emanuel.dearauj 28/05/2015
Uma Médica Confusa
Antes tudo, preciso avisar que não estou considerando princípios morais e éticos ao dar essa nota ao livro, penso que eu não precise explicar o porquê, mas mesmo assim explicarei para haver menos problemas quanto a questão: os tipos de aborto mostrados no livro não são aceitos por militantes pró-aborto brasileiros pois eles creem que o aborto pode ser feito até o segundo mês de gestação, e que depois disso qualquer prática abortiva pode comparar-se ao infanticídio, e eu sou um pró-vida e tenho orgulho de ser contra o aborto.
Dra. Cole é uma médica clínica geral que também é formada em direito e ministra aulas em uma faculdade de medicina sobre acidentes de trabalho e processos jurídicos que isso pode acarretar, ela se vê em um cenário um tanto sem sal. Seu casamento está indo mal, ela trabalha demais e tem pouco tempo para ela, e mesmo assim por conta de acreditar no "direito da mulher sobre seu próprio corpo" trabalha em uma clínica de aborto nas quintas-feiras apesar de não gostar dos procedimentos. Com o tempo acaba se separando e se cansando da rotina e decide montar uma clínica no interior, assim seguindo uma certa tradição que muitos Cole tinham seguido: a de serem médicos rurais.
O primeiro problema que ocorre na narrativa é que Noah Gordon parece prometer muito no começo com uma mensagem sobre a descaracterização do papel do médico, e realmente é possível verificar que ele tenta mostrar isso em algumas raras citações, creio que a existência das clínicas de aborto na trama poderiam ser cruciais para demonstrar a descaracterização e o problema de agora além do médico ser responsável pela vida, é também responsável pela morte (também era esperado que tocassem no assunto de eutanasia, porém ele é tocado de maneira tão tímida e curta que nem é notado), então claramente, o assunto da descaracterização da área médica é deixado em último plano
O segundo problema ocorre com os personagens em si, infelizmente Noah Gordon não deu uma personalidade interessante os personagens, salvo raras exceções como Sarah e David, os personagens não demonstram carisma e alguns eventos ocorrem com Sarah e David acabam sendo tão prematuros que não se é capaz de captar os sentimentos decorrentes na situação. A própria Dra. Cole parece não ter uma personalidade bem definida, e tudo acaba sendo definido em atos, não na personalidade.
O terceiro problema ocorre nos acontecimentos e descrições das personagens. As personagens muitas vezes são descritas de forma tão fraca que não é possível imaginar a cena em sua mente, descrições mal feitas com palavras ambíguas como "sexy" e coisas do gênero acabam tirando boa parte da graça da narrativa que raramente tem algum valor poético de tal forma que seja possível mergulhar na história e adorá-la, tudo está lá e é isso. Além disso, os acontecimentos parecem ser muito aleatórios, não existe um foco na vida de R.J., que poderia ser uma personagem muito bem interessante caso fosse melhor explorada e não existe uma emoção forte que te prenda (salvo em raros casos que não duram mais de duas páginas) e a narrativa é muito fraca (isso desconsiderando as outras obras do autor, pois ele é um ótimo escritor e não preciso citar obras mil vezes superiores a essa do mesmo autor, caso seja consideradas as outras obras e faça uma comparação, o livro é muito inferior ao que se espera dele),
Agora comecemos pelo único ponto positivo do livro: Ele nos faz entender o contexto histórico do cenário médico dos EUA no final do século XX, a descrição geralmente é uma porcaria, porém é possível ter alguma base, e não se deve desqualificá-lo como literatura histórica (apesar de ser um livro que mostre um mundo um tanto atual) e é interessante para entender como o povo dos EUA (principalmente os pró-aborto) pensavam e viviam com essa questão.
Finalizando: O livro é desinteressante, frustrante (por se esperar muito e vir nada em contrapartida), muitas vezes maçante (cheguei a parar de lê-lo duas vezes e me forcei a terminar o resto), com personagens nada carismáticos (às vezes parecem mais robôs do que gente) e uma personagem principal que não é interessante. Eu não recomendaria a leitura de tal livro e creio que seja bem compreensível o porquê de ser a ovelha negra da trilogia da família Cole.