Depressão americana (a quebra da Bolsa de Valores em 1929). Dorothea Lange, fotógrafa, conseguiu captar a população que passava pelos acontecimentos acima. Suas fotos eram sem cor não só pela época, mas o desespero captado naquelas pessoas deixou a vida sem nenhuma aquarela. Após observar a situação, Steinbeck se indignou com o esquecimento dessas pessoas pela grande mídia e achou na escrita de um livro uma forma de gritar a verdade por trás da fama de terra dos sonhos e possibilidades dos Estados Unidos. Acolhido por uma parte da sociedade e muito criticado por outra, a cortina aberta pelo escritor fez com que algumas coisas fossem modificadas em prol das pessoas que sofriam tais mazelas. O efeito poderia ter sido maior, mas no mesmo ano em que o autor publica sua obra, estoura a Segunda Guerra Mundial.
Um dos pontos mais interessantes foram as 'sutis' comparações bíblicas ao pentateuco: muitas pessoas peregrinam atrás de Canaã (Califórnia), uma terra que mana leite e mel (o trabalho, as frutas, a comida), após serem perseguidas pelo Faraó (os grandes proprietários) por ser forte o povo hebreu (Okies), podendo se rebelar e causar algum tipo de mudança nas estruturas hierárquicas. Já o título do livro é o próprio capítulo 14 de Apocalipse, em especial os versículos 18 a 20, onde Deus, em sua vinda, lança sua foice e colhe os cachos da vinha da terra, as uvas maduras (os pobres e oprimidos); e os ímpios (algozes) são pisoteados no lagar da ira de Deus.

Livro publicado em 1939, rendeu um Nobel de literatura ao escritor e foi adaptado para as telas em 1940. Dirigido por John Ford e estrelado por Henry Fonda (pai de Jane Fonda) como Tom Joad, Ford ganhou um Oscar pelo filme 'As Vinhas da Ira', se tornando um clássico atemporal.
Fabio 20/10/2023minha estante
Uau, que belíssima resenha!
Parabéns!


amandaleu 20/10/2023minha estante
Obrigada, Fábio! E vc tinha razão, é um livraço!!


#Caju 20/10/2023minha estante
P q vc deu 3 estrelas para Os suicídas do R. MONTES?


amandaleu 20/10/2023minha estante
Amg, eu amo os livros do Rapha, mas eu tenho algumas opiniões polêmicas sobre a forma com que ele aborda alguns assuntos. Eu fiz uma resenha sobre Suicidas, depois vc dá uma olhada. Mas basicamente eu sinto que ele é ótimo ao criar personagens detestáveis e acho que ele tá certo, porém em algumas ocasiões me parece que ele repete esses mesmos personagens nos seus outros livros. Fora que ele não sai daquele eixo Rio de Janeiro Zona sul, e os personagens parecem mais ainda serem os mesmos, sabe? E algumas falhas de caráter dos seus personagens se perdem muito, porque às vezes eu não sei se é o personagem que é escroto mesmo, ou se em parte é uma crítica velada do Raphael a alguns grupos específicos. Mas Jantar Secreto é maravilhoso, cinco estrelas e favoritado!


#Caju 20/10/2023minha estante
Blz então. Entendi bem entendido! Hahaha...Bem pertinentes suas ponderações! Gostei! Eu só li dele O Vilarejo e Uma mulher no escuro e gostei demais dos 2.


amandaleu 20/10/2023minha estante
Olha, Ju, recomendo super Jantar Secreto. Dias Perfeitos tb. Ainda não li Uma mulher no escuro, mas acho que vai ser a próxima história dele que eu lerei, marquei pra 2024 se não me engano. O Vilarejo é tão macabro que eu me senti até culpada por ter gostado tanto. Kkkkkk




Francisco 16/10/2022

Uma epopéia sobre a luta de classes
Quando a família Joad é destituída de sua propriedade nos campos de algodão do Oklahoma onde eram meeiros, são forçados a migrarem para a Califórnia em busca de trabalho em uma longa e penosa viagem pela famigerada Rota 66.

A esperança dos Joad por uma vida melhor onde suas necessidades básicas são satisfeitas ao longo de toda a história nos faz de alguma forma torcer para que tudo dê certo, embora o final nos dê uma certa "abertura" para nos perguntar: "Será que os Joad conseguiram?".

Como em todas as obras de Steinbeck que li, todos os personagens são solidamente construídos: Tom com seu estigma de ter estado recluso, Rosa de Sharon com sua gravidez e seus sonhos de um futuro melhor com Connie e a Sra. Joad com todo o seu exemplo de uma mulher enérgica e de fibra. Esta última com certeza é a que mais me marcou.

Assim como em Germinal, de Zola aqui encontramos o retrato da luta entre classes e mais especificamente a luta da classe operária, tão bem retratada na metáfora da tartaruga atravessando a estrada no início do livro. Além disso, Steinbeck nos apresenta um retrato fiel do estado das comunidades rurais americanas durante a Grande Depressão decorrente da quebra da Bolsa de Nova York em 1929, com o êxodo rural, o surgimento das comunidades de Hoovervilles em todo o país e o inerente lucro do Estado na exploração de classes operárias por classes exploradoras, uma "Guerra de todos contra todos", conforme afirmaria Hobbes. Tudo isso era muito recente quando o livro em questão foi publicado e talvez por essa razão tenha provocado tantas polêmicas.

Outra apologia aqui deixada por Steinbeck é a de que "somos mais fortes juntos", o coletivismo a todo momento reforçado pelo comportamento da Sra. Joad que sempre busca manter sua família reunida apesar de todos os percalços.

A escrita do autor é bastante apurada, a qual sou acostumado e aprecio bastante. Além disso, nos traz muitas reflexões sociais em muitos problemas que persistem na sociedade contemporânea tais como a alarmante desigualdade social e a marginalização das classes inferiores por parte de alguns indivíduos e até mesmo por parte de autoridades (como no caso das forças policiais ao longo de inúmeras passagens do livro). Sem dúvida é uma obra prima que merece ser lida.
Flávia Menezes 16/10/2022minha estante
Você já terminou!!! Já que eu te alcanço, Francisco. E daí vou voltar aqui, pra ler sua resenha.


Francisco 16/10/2022minha estante
Gostei tanto que consegui ler de forma relativamente rápida. Flávia, fiquei com pena dos Joad o livro inteiro. Estou ansioso para ver sua opinião a respeito do livro. ;)


Flávia Menezes 16/10/2022minha estante
Ai?Francisco eu já estou preparada pra sofrer viu? Mas logo logo eu termino também, porque é mesmo um livro bem gostoso de ler, apesar de todo o sofrimento.


Francisco 16/10/2022minha estante
Também me preparei desde o início, mas é ainda assim e muito difícil porque as situações são muito tristes. Mas a mensagem do autor nesses nesses sofrimentos é muito importante.




Camila Borges 21/08/2020

Intenso
Nunca li descrições tão vívidas e tão chocantes. É quase possível sentir a fome, a agonia, o desamparo, a vontade de uma família de encontrar um lugar sob o sol, uma terra que possa chamar de sua novamente. Ao mesmo tempo que Steinbeck está focando em contar a história dos Joad, a partir dela ficamos sabendo sobre a realidade de muitas outras famílias. Muitos hectares de terra nas mãos de poucos, que oferecem um salário ínfimo, que os trabalhadores tinham que aceitar porque não podiam deixar a família passar fome. Me emocionei muito com essa história, com cada um dos personagens, é uma jornada mas vale muito a pena!!!
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