Matheus.Correa 09/01/2024
A busca por quem somos é longa e empática
"Das fileiras de lúpulo e das sebes pulavam aldeões armados com forcados, foices e podadeiras, tentando cortar-lhes a passagem. Mas pouco puderam contra as lanças inexoráveis dos cavaleiros. Superadas as linhas desfeitas dos defensores, eles se lançaram com os pesados cavalos de guerra contra as cabanas de pedra, palha e barro, destruindo-as sob os cascos, surdos aos gritos das mulheres, dos vitelos e das crianças. Outros cavaleiros seguravam tochas acesas e ateavam fogo nos tetos, nos depósitos de feno, nas estrebarias, nos celeiros miseráveis, até que as aldeias ficassem reduzidas a fogueiras que eram só gritos e prantos. Torrismundo, arrastado pela corrida dos cavaleiros, estava transtornado. ? Alguém me diga, por quê? ? gritava para o ancião, indo atrás dele, como se fosse o único que podia ouvi-lo. ? Então não é verdade que estejam cheios de amor pelo todo! Ei! atenção, estão atacando aquela velha! Como têm coragem de investir sobre restos humanos? Socorro, as chamas atingem aquele berço! Mas o que estão fazendo? ? Não queira interferir nos desígnios do Graal, noviço! ? advertiu o ancião. ? Não somos nós quem faz isso; é o Graal, que está em nós, que nos move! Entregue-se ao seu amor furioso! Mas Torrismundo descera da sela, preparava-se para socorrer uma mãe, devolver-lhe aos braços uma criança caída." - Essa cena, envolvendo Torrismundo, um dos personagens desse livro, admite um mundo de pessoas pobres que são usurpadas por homens que se dizem a serviço de algo maior que eles, me pergunto, por que o prato da insensibilidade é sempre vinculada a uma verdade? As pessoas se corrompem por crenças que nem ao menos elas se dão conta. E o livro é sobre isso, sobre uma armadura vazia que salva mulheres, sobre um cavaleiro inexistente que é modesto e corajoso, que ninguém consegue enxergar seus olhos e ao se deparar com a sua face, apenas presencia a armadura branca gelada. Torrismundo, por sua vez é o personagem que busca substância em seu interior, busca a si em uma jornada longa e empática. Ao saber sobre seu pai, que fazia parte dos cavaleiros do santo graal, ele decide se juntar, mas ao se deparar com aquele homens cruéis, ele não se encontra. O vazio está ali, sua jornada não havia chegado ao ponto em que gostaria, porque a narrativa nos conduz em uma vida tipicamente humana. Italo Calvino, em sua realidade fantástica, induz à reflexões sobre o eu e a aventura de sempre se estar vazio, os outros percebendo ou não.