F. Pierantoni 15/01/2012Numbers Tempo de FugaMuitos meses antes de sua chegada ao Brasil, eu já conhecia Numbers (Rachel Ward). Foi por acaso, pela internet. A sinopse me atraiu de cara, e sabia que compraria aquele livro no dia que o encontrasse numa estante. E assim cumpri minha promessa, quando descobri a edição nacional publicada pela iD Editora. A primeira impressão foi das melhores produção gráfica exemplar, cheia de cuidados com o design e a diagramação. Com certeza é um dos livros mais bonitos da minha coleção. Pena que é também um dos piores.
Vamos à história. Jem tem mais problemas do que uma adolescente comum. Não é por causa do passado triste, da infância confusa e dos lares de adoção. É porque ela sabe quando todos vão morrer. Basta mirar-lhe nos olhos e os números surgem na sua mente. Sua data de morte.
A premissa é ótima. Pode não ser das mais originais, mas é intrigante mesmo assim. Consigo pensar em meia dúzia de tramas a se desenrolar a partir dela. Mas Numbers Tempo de Fuga não segue nenhuma. Numbers não dá a mínima para a própria premissa.
Jem e seu amigo delinquente, Spider, presenciam um atentado terrorista à roda-gigante London Eye. Os dois fogem, com medo E são perseguidos pelo governo britânico. Sim. Esse é o enredo. As forças inglesas mobilizam todos seus policiais, helicópteros vasculham os céus, todo o país é posto em alerta Só porque um par de câmeras capturou dois adolescentes correndo de maneira suspeita.
Durante a desmiolada perseguição, Jem e Spider passam pelas situações mais bobas, óbvias e estapafúrdias tudo sob as palavras de uma narração infantil e cansativa. Tentando dar à trama um tempero hardcore, a autora abusa de palavrões, cigarros, drogas e nojeiras, porém tudo o que consegue é deixar o livro mais intragável. Há também um suposto discurso político a favor das minorias, que desanda sob argumentos pífios e vazios.
Vazios são também os personagens. Há quem diga que Bella Swan de Crepúsculo é chata e desinteressante. Ela não é nada se comparada a Jem. Imagine as consequências da capacidade de ler as datas de morte das pessoas. Imagine os conflitos morais que isso envolveria. Imagine as possibilidades de construção de um personagem literário E tudo que Rachel Ward conseguiu criar foi uma guria rabugenta e burra. Burra como seu amigo Spider. Burra como todos os outros personagens da história.
Numbers Tempo de Fuga é uma decepção. Não conheço Rachel Ward, mas a imagino como uma inglesa de boa vida, que resolveu escrever sob o submundo londrino sem nenhuma experiência, nenhuma prática, e sem sair do conforto de sua casa. O resultado é um show de cenas absurdas, estereótipos e personagens de papel, sob o formato de um livro que não recomendaria a ninguém.
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