Manuela 25/09/2021O coração é um caçador solitário estava em minha estante há algum tempo, desde quando enviado pela TAG, se não me engano em 2018. Revisitei a estante e a capa bonita me chamou atenção.
Fui nele.
Se passa em uma cidadezinha do interior do sul dos Estados Unidos, por volta de 1930. No contexto histórico temos a pós-Grande Depressão, uma pré Grande Guerra, e a segregação racial.
Em uma narrativa em terceira pessoa, Carson vai contando a relação entre Singer - o surdo que, após a internação do amigo/companheiro também deficiente auditivo, vai morar em um quarto alugado em uma casa de família - e os demais, sendo eles a jovem Mick, o médico Copeland, o dono do restaurante Branon e o militante pelos direitos dos trabalhadores - talvez? - Blount.
A única coisa que liga esses quatros é Singer que se torna uma espécie de lugar de escuta - ou de desabafo - de cada um deles.
É curioso tentar costurar a relação de cada um e até que ponto Singer está, de fato, inteiro naquelas trocas: se é que se pode falar em troca efetiva. Há um endeusamento da figura desse solitário que, apesar dos amigos incomuns, nitidamente continua se sentindo sozinho e com saudades do companheiro Antonapoulos.
Me senti cativada pela escrita; imersa na narrativa, nos cenários, nas contradições e problemáticas apresentadas pelos personagens. Não há simplicidade na escrita de Carson e, em certo ponto, passei a compreender a obsessão de todos por Singer - e talvez ficar um pouco obcecada também.
Confesso que há espaço para o choro. Estejam preparados.
Vale muito, muito a leitura.