nerito 19/12/2023
Uma homenagem à infância antiga
Imagine um menino que o que tem de inocente, tem de travesso. Pois assim é Nicolau. Agitado, ingênuo e um pouco inconsequente, o menino se envolve em diversas confusões com seus amigos, principalmente o Alceu. Esse é o enredo de "O Pequeno Nicolau", de Sempé e Goscinny, com tradução de Luís Lorenzo Rivera e publicação pela Editora Martins Fontes.
O livro trata de pequenos episódios da vida do menino Nicolau. Uma criança como qualquer outra, que não se priva de chorar quando deseja e tem como maior vontade a diversão. São episódios cotidianos sem relação cronológica entre si, podendo ser lidos separadamente. Tanto que as crianças são apresentadas novamente a cada capítulo.
São muitas as confusões aprontadas por Nicolau e seus amigos. Cada um tem características bem marcadas pelo menino, que é também o narrador. Alceu come o tempo todo. Maximiliano tem as pernas compridas e é bom na corrida. Godofredo tem o pai muito rico e por isso aparece sempre com as melhores fantasias. Agnaldo é o primeiro da classe e o queridinho da professora. Por isso, todos querem bater nele, mas não podem, pois ele usa óculos. Rufino vive com um apito, pois seu pai é policial Clotário é sempre o último da classe. Eudes é grande e forte e adora distribuir socos nos narizes dos colegas.
O livro é muito gostoso de ler e também engraçado, com ótimas tiradas de humor, sempre contrapondo o mundo adulto com o mundo da infância. Trata-se de uma infância alegre e inocente, extremamente idealizada, mas que não deixa de ter o seu charme.
Por falar em charme, essa é principal característica de Nicolau. Ele é de fato um narrador encantador. Talvez este encanto esteja justamente na sua falta de malícia, o que nos aproxima dele e nos faz apreciá-lo. Nicolau é simples, apesar das ambições de, ao crescer, ser rico, ter um carro, um avião e deixar todos impressionados.
Os desenhos são de Sempé, o mesmo criador de Marcelino Pedregulho, com traços cartunescos bem característicos, de formas angulosas marcantes e bem definidas, mostrando o cotidiano de uma época francesa em que as escolas de meninas e meninos eram separadas, fotografias eram tiradas por câmeras gigantescas e o futebol era jogado em terrenos abandonados, com sucatas de carros espalhados por todo lado.
Existe um aspecto que me desagradou no livro, que é a marcação exagerada em relação á obesidade de Alceu e sua compulsão por comer. Essa estrutura narrativa é utilizada como elemento cômico muito datado. Apesar desse estereótipo, Alceu aparece como uma criança comum e até um pouco mais travessa que as outras.
Outro personagem que merece destaque é o Agnaldo, por sua caricaturização. Trata-se de um garoto precoce tanto em livros quanto no conhecimento. Porém, ele é como uma miniatura de vilão, sempre entregando os colegas em com isso sendo constantemente chamado de "traidor sujo".
Apesar desses elementos que considerei controversos, pude me divertir bastante com o livro. Acompanhar as aventuras do pequeno Nicolau foi também um nostálgico mergulho na minha infância. Eu me senti rejuvenescido e como que revivendo os episódios pitorescos e memoráveis da época em que eu era criança.
Com desenhos de muita personalidade e narrativas muito divertidas, "O pequeno Nicolau" é uma leitura imperdível, uma deliciosa jornada recomendada para crianças de todas as idades.
site: https://www.oguardiaodehistorias.com.br/2023/11/o-pequeno-nicolau-uma-homenagem.html