Paulo Sousa 04/04/2018
Sobre o homem sem nome
Livro lido 1°/Abr//16°/2018 - Releitura
Título: Lisboa
Autor: J. R. Duran
Editora: W11 Editores (Selo Francis)
Ano desta edição: 2002
Páginas: 103
Classificação: ????????
_______________________________________________
Há uma grande expectativa ao reler autores, um sentimento de temeridade por correr o risco de uma decepção no hoje por um livro que foi amado quando lido no ontem.
.
Mas me reencontrar nas páginas do romance de estreia do escritor e fotógrafo mundialmente conhecido J. R. Duran foi um prazer revivido há quase uma década que o li, depois de comprá-lo por uma ninharia na última bienal de Salvador que tenho conhecimento.
.
Sempre tive simpatia pelos personagens perdidos dos livros. O Werther de Goete, o Dantès de Dumas, Carlos e Ega de Os Maias, personagens que se perderam, acabaram reféns dd sonhos brutalmente interrompidos pela vida e pelo destino. E este Lisboa é uma tremenda prova de mais um personagem perdido, um "sentimental se fingindo de cínico, um iludido sobre si mesmo, e que pensa usar as pessoas mas que é usado por elas".
.
Só que ele não tem nome, não sabemos qual sua profissão. Apenas que numa ocasião fortuita em que viajaria a negócios, resolve mudar os planos em cima da hora, movido por recordações de uma estada já antiga em Lisboa. Errante pelas ruas lisboetas, ele é o típico cidadão do mundo, bastante rodado, se refestelando em sua cultura, mas na verdade finge não ter raízes, origem.
.
Isso porque essa sua busca pela volatilidade dos encontros, pela simplificação de suas marcas deixadas, são, ao invés, o anseio por reencontrar a sua razão de existir, materializado na forma do grands amor que o persegue em lembranças e por quartos de hotéis pelo mundo.
.
J. R. Duran consegue captar, nessas curtas páginas, o homem tipicamente urbano: aquele que busca viver na penumbra dos cenários, sempre um coadjuvante que procura viver dos restos existenciais de outras pessoas. É ali que vê sua medíocre existência tomar corpo, até que um novo destino, trazido pelo ocaso, o impulsione.
.
Melhor mesmo é poder reencontrar em releituras o mesmo enlevo sentido quando da alegria trazida pelo primeiro encontro!