Jacques.Bourlegat 09/04/2022
O cavaleiro inexistente
Expressão de uma fabulosa interpretação do real, para a qual não podemos ficar indiferentes. O cavaleiro inexistente descreve como deve se portar um cavaleiro perfeito. Tão perfeito que não existe! De fato, a perfeição é somente um conceito e não se pode alcançá-la.
No entanto, é uma realidade que se faz presente na tentativa de ser perfeita!
O personagem é surreal até mesmo em seu nome, "Agilulfo Emo Bertrandino dos Guildiverni e dos Altri de Corbentraz e Dura, cavaleiro de Selimpia Citeriori e Fez!".
Ele aparece diante de Carlos Magno em uma armadura toda branca, alva, bem conservada, sem um risco, " encimada no elmo por um penacho de sabe-se lá que raça de galo oriental". O ridículo da perfeição desse cavaleiro lembra sem dúvida o ridículo da imperfeição de Dom Quixote. Os dois personagens acreditavam ser cavaleiros reais.
Italo Calvino nos conta uma aventura nos moldes da cavalaria, pautado nas regras de conduta pelas quais buscam glória e honra.
E, podemos ler, entre as linhas, algumas críticas, veladas de conformismo pelos personagens oprimidos, sobre a conduta de tais cavaleiros que obram em nome de reis, sacerdotes e até mesmo do próprio Deus: abusam de seu poder e desvirtuam as regras supostamente invioláveis, sob falsas retóricas de redenção e perfeição.
No final do livro só posso concordar: o Cavaleiro inexistente é perfeito!